Setor da noite diz chega de estar fechado

Ventura sai à rua para criticar medidas impostas pelo Governo. Membros do Movimento Sobreviver a Pão e Água juntam-se à luta, mas de forma oficiosa: a sua vez será dia 5 de julho.

por Henrique Pinto de Mesquita e José Miguel Pires

O setor da noite – ou, pelo menos, parte dele – aproveitará a boleia da concentração do Chega que hoje irá contestar as novas restrições junto da residência do primeiro-ministro. Membros do setor da noite anteciparão, junto de Ventura, a sua “festa”. E isto porque, oficialmente, esta apenas será no dia 5 de julho e em frente à Assembleia da República. A divisão entre protestarem hoje ou dia 5 fraturou, em parte, o grupo de empresários da restauração e dos bares. Alguns elementos ignoram a cor política da manifestação organizada pelo Chega, mas outros preferem evitar a concentração e mantêm-se unicamente ligados ao seu próprio movimento.

As medidas de restrição impostas, que, acusam os empresários, causam danos ao setor há 15 meses, são o mote das suas manifestações. Várias figuras da noite prometeram não ficar de braços cruzados. Aliás, segundo o i apurou, uma figura conhecida da zona do Cais do Sodré chegou mesmo a afirmar avançar com uma ação legal contra o Governo, mas terá recuado, depois de ter prometido que avançaria sozinho e que já teria contactado advogados de um dos cinco melhores escritórios do país. O texto que publicou na redes sociais era bem claro, mas o jovem empresário agora está indeciso.

 

Da organização à causa

Um dos empresários que marcará presença na manifestação do Chega é Bartolomeu Costa Macedo, dono do Cargo 111, localizado no Bairro Alto. O empresário, garante ao i, estará também presente na manifestação oficial convocada pelo Movimento Sobreviver a Pão e Água, a 5 de julho, e irá “a todas as que forem necessárias” – ou, pelo menos, é essa a promessa que faz.

Sobre uma possível associação política dos empresários que hoje se desloquem à concentração convocada pelo Chega, Costa Macedo desvaloriza. “A causa é superior à organização. Não sou apoiante do Chega, nem sequer é do meu quadrante político, mas a causa é superior a isso, e por isso algumas das pessoas com quem tenho comunicado estão a organizar-se para ir à manifestação, sempre com a intuição de que não interessa quem é que marcou, ou de que cor política é que é”, afirma o empresário, que não hesita em fazer um apelo aos restantes partidos políticos. “Por mim estavam lá todas as cores políticas a defender os direitos e liberdades”, conclui.

O empresário não hesita sobre o seu papel na manifestação de hoje e tira da equação qualquer preocupação com a cor política por trás da mesma. “É indiferente quem organiza. Quem me dá força, eu dou-lhes força. Eu vou lá é para me apoiar a mim, em conjunto com outras pessoas que se vão apoiar a si próprias, para mostrar a nossa indignação”, conclui o mesmo.

Sobre as razões que levaram os seus colegas ‘na luta’ a decidir participar unicamente na manifestação de dia 5 de julho, organizada pelo próprio Movimento, Bartolomeu Costa Macedo aponta o dedo à possível correlação política que poderá surgir da sua presença na manifestação de hoje. “É uma questão do medo da colagem política”, começa por explicar, apontando ainda críticas a quem decidiu não se unir a esta manifestação. “Nós estamos ali na Assembleia, a pedir apoio de deputados e bancada, e chega uma bancada que diz que nos vai apoiar, e dizemos ‘ai vocês não, porque são de uma cor esquisita, eu queria era os daquele lado’, só que os daquele lado não se mexem”, resume o empresário. “Isto não faz sentido. Se eles (Chega) se chegaram à frente por esta indignação, nós temos de os ajudar. E hoje é o Chega, amanhã pode ser o PCP. Nós não temos cor política. Somos apolíticos”, concluiu.

Da mesma opinião é Óscar Mascarenhas, que confessa ao i acreditar que “neste momento, faz sentido é juntar toda a gente e fazer o maior número de manifestações para ver se levamos isto a algum lado”. O empresário estará presente em ambas as manifestações, e desvaloriza o facto de a concentração de hoje ser organizada pelo Chega. “Uma coisa não leva a outra. Se o Chega ou qualquer outro partido foi eleito para nos representar na Assembleia da República, não tenho de estar receoso com o Chega, mas sim com as atitudes do nosso governo”, defende.

 

Apolíticos em ambos os sentidos

A falta de cores políticas associadas ao Movimento Sobreviver a Pão e Água, no entanto, parece ser o fundo argumentativo tanto para aqueles que marcarão presença na manifestação do Chega em São Bento, como para aqueles que decidiram evitar a presença neste evento.

É o caso, por exemplo, de José Gouveia, presidente da Associação Nacional de Discotecas, representante do Movimento Sobreviver a Pão e Água e diretor do restaurante Tamariz, no Estoril. Em conversa com o i, começou por saudar a manifestação do Chega: “Não podemos deixar de louvar a iniciativa e só por indisponibilidade pessoal é que não irei estar presente”, começa por explicar. Depois explica a não adesão do Movimento Sobreviver a Pão e Água à concentração: este “não tem qualquer ligação partidária e, como tal, não poderia nunca estar institucionalmente ligado a uma manifestação partidária”.

 

Circuito não marca presença

Por entre os jogos de bastidores que se estão a desenrolar no setor da vida noturna, há ainda um tema quente: a falta de adesão dos estabelecimentos incluídos no programa ‘Circuito’ às manifestações do Movimento. Trata-se de um conjunto de estabelecimentos de diversão noturna lisboetas – entre eles Lux, Village, Damas, Musicbox, Casa Independente e Titanic – que se apresentaram perante a Câmara Municipal de Lisboa e acabaram por receber um apoio de 600 mil euros para promover 10 eventos de duas horas.

Questionado pelo i José Gouveia prefere não comentar a falta de comparência destes estabelecimentos nas manifestações do Movimento Sobreviver a Pão e Água. “Cada um sabe de si. Sofrem todos dos mesmo problema. Não me cabe comentar as atitudes de cada um. Não sei se o Circuito se põe à parte por ser subsidiado pela Câmara Municipal”, esclarece.