Após as forças governamentais serem expulsas de Mekele, a capital do estado etíope de Tigré, a semana passada, o Governo de Abiy Ahmed – que sempre recusara estabelecer qualquer diálogo com os rebeldes do Frente de Libertação do Povo Tigré (TPLF, em inglês), descrevendo-os como terroristas – declarara um cessar-fogo, descrito como uma "piada" pelos rebeldes. Mas estes finalmente aceitaram-no, este domingo, avançou a France Press, com a condição do Governo reconhecer o Executivo regional de Tigré, eleito em setembro de 2020, após o Abiy proibir as eleições regionais, sob pretexto da pandemia.
Além disso, o TPLF também exigiu a retirada de todas as forças da vizinha Eritreia – com quem o TPLF, quando era o partido governante, travou uma longa e sangrenta guerra, entre 1998 e 2000, tendo o Governo eritreu assinado depois a paz com Abiy – e das milícias do estado vizinho de Amara, que têm uma amarga rivalidade com a etnia tigrínia, e que, em conjunto com as tropas eritreias, são acusadas das piores atrocidades contra civis.
Para o Governo de Abiy, que desde novembro anunciava ter Tigré sob controlo, dizendo que os rebeldes estavam em fuga e escondidos nas montanhas, ao mesmo tempo que bloqueava todas as comunicações da região, a súbita queda de Mekele foi uma humilhação. O sucesso do TPLF – que durante décadas dominou uma autoritária coligação de partidos étnicos do que Abiy fez parte, até se virar contra os seus antigos aliados – parece ter sido muito graças ao apoio da população local, como o próprio primeiro-ministro, e antigo nobel da Paz, admitiu.
"Quando o exército passou por uma aldeia, sem ver nenhum movimento do inimigo, muitas pessoas subitamente apareceram pelas costas e atacaram e massacraram o exército, usando Kalashnikovs ou mesmo machetes", queixou-se Abiy, citado pela AFP. Entretanto, segundo as Nações Unidas, mais de 400 mil pessoas estão a passar fome em Tigré, enquanto o Governo vai mantendo a região isolada. "Um cessar-fogo não significa cortar a energia de uma região ou destruir infraestrutura essencial", queixou-se Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeoa, no Twitter.