Aumento de casos de covid-19 acelera também no Norte

Dados que mostram que variante delta não era dominante no Norte referem-se à situação há 15 dias.

Os diagnósticos de covid-19 deram um salto no início desta semana no Norte do país, até aqui a região com o aumento mais contido de novos casos. Esta segunda-feira, os dados revelados ontem, o país voltou a superar os 1700 novos diagnósticos reportados no espaço de 24 horas, o que já não acontecia desde 19 de fevereiro. Além de um novo aumento dos diagnósticos na região de Lisboa e Vale do Tejo em relação ao início da semana passada, depois de dias de abrandamento, é no Norte que se verifica a maior subida, com 361 novos casos reportados num dia, quase três vezes mais do que no início da semana passada. Às urgências do grande Porto estão a chegar mais pessoas com sintomas. À Lusa, o coordenador das urgências no Hospital de São João revelou um aumento de 40% nos casos suspeitos, descrevendo a subida de casos no Porto como “explosivo e muito preocupante”. A taxa de positivos na urgência passou de 1% a 2% para 15% nos últimos cinco dias, revelou Nelson Pereira.

O país regista agora uma incidência cumulativa a 14 dias na ordem dos 176 casos por 100 mil habitantes, mantendo-se Lisboa e Algarve com as incidências mais elevadas, acima dos 300,  e com mais concelhos em vias de recuar no desconfinamento ao fim de semana. No Alentejo, no Norte e na região Centro a incidência mantém-se abaixo da linha dos 120 casos por 100 mil habitantes, mas com uma tendência de aumento mais forte do que na semana passada. O Porto, que na semana passada ficou em alerta pela primeira vez acima dos 120 casos por 100 mil habitantes, é um dos concelhos onde os horários de fecho devem voltar a recuar para as 22h30 já este fim de semana.

 

Variante delta galopante

Esta terça-feira, o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge divulgou dados sobre o estudo da diversidade genética do vírus, que mostram que a variante delta, mais transmissível, já é dominante no país, representando 55,6% dos casos analisados geneticamente em junho. Mas a situação já deve estar acima deste patamar: as amostras agora tratadas referem-se ao período entre 2 e 15 de junho, lê-se no documento, retratando a situação na primeira quinzena do mês e não a presente. Na altura, apenas a região Norte e as ilhas não tinham a variante delta como dominante nos novos casos, o que agora já se poderá ter alterado. Na região Centro, representou 82,8% das amostras analisadas, em Lisboa e Vale do Tejo 76,4%, no Alentejo 94,5% e no Algarve 75%. No Norte representava então 32,1% os casos, num cenário dec crescimento que o INSA descreveu como “galopante”.

O instituto alterou entretanto a estratégia de monitorização de variantes, que passa a ser contínua, através de amostragensnacional. O  relatório revelou ainda que a variante ‘delta plus’, com 46 casos detetados em Portugal, já tem transmissão comunitária, considerada “muito limitada”. A base internacional Gisaid, que o i consultou, mostra que, apesar da prevalência inferior à delta original (2,3% dos casos), Portugal é agora o país com mais casos desta variante delta com uma mutação adicional (AY.1), cujas características estão ainda em estudo, tendo ultrapassado os 45 casos do Reino Unido.  

 

Testes comparticipados

Se a avaliação da situação atual tem sido remetida para o conselho de ministros desta quinta-feira, houve entretanto dois anúncios. O Governo vai avançar com a comparticipação dos testes rápidos de antigénio, que deverá ser aprovada ainda esta semana, revelou Marta Temido. Atualmente custam cerca de 20 euros e só são gratuitos em farmácias de alguns concelhos, sendo exigidos para aceder a eventos ou como condição para circular de e para a AML, em alternativa ao certificado de vacinação completa. Questionado pelo i sobre se essa medida poderá ser aplicada no Algarve, que já ultrapassou Lisboa em termos de incidência, o Ministério da Saúde remeteu a avaliação de novas medidas para o conselho de ministros e o compromisso de garantir o acesso equitativo a testes já tinha ficado patente no último. Certo é também agora que o aumento mais acelerado de casos parece já ter alastrado tanto ao Sul como ao Norte.

O Governo avançou entretanto com a criação de uma comissão para rever o enquadramento jurídico aplicável em contexto de pandemia, uma questão que tem estado em cima da mesa perante as críticas de inconstitucionalidade de medidas restritivas, nomeadamente à circulação, fora do estado de emergência. Tem sido um dos pontos de pressão de Marcelo, que em maio insistiu ser “prudente” fazê-lo, aludindo a estar-se na ponta final da pandemia, que entretanto se tem revelado mais sinuosa, e a uma discussão que visa como enfrentar, no futuro,uma situação como a atual. Sem iniciativas no Parlamento nesse sentido, o Governo avança agora com o processo, também apontando para “circunstâncias semelhantes que num indesejado futuro possam ocorrer”. A comissão tem quatro meses para apresentar a análise.