O apelo do presidente da Assembleia da República para que os portugueses “se desloquem de forma massiva para o sul de Espanha” para apoiar a seleção portuguesa está a gerar polémica. Ferro Rodrigues está a ser criticado por dar um sinal errado aos portugueses numa altura em que a pandemia se está a agravar e as restrições a aumentar.
No final do jogo com a França, que confirmou a passagem da Seleção aos oitavos de final, o presidente da Assembleia da República não escondeu o entusiasmo e garantiu que irá marcar presença no encontro entre Portugal e a Bélgica. “Espero que os portugueses se desloquem de forma massiva para o sul de Espanha e que possam apoiar uma grande vitória de Portugal nos oitavos de final”.
As críticas ao apelo da segunda maior figura do Estado foram imediatas. O presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, lamentou que existam vários discursos para combater a pandemia. “Isto já não se trata só de má comunicação e de incoerências inaceitáveis. É uma novela mexicana. Estamos saturados de trapalhadas. Os portugueses merecem respeito”, escreveu, na sua página do Facebook, o líder do CDS.
Rodrigues dos Santos lembrou que o apelo do presidente da Assembleia da República surgiu na mesma altura em que o Governo “suspendeu o desconfinamento no país e fez Albufeira, Lisboa e Sesimbra recuar no plano”.
“Irresponsabilidade” Os deputados do PSD alinharam nas críticas e acusaram Ferro Rodrigues de irresponsabilidade e falta de bom senso.
Ricardo Batista Leite, vice-presidente do grupo parlamentar do PSD considerou que “esta atitude do Presidente da Assembleia da República é de uma enorme irresponsabilidade e deve ser corrigida pelo próprio”.
O médico e candidato do PSD à câmara de Sintra lembrou que estão a ser aplicadas restrições para controlar a pandemia com “brutais prejuízos para a vida de todos”.
O deputado social-democrata Duarte Marques também fez um apelo ao presidente do Parlamento para ter a “humildade” de assumir o “erro”.
Já a Iniciativa Liberal considera que as duas mais altas figuras do Estado estão a passar a mensagem de que o país já regressou à normalidade.
“Marcelo Rebelo de Sousa e Eduardo Ferro Rodrigues irão os dois sair da Área Metropolitana de Lisboa no próximo fim de semana e estar presentes no jogo da Seleção Nacional, em Sevilha. Sendo o comportamento destes dois líderes políticos referência para os portugueses, o sinal que está a ser dado é claro: está na hora de libertar a população”, afirma, em comunicado, o partido liderado por João Cotrim Figueiredo.
Contradições Ferro Rodrigues disse que falou com o Presidente da República ao telefone nesta quarta-feira à noite e recebeu a garantia de que os dois irão assistir ao próximo jogo da seleção. “Falei com o senhor Presidente da República à bocado. Ele disse-me: lá estaremos em Sevilha. Estarei com ele com todo o gosto a acompanhar a seleção nacional em mais esta epopeia”.
O Presidente da República foi mais cauteloso e não deu como certa a ida a Sevilha.
Começou por explicar que estava à espera das regras definidas pelo Governo nesta quinta-feira para decidir e está a “ponderar essa hipótese”, porque é possível circular com certificado digital.
Ou seja, Marcelo garantiu que ainda não tomou nenhuma decisão sobre se vai assistir ao jogo. “Eu só vou se o morador comum em Lisboa puder ir”, disse o chefe de Estado em Guimarães, onde se deslocou para presenciar as comemorações da Batalha de São Mamede.
A ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, preferiu não comentar a polémica com as declarações do presidente da Assembleia da República. “Nunca comento declarações de outros órgãos de soberania”, disse.
A ministra reafirmou que é preciso “cumprir as regras, ser cautelosos, usar a máscara e evitar ajuntamentos”.
“Espero que os portugueses se desloquem de forma massiva para o sul de Espanha e que possam apoiar uma grande vitória de Portugal nos oitavos de final deste campeonato da Europa (…) Estarei com todo o gosto a acompanhar a seleção nacional em mais uma epopeia deste europeu”