Um porta contentores que ardeu ao largo do Sri Lanka nos últimos 13 dias – e que transportava centenas de toneladas de combustível e plástico, mais 25 toneladas de ácido nítrico, bem como outras substâncias perigosas, incluindo soda cáustica, metano e metóxido de sódio – está em risco de afundar, agravando um dos piores desastres ambientais na história do país, alertou a marinha cingalesa, esta quarta-feira. As praias maravilhosas desta ilha-nação já foram inundadas com os restos do plástico a bordo do MV X-Press Pearl, registado em Singapura e propriedade da X-Press Feeders, e agora tudo parece prestes a piorar.
O porta contentores ainda deitava fumo negro e espesso nesta quarta-feira à tarde, mesmo com o fogo apagado, enquanto a sua popa está cada vez mais submersa. É que os próprios esforços para apagar o incêndio, com navios de uma empresa de resgate holandesa a bombear água sobre o MV X-Press Pearl aumentaram o risco de o afundar, explicaram as autoridades. “Muita dessa água ficou presa na popa, que desceu um metro”, salientou uma fonte envolvida na operação de resgate à France Press. “Nós não podemos bombear essa água porque está contaminada com combustível”.
Prevendo um desastre ainda pior, o Presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, já ordenou que o MV X-Press Pearl seja rebocado do local, ao largo do porto de Colombo, para alto mar, para minimizar os estragos costeiros de mais derrame de químicos.
No entanto, os receios continuam a ser enormes. Afinal, falamos de um dos países mais biodiversos da Ásia, onde peixes mortos já começaram a dar à costa em massa, obrigando à suspensão de toda a pesca numa faixa de 80 km. E as praias de areia dourada do Sri Lanka, tão apreciadas por turistas de todo o mundo, acabaram brancas, como que escondidas sob um manto de neve, debaixo das 78 toneladas de bolinhas de plástico – ou nurdles, usados como matéria-prima para produção de outros produtos de plástico – que iam abordo do MV X-Press Pearl, segundo agência noticiosa ambiental Mongabay. Em vez de turistas, estão cheias de militares com fatos de proteção a tentar limpá-las
“Nunca vi nada como isto antes”, contou Dinesh Wijayasinghe, de 47 anos, empregado de hotel na cidade costeira de Negombo, cuja economia vive sobretudo do turismo e pesca, ao New York Times. “Quando vi isto, há uns três ou quatro dias, a praia estava coberta destas bolinhas. Pareciam olhos de peixe”.
Para já, não se sabe exatamente que impactos ambientais esperar do derrame de químicos tão tóxicos e diversos como os que iam abordo do MV X-Press Pearl, mas o Governo cingalês já pediu à Austrália que auxiliasse na investigação.
A expectativa é que a maré de nurdles só piore a situação – estes pedaços de plástico podem absorver químicos ao longo do tempo, contaminando as espécies marinhas que os ingerem e, consequentemente, a cadeia alimentar.
A situação consegue ser ainda mais agravada pela pandemia, e pelo confinamento em vigor no Sri Lanka, que dificultou as operações de limpeza. “Está a ser difícil mobilizar quaisquer voluntários”, admitiu Muditha Katuwawala, da ONG de proteção do meio marinho Pearl Protectors, ao Washington Post. “É, de longe, o pior desastre ambiental marítimo na nossa região”.
Entretanto, três tripulantes do MV X-Press Pearl, incluíndo o capitão e o engenheiro-chefe, ambos cidadãos russos, foram interrogados e detidos preventivamente, anunciaram as autoridades cingalesas.