Realizaram-se esta semana, em São João dos Adultos, as jornadas adultas do CDS-PP. Nelas só constou gente séria e tremendamente adulta que, do alto da sua maturidade e experiência, debateu um conjunto de coisas apenas ao alcance de adultos.
O programa começou através de uma visita a uma fábrica de lápis para adultos, seguido de dois debate maduros sobre temas para adultos. Seguiu-se-lhes – as minhas pernas até tremem! – o super-adulto-6000 Nuno Melo a discursar. Caramba, que homem. O magnum opus de Deus da maturidade humana!
Em discurso, Nuno Melo fez questão de atirar para dentro. Tal não teria mal – se o jogo fosse à porta fechada. Contudo, não o era: e é aqui que me chateio. Melo até poderá ter legitimidade nas críticas atiradas (não pertenço ao partido, não sei), contudo, o facto de o fazer propositadamente na presença da imprensa é espelho da nossa miséria política. Este alimentar de guerra política interna, em que se procura pisar publicamente o líder do próprio partido – acabando por afundar ainda mais um partido que já é náufrago –, só prova que o nosso super-herói não tem a nobreza e profundidade necessárias à atividade política: é pequenino e merceeiro.
Fê-lo – notem o nível – utilizando argumentos dignos de um sketch humorístico, alimentando assim a ideia de que é o meme da Direita portuguesa. Senhoras e senhores, um eurodeputado e figura proeminente da política portuguesa teve a luminosidade de notar o facto de os seus adversários, «ainda há uns anos», estarem «sentados no banco da escola», não podendo, por isso «receber lições» dessas pessoas. Nuno Melo, pondo-se em bicos de pés para tentar ser o adulto da sala, revelara-se o maior bebé desta.
Acrescentando à arrogância, quão vazio intelectualmente é-se preciso ser para utilizar o fator idade como um crachá? Quão debilitadas estarão as espadas de alguém ao ponto de utilizar como arma o facto de os outros serem mais novos? O nível argumentativo que trouxe a público é digno de um recreio de primária: «Quem diz é quem é»; «Este escorrega é meu porque eu sou mais velho»; «Este partido é meu porque eu sou mais velho».
É por causa destas faltas de noções que o CDS é – e bem – gozado. Caro Nuno Melo, os jovens podem, sim, dar ‘lições’ aos mais velhos. O tempo de a idade ser, por si, um posto de razão já lá vai. Afinal, se não fossem os jovens, o planeta definhava mais de dia para dia, as mulheres continuariam a ser mais mal pagas que os homens e os gays continuariam a ser ostracizados. Fomos nós, jovens leitinhos, que assumimos estas lutas e, nesse sentido, demos uma grande lição à geração de v. exa.
É que o nosso super-adulto-6000 ainda está em 1988: repete a cassete encravada do cOmBaTe aO sOcIaLiSmO, gabando-se que «já o faziam» enquanto os ‘chavalitos’ que dirigem o CDS estavam a comer papa. Mas v. exa não percebe que essa cassete está gasta e que a política binária acabou?
Nós queremos lá saber que combata o socialismo, o maoismo, o atletismo ou o caralhismo. Nós queremos pagar rendas de casas acessíveis e queremos saúde mental. Nós queremos deixar de ser a primeira geração do ocidente que terá menos qualidade de vida do que a anterior. Se for através de socialismo, magnífico. Se for através de liberalismo, perfeito. Se for através de paraquedismo, estupendo.
O que eu vi, em São João dos Adultos, foi um conjunto de deputados do CDS desiludidos a fazer de uma nulidade um Messias. Este, aproveitando, pôs-se de bicos de pés na tentativa de ser o adulto na sala. Tamanha foi a sua impotência argumentativa que, afinal, revelou-se bebé. O que eu vi, em São João dos Adultos, foi um Chicão-Puto a ser mais adulto que um Velho-Melo, ironicamente dando-lhe uma ‘lição’. Enfim, como dizia o ditado: os melões ladram e o Chicão passa.