As chuvas fortes que esta semana assombraram Zhengzhou, uma das maiores cidades do centro da China, fizeram pelo menos 51 mortos, de acordo com a atualização oficial do número de vítimas feita esta sexta-feira.
No espaço de semanas, as enchentes provocaram vítimas mortais em diversas partes do globo – além da China, a Alemanha e a Bélgica também sofreram trágicas consequências deste fenómeno.
Especialistas em alterações climáticas acreditam que estas catástrofes naturais vão tornar-se cada vez mais frequentes.«Os eventos meteorológicos extremos como os que afetaram a Europa Central estão a ter lugar um pouco por todo o mundo e com diferentes configurações: cheias mas também ondas de calor. Devemos ainda considerar mudanças mais significativas em termos de prazo, como sejam períodos de seca ou de precipitação intensa ao longo de meses ou anos», explicou o presidente da associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira, ao Nascer do SOL.
Em Zhengzhou, as enchentes obrigaram a retirada de mais de 395 mil pessoas, informaram as autoridades, e causaram prejuízos superiores a 65,5 mil milhões de yuan (8,5 mil milhões de euros). Em apenas três dias, registou-se um total de 640 milímetros de chuva nesta província, informaram as autoridades, algo que costuma equivaler à quantidade total de chuva durante um ano.
As autoridades temem que o número de vítimas possa subir, devido à elevada quantidade de pessoas desaparecidas, encurraladas no metro subterrâneo, autocarros, escolas e edifícios.
O Governo chinês enviou o exército para ajudar nas operações de resgate e foram obrigados a explodir uma barragem em Luoyang, a oeste de Zhengzhou, que tem uma população de cerca de 7 milhões de pessoas, para libertar as enchentes que ameaçavam aquela que é uma das províncias mais populosas da China.
Europa Central não estava pronta para as cheias
Na Alemanha morreram 169 pessoas, segundo o mais recente balanço, realizado esta terça-feira pelas equipas de salvamento locais. O estado da Renânia-Palatinado, no sudoeste do país, foi o mais afetado, tendo registado pelo menos 121 mortos.
Na Bélgica registaram-se, até à data, 37 vítimas mortais e cumpriu-se, esta terça-feira, um dia de luto nacional e um minuto de silêncio pelas vidas perdidas.
Esta tragédia levantou diversas questões entre especialistas sobre a capacidade das autoridades alemães para se preparem para as cada vez mais proeminentes consequências do aquecimento global e seus efeitos imprevisíveis.
Segundo Francisco Ferreira, «os impactos estão diretamente relacionados com o ordenamento do território e a localização de centros urbanos, de aldeias a cidades, ou de infraestruturas, desde autoestradas a barragens, que se basearam na história de um clima que mudou, estando agora em zonas de risco», afirmando ainda que «a ocupação feita de muitos dos terrenos agrava as consequências porque ao impermeabilizar os solos aumentam as escorrências».
O especialista alerta que «o clima é muito resiliente e voltar à situação anterior demora décadas» e, por isso, é essencial, agora mais que nunca, «reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, mas também temos de nos preparar para conviver com uma nova realidade climática e com outros impactes agravados como a subida do nível do mar».
«Se estes eventos dramáticos com enormes prejuízos humanos e materiais acontecem em países desenvolvidos, é possível uma recuperação dispendiosa, mas há a capacidade financeira para o fazer», alertou o professor para apontar casos, como o de Moçambique, Bangladesh, Índia, Filipinas, onde episódios meteorológicos extremos têm ocorrido nos últimos anos e onde é muito mais difícil realizar esta recuperação e as consequências são ainda mais graves.
«É fundamental toda uma cooperação neste domínio entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, tal como previsto no Acordo de Paris aprovado em 2015», apelou Francisco Ferreira.