O bicho voltou em força e parece querer voltar a proibir-nos de circular livremente e de sentir o cheiro a verão que já nos trazem alguns finais de tarde. Bem, quem com ele por acaso teve entretanto o infortúnio de se cruzar fica mesmo sem a possibilidade de sentir o cheiro a verão ou qualquer outro.
O vírus que também já roubou o cheiro da sardinha e das farturas, que desligou o som das colunas dos festivais e apagou as luzes dos grandes palcos continua sem dar tréguas. Nem sequer uma paz podre durante os meses quentes, a lembrar a receita do ano passado. Não está fácil. Um vírus que já provou ser capaz de esgotar até a paciência de qualquer santo.
Termino de escrever a frase e passa-me automática e repetidamente pela cabeça as imagens do Papa Francisco a «perder a paciência» – como o próprio confessou mais tarde, pedindo perdão – com a mulher que insistiu em agarrar-lhe a mão na Praça de São Pedro, no Vaticano. Mal sabia o Santo Padre que o gesto feito naquele dia 1 de janeiro de 2020 iria ganhar tanto significado tão pouco tempo depois.
Tem sido um ano e meio a sacudir (ou mesmo repreender) quem tenta cumprimentar de forma mais afetuosa, além dos pedidos reforçados para ser cumprida a distância social. Juntam-se a isso as incontáveis ocasiões em que perdemos a paciência com aqueles que teimam em deixar-se a si e aos outros entregues apenas à sorte, talvez de Deus, infringindo até propositadamente as regras básicas, a começar por meter o nariz onde não é chamado, neste caso fora da máscara. E por mais que ninguém queira conviver com o vírus, a vida já nos ensinou muito antes disto que nem sempre temos poder total sobre as escolhas.
Mas se há alguém que tem esse poder e não esteve com meias medidas, trata-se do novo ministro da Saúde do Reino Unido, Sajid Javid. Taxativo, declarou: se ele está no meio de nós, aprendemos a viver com o vírus. O objetivo está bem definido e passa por «restaurar as liberdades e aprender a conviver com a covid-19».
Assim, o Governo do primeiro-ministro Boris Johnson planeia colocar um ponto final em todas as restrições relacionadas com a covid até 19 de julho – onde se inclui o uso de máscara -, ficando a responsabilidade social e cívica nas mãos dos cidadãos. Por enquanto, resta recordar a importância de lavá-las com frequência. Tal como uma mão lava a outra, só é possível respirar um bocadinho mais de alívio se cada um cumprir a sua parte.