Portugal vai acompanhar os resultados do levantamento das restrições no Reino Unido, previsto para 19 de julho. Nisso estão em sintonia a ministra da Saúde e diretora-geral da Saúde, mas enquanto Marta Temido não fecha decisões sobre o que acontecerá quando o país atingir mais de 80% da população com a primeira dose da vacina e mais de dois terços com as duas, o que é esperado em setembro – o patamar com que o Reino Unido pretende levantar as restrições – a diretora-geral da Saúde antecipa que será um “nível de imunidade bastante bom” e que, não havendo risco zero, a “tendência será para assumir a nossa vida com alívio das medidas”.
Em entrevista ao Nascer do SOL, publicada este sábado, Marta Temido não fecha cenários para levantamento de restrições nos próximos meses, clarificando que medidas como um confinamento se colocariam num cenário extremo que, a cada vacina administrada, se torna “mais longínquo e mais um cenário perfeitamente hipotético”.
A expectativa, explicou, é que três fatores contribuam para um maior controlo nas próximas semanas: o acelerar da vacinação, o fim das aulas (que leva a que crianças e jovens estejam menos tempos juntos no espaço fechado da sala de aula) e um possível efeito sazonal, com menor circulação do vírus com o aumento das temperaturas. Ainda assim, a ministra da Saúde assume que é pouco provável que os casos desçam ao patamar do verão passado e considera que enquanto estiverem a subir, “será difícil pensar em reaberturas”.
Em Inglaterra, a decisão de levantar todas as restrições foi anunciada com as infeções a continuar a subir e havendo a expectativa de que subam mais após o desconfinamento total, para cerca de 100 mil casos diários, o que poderá implicar mais internamentos e óbitos, proporcionalmente menos que no passado devido à imunização.
Se as infeções não diminuírem cá, Portugal poderá equacionar o mesmo tipo de abordagem, levantando restrições em função da vacinação e de outros indicadores e não da incidência? “Só e apenas, não sei. Daquilo que conhecemos hoje do controlo da doença, seria muito arriscado. Enquanto estivermos a subir, será sempre difícil pensar em reaberturas. Mas tal como em relação ao confinamento, também em relação a esse tema não há hipóteses completamente fechadas. A vantagem que temos em relação ao Reino Unido é que podemos aprender com os erros ou êxitos deles”, afirmou a ministra da Saúde. “Vamos acompanhar de perto aquilo que possam ser os resultados da decisão do Reino Unido, que está a ser muito contestada pela comunidade científica e que à partida nos deixa bastante apreensivos. Mas o que é que nesta pandemia não nos deixa apreensivos? É um bocadinho ter a humildade de dizer que não há certezas absolutas e que há princípios que regem as nossas atuações”, afirmou Marta Temido.
Em entrevista à TSF, Graça Freitas considera que a tendência será para levantar restrições com o aumento da vacinação, mesmo que seja preciso fechar a “torneira” de vez em quando. Se de forma semelhante ao Reino, “vamos ver”, responde. “Todos os outros países estão a tirar ensinamentos e lições do que vai acontecer. Eles próprios não têm a certeza”, afirma.
Graça Freitas defende que será preciso continuar a viver com o vírus, que afasta que possa ser eliminado, explicando que medidas como as atuais já vão nesse sentido. E avançou com dados que mostram que entre os quase 3 milhões de vacinados com duas doses houve 3538 casos de infeção 14 dias após a imunização, representado assim 0,1% dos vacinados. No último balanço da DGS, a 17 de junho, tinham sido registados 1321 casos entre vacinados, pelo que estes casos duplicaram no último mês.
Desde essa altura, foram diagnosticados no país quase 49 mil casos de covid-19, representando os vacinados cerca de 5% dos casos.
Na sexta-feira, o presidente da República confirmou uma nova reunião do Infarmed a 27 de julho, para avaliar a situação e “olhar para agosto”. Marcelo Rebelo de Sousa afirmou entretanto que o pior da pandemia já passou, desejando que a vacinação possa trazer o fim em semanas ou mês e meio e não num prazo maior.
Este fim de semana voltaram a aumentar os doentes internados, com o número de diagnósticos também superior ao último fim de semana. Marta Temido apontou que, no pior cenário, o país poderia chegar aos 4 mil casos diários em 15 dias, com 800 doentes internados, dos quais 150 em UCI, projeções que eram feitas para o dia 16 de julho. Nas unidades de cuidados intensivos, chegou-se mais cedo a esse patamar, com 152 doentes com covid-19 internados em estado crítico este sábado.