A Ordem dos Médicos vai propor ao Governo uma matriz mais completa para avaliar a situação epidemiológica nos próximos meses. A proposta, apresentada esta semana pelo coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos na TVI24 (ver em baixo), assenta num sistema de semáforos com o que é agora usado pelo Governo, mas em que o país, sub-regiões (NUTS 3) ou concelhos passariam de verde, amarelo e vermelho não apenas em função da incidência cumulativa a 14 dias – o que tem sido usado como critério nas decisões por concelho – mas também da transmissibilidade (RT), que não tem sido divulgado por concelho, da taxa de positividade e número de testes, dos movimentos de doentes em enfermaria e cuidados intensivos, da percentagem da população vacinada e prevalência de novas variantes e peso destas nos doentes que dão entrada com quadros graves nos hospitais.
Ao i, o bastonário da Ordem dos Médicos adianta que a proposta está a ser ultimada e vai ser apresentada ao Ministério da Saúde e ao Presidente da República, insistindo que a atual matriz não reflete a dinâmica da infeção num contexto em que há um número crescente de pessoas vacinadas: “Temos de conseguir controlar a infeção, sabendo que estamos num contexto diferente mas agindo precocemente ao que forem indicadores de maior preocupação”.
Miguel Guimarães exemplifica que é diferente um concelho registar 240 casos por 100 mil habitantes e ter pessoas internadas ou não ter ou haver casos de falência vacinal, por exemplo associados a novas variantes, o que defende que tem de ser analisado.
Sublinha também que não se trata de “relaxar” linhas vermelhas, o que foi contestado na última reunião do Infarmed pelos especialistas, mas de tornar mais abrangente a análise. “Esta matriz pode dar-nos uma malha mais fina de análise e corresponder a medidas que o Governo poderia ou não tomar em função disso, mas com uma análise com maior fundamentação e do conhecimento da população”, diz.
No caso de Lisboa, Miguel Guimarães considera que o aumento da incidência a par dos internamentos, incluindo de pessoas vacinadas, é um duplo sinal de alerta e admite que as atuais medidas podem ser insuficientes. “Atualmente, o país não está confinado, mesmo Lisboa, pelo que será difícil haver uma diminuição da incidência. Do ponto de vista dos serviços de saúde, nota-se um aumento de internamentos que não é de desvalorizar e tem de ser acompanhado. Neste momento já não se coloca a questão do sistema de saúde entrar em colapso, mas cada vez que se abre mais uma enfermaria para doentes covid, é menos uma enfermaria que temos para tratar doentes não covid-19. Precisamos de mais espaço e mais tempo para nos dedicarmos aos doentes”, diz.