por Marta F. Reis e José Cabrita Saraiva
O psiquiatra António Coimbra de Matos morreu esta quinta-feira, em Lisboa, aos 92 anos de idade, confirmou o i junto de fonte próxima da família.
Referência maior da psiquiatria e psicanálise em Portugal, venerado por alunos, discípulos, colaboradores e doentes, Coimbra de Matos tinha interrompido nos últimos meses a atividade devido à pandemia e a alguns problemas de saúde, mas esperava retomar as consultas em setembro. E viver para lá dos 100 anos, como a sua mãe, que morreu aos 101, contava muitas vezes.
Foi no estudo e tratamento da doença mental que focou grande parte do seu trabalho. Achava que o amor era o grande antídoto contra a depressão. Em 2012, publicou "Mais Amor, Menos Doença", deixando outros livros na área da psiquiatria. Contestou cedo o uso excessivo de medicação e o pouco investimento no acesso a psicoterapia no país. "O atraso da saúde mental não é só português, é mundial. É geralmente o parente pobre dos serviços de saúde e a principal razão é que os doentes, a maior parte das vezes, não têm capacidade de protesto e as famílias também não reivindicam por eles", insistiu no final de 2019 numa entrevista ao i, feita no dia do seu 90º aniversário. Passava os aniversários a trabalhar no consultório.
Licenciado em Medicina, começou pela área da cirurgia, que não o satisfazia intelectualmente. Especializa-se em psiquiatria em 1959, altura em que vem definitivamente trabalhar para Lisboa. Passou primeiro pelo Hospital Júlio de Matos, atual Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa e após a saída de João de Santos, pioneiro da pedopsiquiatria no país, dirigiu o Centro de Saúde Mental Infantil. Este centro deu mais tarde lugar ao Departamento de Pedopsiquiatria do Hospital D. Estefânia, onde trabalhou até à reforma, continuando a dar consultas a título particular no consultório em Campolide. Descrevia-se como um otimista, um homem que acredita no progresso, na ciência e nas gerações mais novas.
Foi professor no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) e fundador da Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica, ao lado de Carlos Amaral Dias, também já falecido.
Natural de Galafura, no Douro, de onde saiu com nove anos de idade para o Porto, nunca abandonou as raízes e tinha entre os seus projetos familiares a produção de vinho na região. Não chegou a ver um documentário que a RTP gravou recentemente na sua terra natal.