Completa este sábado, dia 5 de junho, 35 anos de idade. Destes, conta já com 14 em Inglaterra, para onde viajou com 21, depois de uma conversa com um tio, que lhe disse que seria uma boa opção, principalmente tendo em conta a sua área de interesse.
Francisco Gomes terminou o curso de Produção e Marketing de eventos na Restart [Instituto de Criatividade, Artes e Novas Tecnologias], em Lisboa, e decidiu depois investir novamente na sua educação. Assim, em 2007 foi estudar para a Universidade em Ipswich, a cerca de uma hora e meia de Londres.
Chegou sozinho, mas rapidamente as oportunidades começaram a surgir e, a partir de 2009, começou a trabalhar como diretor de marketing e gestor de eventos em private members clubs, discotecas e restaurantes. «Trabalhei muito na área de ‘night life’, a gerir muitas discotecas, restaurantes, bares… Trabalhei para vários espaços durante muito tempo, até ao início de 2018. O club Bodo’s Schloss – alpine ski chalet foi onde estive durante mais tempo», recorda.
Quando há mais de uma década os pais foram deixá-lo ao aeroporto não poderiam imaginar o tempo que Francisco iria ficar por lá. Nem mesmo o então jovem poderia responder: «Quando fui para Inglaterra, claro que sabia que o curso eram três anos, mas nunca pensei como seria depois, o processo de ir ficando… foi porque surgiram oportunidades, foi tudo muito natural», admite. «Na minha área, aqui há uma variedade muito maior nos vários tipos de eventos, com escalas muito maiores», acrescenta.
Uma década de ‘night life’
Francisco recorda os tempos em que trabalhou em private members clubs, espaços privados em que uma pessoa tem que ser membro para entrar e trazer os amigos. «São clubes mais pequenos, com 300/400 pessoas. Comecei a trabalhar na noite em maio de 2009, mas, hoje, as pessoas começam a noite as 23:30/00h, a essa hora a fila das discotecas está enorme, porque também fecha às 03h. Acho que é das principais diferenças para a noite em Portugal, que termina muito mais tarde, mas penso que a covid também vai trazer alterações nesse sentido», adianta. Com a noite, vêm também as histórias e as memórias de com quem se cruzou.
«Nestes members clubs as pessoas pagam um mínimo obrigatório. Basicamente, o conceito da mesa depende das noites, começa nas 500 libras, mas â sexta-feira e ao sábado o valor mínimo já pode ficar estabelecido nas 1000 libras, varia», conta.
Enquanto revive e partilha o que foi experienciando, enumera algumas das personalidades com quem se foi cruzando ao longo daquela década: Pamela Anderson, Príncipe Harry, Bruno Mars, CeeLo Green, Bob Sinclair, David Guetta, os filhos de David Beckham, «epa, tantas…». «O cliente que mais gastou, que eu tenha presenciado, foi um jogador de póker profissional, o norte-americano Don Johnson, só numa noite foram 176 mil libras (200 mil euros)», revela.
Enquanto diretor de marketing e gestor de eventos, parte do trabalho também passa por tentar atrair para estes clubes personalidades que saibam que vão passar por Londres. Mas nem sempre isso é preciso, como o lisboeta exemplifica logo de seguida. «Aconteceu numa das discotecas, em Park Lane, o agente do Leonardo DiCaprio contactou-nos para ter um privado só para ele».
Durante este tempo, integrou ainda outro tipo de eventos, como a equipa de produção da cerimónia de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres, fez o Queen’s Jubilee [cerimónia de celebração da coroação da Rainha Isabel II], além de trabalhos para a Fórmula 1, para a McLaren, nas corridas à volta da Europa.
1.º evento desde a pandemia
Desde 2018 a trabalhar por conta própria com DJ’s e produção de eventos, Francisco recorda as dificuldades do último ano, sobretudo neste setor. «Este último ano foi bastante complicado. Foi um ano em que as coisas pararam completamente. O único evento que realizámos foi com o grupo Pacha – em Ibiza – via Zoom, com DJ’s do mundo inteiro».
Por estes dias, Francisco encontra-se a preparar o seu primeiro evento pós-covid, um festival construído com base nos tempos em que vivemos: será o primeiro evento ‘Social Distance Festival’ em Inglaterra, agendado para os próximos dia 11, 12 e 13, numa casa de campo com 200 mil hectares em Bedford.
O conceito do The Estate Festival é simples: «Em vez de termos a multidão à frente do palco, as pessoas têm que vir em grupos de 6 e, basicamente, é como se uma pessoa fosse a uma discoteca e comprasse a sua mesa», esclarece. «Cada grupo está na sua mesa. A partir do telemóvel têm acesso a uma aplicação, onde podem pedir bebidas e comida – mas claro que as pessoas podem sair para ir à casa de banho», brinca. Para quem optar por ficar os três dias, «há o glamping, onde podem ficar a dormir».
Regresso a Portugal
Voltar a Portugal não está nos planos imediatos, mas num futuro próximo, assegura Francisco. «Inglaterra, para mim, não é para formar família, gostava de voltar para Portugal, onde também quero construir o meu próprio espaço – já há tantos anos que trabalho na indústria… Comecei muito novo, desde os 15 anos que fazia festas em Lisboa e Cascais, de Norte a Sul do País, levava o equipamento no carro do meu pai…», revive.
«Portugal é melhor para formar família, temos mais espaço, praia, sol, o apoio da família, e isso é muito importante. Quando levei a minha namorada – é inglesa e já viveu em vários sítios – pela primeira vez a Portugal perguntou-me logo: ‘Por que não vives aqui??’ Há dois anos que me pede para irmos para Portugal. Adora o nosso país e o nosso vinho», diz.