Lisboa só deverá avançar no desconfinamento em julho

Capital tem a situação mais complexa. Fica para trás no desconfinamento junto com Braga , Odemira e Vale de Cambra e, atingindo o pico na próxima semana, o que não é certo, descida será lenta, antecipa investigador. 

Quatro concelhos não vão avançar para a próxima etapa de desconfinamento: Lisboa, Braga, Odemira e Vale de Cambra. A decisão, que assentou nos critérios anunciados na semana passada pelo Governo (terem mais de 120 ou 240 casos por 100 mil habitantes no caso de municípios pequenos por duas semanas consecutivas), foi anunciada ontem por Mariana Vieira da Silva no final do conselho de ministros. Entre os peritos que acompanham a evolução epidemiológica, a situação em Lisboa, que alastrou à área metropolitana, mantém-se a mais complexa: é o concelho mais populoso do país e a incidência aproxima-se agora dos 240 casos por 100 mil habitantes. Com as atuais regras, só abaixo de 120 casos por 100 mil habitantes é que a capital deverá passar à próxima etapa de desconfinamento, que arranca a 14 de junho com horários da restauração prolongados até à meia-noite na maioria do país, o que pode levar várias semanas mesmo que começassem agora a descer, o que ainda não se verifica.

Ao i, Carlos Antunes, da equipa da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que faz a monitorização da epidemia, explica que o número de novos casos reportados ontem na região de Lisboa, perto de 600 (mais 60% que no mesmo dia da semana passada) e mesmo que alguns sejam diagnósticos atrasados referentes ao último fim de semana prolongado, indicia que o sinal de alguma desaceleração que se notava nos últimos dias pode não ser ainda tão intenso.

A equipa da FCUL estima que Lisboa atinja um pico de casos na próxima semana, mas se não houver de novo desaceleração – se os casos continuarem nesta ordem esta semana – poderá prolongar-se, sendo que a esta altura se afasta o cenário de a capital ficar mais de duas semanas com mais de 240 casos por 100 mil habitantes, o que levaria a um recuo maior no desconfinamento, com fecho do comércio ao fim de semana às 15h30, uma situação que neste momento não esta iminente em nenhum ponto do país. Porém, mesmo quando começar a registar uma descida de casos, Lisboa não reunirá imediatamente as condições definidas pelo Governo para avançar para o desconfinamento. Tendo por base o histórico da epidemia no verão passado e em novembro, antes da descida mais acentuada de infeções obtida com o confinamento, Carlos Antunes antecipa que só em julho é que a capital deverá voltar a estar abaixo dos 120 casos por 100 mil habitantes que dão luz verde à nova etapa. “À partida, demorará pelo menos três semanas, dependendo da adesão da população a medidas de controlo e prevenção”, salienta o investigador, apontando que já há um ténue sinal de mudança na população: o índice de confinamento tinha atingido o valor mínimo desde o início da epidemia, com apenas 11% das pessoas a reportar estar a ficar essencialmente em casa, e aumentou para 13% na monitorização feita pelo INSA. O concelho de Lisboa tem estado a registar cerca de 80 novos casos por dia, que representam assim uma parte significativa dos balanços diários reportados pela DGS, acompanhado por um aumento da incidência nos concelhos da área metropolitana. A par dos concelhos que não avançam no desconfinamento, ficam sinalizados para a próxima avaliação os municípios de Albufeira, Alcanena, Arruda dos Vinhos, Cascais, Loulé, Paredes de Coura, Santarém, Sertã, Sesimbra e Sintra mas na região de Lisboa a tendência continua a ser de aumento mais acentuado que no resto do país e será difícil haver uma melhoria imediata – nos últimos sete dias, os novos casos aumentaram 25% na região de Lisboa, o dobro da média do país. Se na próxima semana estes dez concelhos agora sinalizados voltarem a registar mais de 120 casos por 100 mil habitantes (240 nos concelhos de menor densidade)_arriscam voltar ao encerramento da restauração e espetáculos culturais às 22h30 e fecho de supermercados às 21h, bem como ao teletrabalho obrigatório, que deixa de vigorar nos concelhos que prosseguem no desconfinamento.

No final do conselho de ministros, Mariana Vieira da Silva assumiu dificuldades em controlar o aumento de casos em Lisboa, apelando à redução de contactos. A resposta, além dos apelos agora reforçados, é uma mudança na testagem: por um lado, vai ser imposta a obrigatoriedade de testes em eventos desportivos, culturais e até em casamentos, mediante o número de pessoas (a definir pela DGS). Por outro, o Executivo impõe a obrigatoriedade de testes em empresas com mais de 150 pessoas, isto em todo o país. Segundo o comunicado do conselho de ministros, os custos dos testes ficam a cargo das empresas e serão as autoridades de saúde a determinar em que locais faz mais sentido a testagem, não tendo ficado claro como vai ser operacionalizado.

Já as máscaras vão manter-se obrigatórias no espaços públicos quando não houver possibilidade de distanciamento até meio de setembro.