Depois de Portugal sair da lista verde do Reino Unido, a Alemanha seguiu-lhe o exemplo. Esta é mais uma machadada para o turismo português com especial foco para o Algarve onde estes dois mercados têm grande expressão. E as reações não se fizeram esperar.
João Fernandes, presidente da Região Turismo do Algarve não entende as decisões e lembra: «Em maio a expectativa era muito positiva, o Algarve foi considerado como zona segura e zona de baixo risco. Foi sol de pouca dura porque duas semanas depois o Reino Unido cessava essa condição e a Alemanha veio classificar Portugal como zona de variante de risco», diz ao Nascer do SOL.
Quando caiu essa bomba, esperava-se que mercados como a Áustria, Suíça, Holanda, entre outros países europeus seguissem o exemplo, o que não aconteceu. Mas ainda, assim, a perda destes dois mercados fez mossa. «A própria Comissão Europeia veio criticar as restrições de viagens para Portugal mas o mal está feito. A imagem que se passou de Portugal ser o foco da estirpe Delta para a Europa aconteceu», diz o responsável.
As coisas entretanto mudaram e o instituto alemão Robert Koch veio depois mostrar que os países de origem mais frequentes da estirpe Delta na Alemanha eram Afeganistão, Rússia e Itália. «Nem sequer constava Portugal», lembra João Fernandes. «De acordo com relatório do mesmo instituto, até à passada quarta-feira, as pessoas que entraram no país vindas do estrangeiro e que transmitiram infeções para o território alemão, representavam 2% dos casos transmitidos. Mas a 29 de julho o culpado encontrado foi Portugal», lamenta.
Independentemente da razão do Reino Unido e da Alemanha, «o impacto sobre Portugal fez-se sentir. Sendo o Algarve a região mais internacionalizada do ponto de vista da procura turística, obviamente que esse efeito foi especialmente sentido durante o mês de junho».
Agora espera-se que as decisões sejam revertidas e há já boas notícias com o Reino Unido a deixar viajar mesmo para os países da lista âmbar os que já estiverem totalmente vacinados. É esperar e não esquecer que Portugal também passa por uma fase complicada. «Por outro lado sabemos que em nossa casa também há trabalho a fazer porque estamos com uma nova vaga de uma estirpe que é especialmente rápida e que afeta também o lado da oferta. Ou pela falta de procura ou pelas restrições», lembra o responsável.
Questionado sobre se o verão desta ano será pior que o do ano passado, João Fernandes diz que há «muita dificuldade em fazer prognósticos». «No espaço de um mês, aquilo que era uma esperança fundada de uma procura sustentada do mercado nacional muito reforçada com o mercado externo, acaba por ficar em causa e, claramente, julho já vai ter muitas repercussões dessas situações. Não sabemos quanto tempo levaremos a ultrapassá-las», acrescenta.
É que, apesar das boas notícias vindas destes dois mercados importantes, que «dão alguma esperança», para que, eventualmente, em agosto, se possam receber turistas destes e outros mercados, não se sabe se elas se vão concretizar ou não. «Mesmo ao nível do mercado nacional a atual situação pandémica está a levar a restrições de mobilidade que têm impacto na procura interna», lembra.
‘Não podemos confinar eternamente’
Já Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) não tem dúvidas que as perspetivas recentes de um verão melhor que no ano passado estão «neste momento, fortemente comprometidas», principalmente devido às restrições britânica e alemã, mas também pela evolução negativa da pandemia em Portugal.
«Passámos rapidamente de uma situação de boas previsões em que estávamos a contar com os mercados externos mais importantes, para uma situação de termos um verão que, em princípio, será pior que o verão do ano passado», lamenta ao Nascer do SOL.
E não tem dúvidas: «Vivemos uma situação em que o que hoje é verdade, amanhã é mentira. Alternamos medidas de confinamento com medidas de não confinamento de uma forma quase sucessiva e todos já percebemos que não é possível manter estes confinamentos eternamente».
Por isso, Elidérico Viegas diz que é importante que o Governo seja capaz de encontrar soluções diferentes das que têm sido encontradas até aqui para lidar com estas questões da pandemia «porque é óbvio que já todos percebemos que a pandemia veio para ficar e que o mundo – e o nosso país – não pode ficar confinado eternamente». Caso contrário, é certo: «Estaremos a empobrecer todos os dias».
É que, na opinião do presidente da AHETA, as restrições nacionais potenciam «a ida de portugueses para o estrangeiro fazer férias. Não há restrições às viagens, as pessoas podem pura e simplesmente apanhar um avião no aeroporto e ir para outro sítio fazer férias onde não há restrições».
Tanto Elidérico Viegas como João Fernandes alertam para a revisão do modelo de avaliação de risco nos territórios como é o caso do Algarve. Isto porque existe uma elevada população flutuante. «Esta população, para efeitos de avaliação do risco, distorce a realidade do risco dos territórios», diz João Fernandes que dá exemplos: considerando os números de 2020, o Algarve, que tem uma população de 438 mil habitantes, teve em julho só em hóspedes de hotel 254 mil hóspedes e 513 mil hóspedes em agosto. E estes números contam apenas os hóspedes de hotel que são os que têm menos expressão.
Retoma abortou
Este cenário vai ao encontro do que foi defendido esta semana pelo presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) ao garantir que a retoma do setor do turismo para este verão «abortou». E que isso está relacionado com os condicionalismos relacionados com as viagens por parte do Reino Unido e da Alemanha. «A situação é que aquela expectativa que tínhamos era que a retoma se iria iniciar este verão e tínhamos indicações que nos levavam a pensar isso.
Com esses condicionalismos da Grã-Bretanha e da Alemanha não haverá retoma este ano e este ano será um ano negativo, ou, na melhor das hipóteses, com resultado zero», disse Raul Martins na apresentação de um inquérito realizado pela AHP
Mas apesar de o início da retoma este verão estar já fora das expectativas, a vice-presidente executiva da associação, Cristina Siza Vieira, considerou que a época só não será pior do que a de 2020, devido à procura interna.
No entanto, como não há reservas de grupos, a hotelaria está «dependente das reservas individuais», em que a esmagadora maioria são reservas reembolsáveis, o que significa que podem ser canceladas. Além disso, a AHP refere que se está a assistir a uma «muito baixa utilização dos vouchers», «o que significa que em 2020 as pessoas preferiram pedir o reembolso».