Os quatro portugueses suspeitos de terem violado duas jovens espanholas em Gijón, no norte de Espanha, e as alegadas vítimas apresentaram versões diferentes dos acontecimentos, na audição de segunda-feira no tribunal. Dois dos suspeitos ficaram a aguardar julgamento em prisão preventiva, enquanto outros dois ficaram em liberdade e podem regressar a Portugal, desde que se mantenham à disposição da Justiça espanhola.
Victoria Carbajal, uma das advogadas do Centro de Crise para Vítimas de Agressão Sexual que representa as duas jovens espanholas, afirmou ao jornal local El Comercio que as “vítimas estão firmes na sua declaração” e que “estão calmas e se sentem totalmente protegidas pelo Principado [das Astúrias, governo regional] e também pela sociedade”.
A advogada revela ainda que “estão a ser revelados muitos dados incertos” e que “não é claro que [os suspeitos e as vítimas] se conheceram na internet, nem que tenha existido uma relação similar”.
As duas vítimas contaram, na segunda-feira, a sua versão dos factos a uma juíza do tribunal Gijón e, na ótica de Victoria Carbajal, “fizeram-no de forma forte”. “Se a juíza não tivesse visto indícios de crime, dois dos acusados não estariam na prisão à espera de julgamento”, contou.
Já Germán Inclán, advogado dos quatro homens, com idades entre os 20 e os 30 anos, naturais de Braga, indicou que irá apresentar um recurso para que os detidos possam sair em liberdade sob fiança, ou então que possam ficar em prisão preventiva em Portugal.
O advogado afirmou que “a defesa considera que os factos não constituem um crime” e que “as relações sexuais de vários crimes que ocorreram entre os jovens e as queixosas foram em todos os momentos consensuais, e portanto, não são criminalmente relevantes”.
Para sustentar a defesa, Germán Inclán afirma que o relatório médico feito às jovens poucas horas depois da alegada agressão sexual “não apresenta ferimentos como as raparigas afirmam” e que “as únicas lesões objetivas a que os médicos se referem são, num dos casos, um ligeiro edema nos lábios, que poderia dever-se simplesmente ao facto de se terem beijado toda a noite, como eles próprios admitem terem estado a fazer”.
“Há também uma ligeira vermelhidão na zona da virilha, que é também compatível com uma prática sexual normal e corrente […] não há vestígios de bofetadas ou golpes de qualquer tipo”, disse, citado pelo El Comercio.
No domingo, foi entregue à juíza responsável pelo caso um vídeo gravado por um dos portugueses que, segundo o advogado de defesa, prova que não há indício de crime.
“Vê-se as queixosas a ter relações sexuais com alguns dos arguidos. Evidentemente, sem nenhum tipo de violência, intimidação ou coerção. Nada de nada. Simplesmente estão a divertir-se”, contou à mesma publicação, sublinhando que esta prova “é determinante para a inocência dos quatro”.
No entanto, o Ministério Público espanhol considera que os portugueses são “supostos autores de atos violentos”.
Já esta terça-feira, o advogado ameaçou avançar com queixas contra as autoridades e políticos do Principado das Astúrias. Aos jornalistas, Germán Inclán revelou que irá apresentar às famílias dos portugueses “as possibilidades que podem ser abertas, tanto em processos civis como criminais, contra os elementos institucionais que falaram erradamente, condenando quatro cidadãos antes do seu tempo e, acima de tudo, incendiando e quase promovendo a rebelião da população".
Horas após a detenção dos portugueses, no passado sábado, vários responsáveis políticos das Astúrias condenaram o caso, desde o líder do governo regional, Adrián Barbón, à autarca de Gijón, Ana González.
“Estas acusações institucionais já condenaram os meus clientes desde o momento depois de terem sido presos”, disse o advogado, citado pela imprensa espanhola, sublinhando que as condenações por parte dos responsáveis foram "completamente deslocadas e muito perto de serem criminosas".
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