O gestor bancário de Henrique Granadeiro, Francisco Roseta Fino, desmentiu por duas vezes Ricardo Salgado na Operação Marquês, a propósito de o banqueiro e ex-líder do Grupo e Banco Espírito Santo (GES/BES) ter justificado uma transferência para a sua conta, por parte do antigo presidente da Portugal Telecom (PT), de uma verba de cerca de quatro milhões de euros por se tratar do suposto sinal da venda que lhe teria feito de uma moradia de luxo no Brasil.
O recebimento dessa verba, oriunda da Enterprises Management Services – uma sociedade constituída por fundos do GES e conhecida precisamente como o ‘saco azul’ do grupo – é um dos factos sobre os quais incide o julgamento de Ricardo Salgado por crimes de abuso de confiança no âmbito da Operação Marquês, que decorre em Lisboa desde a passada terça-feira.
O testemunho do inspetor Paulo Silva
O julgamento de Salgado prosseguiu esta semana no Campus de Justiça, em Lisboa, com a audição do inspetor Paulo Silva, que liderou a equipa de investigação da Autoridade Tributária na Operação Marquês, tendo sido arrolado como testemunha de acusação.
Paulo Silva é um dos autores do relatório final da AT no processo, em que são identificadas e descritas ao pormenor as movimentações financeiras e as offshores dos arguidos.
Uma das transferências em causa neste julgamento de Ricardo Salgado, consideradas incriminatórias pelo Ministério Público, é precisamente a que foi efetuada por Henrique Granadeiro a 2 de novembro de 2011 para a Begolino, uma offshore de Salgado (detida também em nome da sua mulher, Maria João Calçada Bastos Salgado, e da filha de ambos, Catarina Amon, e domiciliada no Panamá), e que corresponderia a parte de uma quantia que o então presidente da PT havia acabado de receber da Enterprises Management Services.
A operação foi feita a partir da conta de Granadeiro no banco suíço Pictet para uma outra da Begolino no banco Lombard Odier, sediado no mesmo país, sendo por isso registada em francos suíços (4,9 milhões no total), por forma a evitar perdas com câmbios monetários. No documento da transferência foi manuscrita uma informação prestada por Francisco Fino indicando que a verba tinha em vista a aquisição futura de um bem imóvel em Portugal.
Ao ser ouvido pelos investigadores da Operação Marquês, quando confrontado com este recebimento, Salgado adiantou como explicação que os quatro milhões de euros consistiam num adiantamento por conta da aquisição por Granadeiro da casa de férias possuída pelo banqueiro num condomínio privado em Itacaré, no estado brasileiro de Bahia.
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