Acha que nesta situação deveriam ter ficado melhor salvaguardados os direitos de autor?
Nós estamos num país sem lei, no que concerne a arquitetura isto não tem lei. É um salve-se quem puder. O “genial” Vieira da Silva comprou à Caixa Geral de Depósitos o meu edifício que era o antigo BNU [edifício célebre em forma de guitarra, na esquina da avenida de Berna com a 5 de outubro]. Comprou esse edifício para instalar lá os serviços sociais, ou seja, “n” estruturas que o Ministério tinha espalhadas por Lisboa. Falei com ele, e disse-me: “Sim senhor, vou enviar-lhe os projetos.” Nunca enviou e depois, não contente com isso, destruíram o edifício todo por dentro, fizeram o que lhes apeteceu. Vão instalar, ou já estão a instalar, dezenas de serviços do Ministério da Segurança Social. É assim… Eu lamento é que de facto, neste país, existam ministros tão “abandalhados” que entrem estes processos… Para quê? Para serem os amigos a fazerem os projetos? Não sei quem fez o projeto, nem me interessa. O que me interessa é a atitude de um ministro que toda a gente diz que é “o que manda nos empregos do Partido Socialista”, põe e dispõe e faz o que quer e bem lhe apetece… Quando um ministro faz isso, eu vou querer “entrar” com o Mateus?
Neste caso da marquise, que leitura faz?
Eu só acho absurdo ele [José Mateus] estar muito irritado por o Cristiano Ronaldo ter feito uma “marquise” para treinar. Estamos a falar de um dos maiores atletas do mundo que fez uma coisa para valorizar a sua propriedade. As pessoas fazem marquises para valorizar as propriedades, para conquistar mais espaço, para pôr uma cama, por vir aí mais um filho, etc. Lisboa inteira tem 90% dos edifícios com marquises e o Mateus, como é o Cristiano Ronaldo, está a aproveitar-se da sua fama, para se pôr em bicos de pés. Agora toda a gente fala no Mateus, mas ninguém sabe quem é. Isto é absolutamente miserável. Um indivíduo eticamente correto, o que é que fazia? “Ó Cristiano Ronaldo, vamos lá legalizar isto. Dá cá o projeto, nós assinamos e vamos tratar desse assunto”. Até porque ninguém vê aquela marquise.
Afinal de contas, podem ou não as pessoas mexer nas obras arquitetónicas dos outros?
O José Mateus alterou o centro comercial das Amoreiras de uma forma miserável. As torres das Amoreiras têm sido alteradas diariamente e a lei permite que qualquer arquiteto vá mexer nas obras dos outros. Eticamente é absolutamente condenável, mas de um ponto de vista efetivo e legal é possível. Podem partir, podem estropiar, podem fazer o que quiserem. Eu, por exemplo, não o faço. Recuso-me a pegar noutro projeto que seja de outro arquiteto.
Mas o José Mateus afirma não ter tido qualquer ligação com a requalificação das Amoreiras…
Eu estou a falar do centro comercial das Amoreiras. Ele pode continuar a desmentir, mas foram os responsáveis do centro comercial que me disseram. É mentira? Então quem é que foi? Os Aires Mateus não precisam desse trabalho. São milionários, têm 300 mil projetos e não precisam de estar a mexer no projeto das Amoreiras. Tem o valor que tem. E se partiram tudo também me é indiferente. Agora, quem comete esse tipo de ação não pode chatear os outros porque “tocaram num cabelo” do projeto dele.