Não podia ter acabado pior a relação entre o PSD e António Oliveira. Três meses depois do anúncio da candidatura do ex-selecionador nacional à câmara de Vila Nova de Gaia, os sociais-democratas classificaram a escolha como “um erro de casting”.
O PSD ainda tentou evitar a desistência do antigo jogador de futebol, mas sem sucesso. Oliveira bateu com a porta por ter sido alvo de “pressões, intimidações e ameaças” da máquina partidária. “Tentaram envolver-me nas mais inacreditáveis negociatas de lugares”, revelou na hora da despedida.
A resposta surgiu três dias depois e com duras críticas ao candidato que Rui Rio escolheu para tentar reconquistar a câmara de Gaia aos socialistas. Cancela Moura, líder do PSD/Gaia, acusou António Oliveira de “falta de caráter” e de hipocrisia. “Quem foi vítima de pressões, intimidações e ameaças fomos nós”, disse Cancela Moura, esta segunda-feira, em conferência de imprensa.
O presidente da distrital do Porto também criticou a postura de António Oliveira e assumiu que a escolha do partido foi “um erro”. Alberto Machado acredita que o partido não será penalizado nas próximas eleições autárquicas devido a este episódio, porque “as pessoas não são burras e saberão colocar no sítio certo a responsabilidade de todo este processo”.
“Sentimos vergonha” Já o líder da concelhia admitiu que “isto tem consequências negativas” para o PSD. “Não nos culpem mais por um imbróglio deste tamanho. Sentimos vergonha alheia desta situação”, afirmou Cancela Moura.
António Oliveira reuniu-se com o presidente do PSD antes de tornar pública a desistência. O candidato comunicou a Rui Rio que estava descontente com as exigências do líder da concelhia. Cancela Moura pretendia um lugar de destaque nas listas.
A candidatura à Câmara de Gaia foi desde o início um embaraço para o líder do partido.
Rui Rio foi acusado de incoerência por ter como uma das bandeiras acabar com as ligações entre a política e o futebol. “Há quinze anos que não tem nada a ver com o futebol”, justificou Rui Rio, garantindo, na altura, que António Oliveira tinha o “perfil adequado” para liderar a autarquia.
A poucos meses das autárquicas, que vão realizar-se em setembro ou outubro, o PSD fica sem candidato e numa situação delicada. A partir de agora os contactos vão intensificar-se para encontrar uma alternativa.
CDS espera solução rápida O CDS tenciona manter-se nesta coligação e já apelou ao PSD para resolver esta situação o mais depressa possível. “António Oliveira foi escolhido pelo PSD. É um problema do PSD que o CDS entende que deverá ser resolvido o mais rapidamente possível. Esperamos uma solução rápida”, disse Fernando Barbosa, líder da distrital do CDS.
Rui Rio preferiu não comentar o conflito que levou à desistência do candidato. Na carta aberta em que explica as razões desta decisão, António Oliveira afirma que Rui Rio “não tem culpa” e “terá sido, como eu fui, traído por uma máquina que tudo faz por lugares, cargos e salamaleques”.
O ex-jogador de futebol e militante do PSD mostra-se desiludido com esta curta passagem pela vida política. “Nunca pensei, porém, que a política e os partidos, quando se deixam apropriar por alguns, ainda que localmente, pudessem descer a um nível tão baixo e tão miserável”, escreve.