“Greta conquistou a felicidade à custa de espalhar depressão entre as crianças”

Michael Shellenberger apoiou Lula e Chávez, foi ativista do ambiente, mas sentia-se cada vez mais deprimido. Decidiu investigar a fundo como podemos ter um futuro mais limpo e chegou a conclusões surpreendentes. Arrasa os Extinction Rebellion e acusa Greta Thunberg de conquistar a felicidade à custa de semear o desespero junto de milhões de crianças.

Estaremos à beira do abismo? O apocalipse está ao virar da esquina? O risco de extinção da espécie é real? Michael Shellenberger tem boas notícias para os mais alarmados: «A ciência diz que em 2050 haverá menos pessoas a morrer em consequência de catástrofes naturais e que teremos muito, muito mais comida do que conseguimos produzir hoje». No seu livro Apocalipse Nunca – Como o alarmismo ambiental nos prejudica a todos (ed. D. Quixote), este jornalista, ambientalista e investigador norte-americano apresenta dados animadores, como que, «globalmente, as florestas estão a aumentar e os incêndios a diminuir».

Nascido em 1971, Shellenberger era um jovem idealista de apenas 17 anos quando foi para a Nicarágua oferecer o seu apoio ao regime sandinista. O seu fervor político levou-o ainda ao Brasil de Lula e à Venezuela de Chávez, mas acabou por desiludir-se com a extrema-esquerda.

Não deixou, porém, de viajar e de lutar pelas causas em que acreditava. Em 2008 foi considerado ‘herói do ambiente’ pela revista Time. Depois desiludiu muita gente quando passou a defender a energia nuclear como a solução para um futuro mais limpo.

Como jornalista sei bem – e provavelmente o Michael também sabe – a importância do título. Quando leio os comentários a alguns artigos, percebo que muitos não leram mais do que isso.

Certo.

O título do seu livro não pode passar uma mensagem errada?

Porquê?

Não acha que os negacionistas, ou aqueles que simplesmente são demasiado preguiçosos para mudarem alguma coisa no seu estilo de vida, vão ter argumentos para apoiar a sua inércia, argumentos para dizer que não há problema nenhum, é tudo treta?

Mas é mesmo treta que estejamos à beira do apocalipse. As alterações climáticas são um facto. Não é o fim do mundo. Não há base científica para sustentar que as mortes por desastres naturais vão aumentar. Nada indica que a produção de alimentos vai diminuir. Não há motivos para pensar que não conseguiremos adaptar-nos à subida no nível do mar. Não queremos alterar o clima, por pouco que seja, porque temos quintas, cidades e áreas naturais que andam todas à volta da mesma temperatura. Mas seria pior se ficasse mais frio do que se ficar mais quente. E temos de ter em conta de que as alterações climáticas são um efeito colateral de uma melhoria global das condições de vida. Conseguimos tirar 90% da população mundial da pobreza extrema e seria um crime contra a humanidade impedir os dois mil de milhões de pessoas que continuam muito pobres de ter acesso à prosperidade só por causa de uma agenda misantrópica de decrescimento. Na medida em que consegui contrariar o alarmismo, estou muito satisfeito. Há pessoas que não acreditam nas alterações climáticas? Claro que há. Mas o meu livro não diz isso. E só assumo responsabilidade pelas minhas palavras.

Acha que estas visões apocalípticas são uma espécie de versão atualizada dos filmes-catástrofe, como Impacto Profundo ou o Dia Depois de Amanhã, que estiveram muito em voga há uns anos?

Acho que sim. Basicamente, desde o século XIX que os filósofos notaram que os homens, em particular na Europa, mas também noutras nações desenvolvidas, deixaram de acreditar nas religiões tradicionais. Os sociólogos chamam a isto ‘processo de secularização’. E eu chamo a atenção para o facto de haver vários estudos psicológicos e sociológicos que concluem que as pessoas precisam de ter fé. Precisam de acreditar que as suas vidas têm significado e que ‘sobrevivem’ de alguma maneira. Para isso, mesmo que sejamos ateias, constroem aquilo a que se chama projetos de imortalidade: têm filhos, escrevem livros, tornam-se ativistas políticos. Precisamos disso, faz parte de ser humano. E é muito saudável. O perigo é quando construímos projetos de imortalidade sem ter consciência disso. Ou pior, quando tentamos realizar um projeto de imortalidade agredindo outras pessoas ou tentando rebaixá-las. A minha crítica ao ambientalismo apocalíptico não é tratar-se de uma religião, pois acho que de certo modo existirem religiões seculares é algo inevitável. A minha crítica é que não oferece possibilidade de redenção. E além disso é destrutiva, não é humanista. Greta Thunberg acredita que nos está a dizer uma verdade científica, quando na realidade é uma história que vem da Bíblia e do Livro da Revelação [ou Livro do Apocalipse].

Se bem me lembro, no seu livro chama a essas pessoas «os histéricos do Apocalipse». Defende que esta visão catastrofista só lhes traz sofrimento. A minha pergunta é se acha que são infelizes por causa da ansiedade que essa ameaça provoca ou se é por serem infelizes que abraçam a causa do ambientalismo.

Ambas são verdadeiras. Uma reforça a outra, é um ciclo vicioso. Neste livro conto a minha experiência pessoal. Numa fase de depressão fui atraído pelo ambientalismo apocalíptico, e isso só fez com que ficasse mais deprimido. Na altura, ao mesmo tempo, estava a ler livros sobre o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos e sobre Martin Luther King e sentia-me feliz. Apercebi-me de que a história do fundamentalismo ambiental e a estrutura do pensamento depressivo são idênticas: ‘Sou uma péssima pessoa. O mundo é horrível. O futuro é sombrio’. E foi assim que comecei por identificar o impacto psicológico antes de compreender os contornos mais técnicos da questão.

Não acha que Greta Thunberg pode constituir um bom exemplo para os jovens?

Nem por isso. Greta Thunberg fez-se a si própria mais feliz ao tornar-se poderosa e famosa, mas à custa de semear a depressão. Ela diz: ‘Quero que vocês entrem em pânico’. Eu não desejo isso sequer aos meus piores inimigos, porque o pânico leva a comportamentos irracionais. Por que haveremos de querer isso, que as pessoas não pensem? O pânico é muito perigoso, significa tomar más decisões, decisões destrutivas para nós e para os outros. Greta Thunberg conquistou a sua felicidade às custas de milhões de crianças em todo o mundo.

Por falar em pânico. Enquanto lia o seu livro, perguntei-me muitas vezes se seria uma réplica aos livros A Terra Inabitável, de David Wallace-Wells [que descreve um cenário apocalíptico num futuro não muito distante], e A Sexta Extinção, de Elizabeth Kolbert [que fala da ameaça que os humanos representam para as outras espécies].

Em parte. Esses são dois dos autores com que nos cruzamos quando fazemos pesquisa nesta área. Faço questão de no início de cada capítulo do meu livro apresentar todos os argumentos dos meus opositores. Mostro a sua maneira de pensar o mundo para depois a desmontar. Na maioria dos casos, dou-lhes oportunidade de ripostarem e de se defenderem. Em inglês temos uma expressão que não sei se existe em português – ‘espantalho’ [falácia em que se dá a impressão de ter refutado o adversário, embora apenas se tenha evitado a questão substituindo o argumento por uma versão distorcida dele]. É uma figura retórica em que se põem na boca do adversário coisas que ele não disse. Eu faço o oposto: apresento os argumentos dos meus adversários melhor do que eles próprios o fazem. E depois desconstruo-os.

Diz-nos, por exemplo, que a Sexta Extinção não está em curso e que a subida do nível das águas não vai destruir as grandes cidades. Vê-se como um otimista, um anunciador de boas-novas?

Como anunciador de boas-novas vejo, como otimista não. Por exemplo, o livro que vou publicar em outubro mostra como estou preocupado com o fenómeno da toxicodependência nos Estados Unidos, que julgo que resulta de um inimigo maior, que é a angústia existencial. Acho que enquanto não tivermos uma alternativa saudável às religiões tradicionais vamos continuar a criar religiões seculares que nos vão causar problemas. Nesse sentido, não sou otimista. Mas sou otimista no que diz respeito à tecnologia. Veja como desenvolvemos a vacina para a covid em tempo recorde.

Acaba de referir a importância da tecnologia. Acredita que traz desenvolvimento e melhor ambiente e dá o exemplo do Congo, onde viu ruas cheias de lixo. Mas as sociedades desenvolvidas promovem um consumo desenfreado. Vemos as pessoas na Black Friday à luta para comprarem o último produto e há quem troque de telemóvel cada vez que sai um novo modelo. Este é o melhor caminho para proteger o ambiente?

Mesmo antes da nossa conversa publiquei um artigo sobre um grande estudo na prestigiadíssima Harvard Business Review, feito por três economistas, que mostra que os painéis solares vão produzir tanto desperdício que o preço da eletricidade de origem solar vai quadruplicar em relação às estimativas atuais. Os painéis produzem muito mais resíduos do que outros tipos de eletrónica. Tenho este iPhone há três anos. É bastante pequeno e substitui uma aparelhagem de estéreo, alarme, colunas de som, calendários de papel, jornais… No futuro vamos considerar os jornais físicos como uma forma de barbarismo. A desmaterialização está a acontecer e de forma acelerada. E este telefone é uma fantástica máquina de desmaterialização. O processo de diminuição de intensidade material resulta do crescimento económico e do aumento do consumo de energia. Gastar mais energia é bom, porque reduz a quantidade de recursos naturais que se consomem.

Mas há formas de energia que implicam o uso de recursos naturais…

Sim, há sempre alguns recursos usados para produzir energia. Mas a quantidade de urânio que cabe nesta chávena seria suficiente para me abastecer para toda a vida, ao contrário dos muitos camiões de carvão ou de gás natural. Gostava que as pessoas percebessem que a transição energética da madeira para o carvão, e depois do petróleo e do gás natural para o urânio são passos de um processo de desmaterialização. Mas devo dizer que tenho um carro de 2002, com quase 300 mil quilómetros. A minha mulher e os meus filhos gozam comigo, mas não vejo necessidade de comprar um novo. Se o meu fosse perigoso trocava-o, mas está impecável. Defendo uma vida simples, como os verdadeiros epicuristas e os estoicos. Para mim uma vida boa não é estar rodeado de lixo eletrónico.

Em minha casa produzimos uma quantidade impressionantes de lixo. Diz-nos que se estima que em 2100 a economia mundial seja 396 vezes a atual. Isso é sustentável?

Sim. Devemos reciclar o papel, reciclar as latas, reciclar o vidro.

E o plástico?

O plástico deve ir para o lixo. Sabemos agora que 90% do plástico não é reciclado, incluindo aquele que achamos que é. Na Europa e na América mandamos a nossa reciclagem para a Ásia e África e o plástico acaba por ir parar ao oceano. Por isso mais vale deitá-lo no lixo. Temos hoje incineradoras incrivelmente eficientes e limpas. O plástico desaparece. Mas sim, é impressionante o caudal de desperdício que produzimos.

Referiu que graças à desmaterialização gastamos menos recursos naturais, mas todos os anos o Dia da Sobrecarga da Terra [em que se esgotam os recursos renováveis produzidos num ano] chega mais cedo. Não estamos a exaurir o planeta?

O Dia da Sobrecarga da Terra é pura desinformação e propaganda. Publiquei um estudo que desmascara a forma como esse cálculo é feito. Dizem que a única maneira de resolver as alterações climáticas é voltando ao uso da madeira como combustível e depois provam que não conseguimos produzir suficiente madeira. É completamente irresponsável, lixo malthusiano. Nos Estados Unidos já ninguém lhe presta atenção. No geral, o uso de recursos está a cair drasticamente. O mais importante de todos é a terra, mas no que toca outros materiais atingiu o pico e está a cair. Ainda está a subir nalguns países, mas por isso mesmo, porque são pobres, vai atingir um pico e depois cair. O maior risco é que voltemos às energias renováveis, porque têm uma grande intensidade material. O solar, por exemplo, produz 300 vezes mais desperdício do que uma central nuclear. E precisa de 300 vezes mais terra. Custa 10 a 30 vezes mais a produzir a mesma quantidade de energia e a reciclagem dos materiais custa 10 a 30 vezes mais do que simplesmente comprá-los.

Mas temos a ideia de que os painéis solares são amigos do ambiente!

A lavagem cerebral sobre a energia verde e o ambiente é quase chocante. Isto não é mecânica quântica, é física elementar, aritmética simples. A luz solar é difusa e por causa disso tem de se espalhar painéis em grandes áreas para concentrar energia suficiente. O urânio é super denso. Há apenas uma enorme fragmentação dos átomos – é uma pesquisa com cem anos. Onde é que nos enganámos? Há dinheiro e poder envolvidos. Obviamente há sempre dinheiro e poder, mas este erro persistiu porque a oposição ao nuclear se tornou uma religião secular nos anos 60.

Mas Gorbachov queria dar um empurrão à economia soviética com base na construção de novas centrais nucleares e todos sabemos o que aconteceu em 1986: o desastre de Chernobyl. Há quem acredite que foi uma das causas da queda da União Soviética.

Nesse sentido, Chernobyl foi uma coisa boa, não foi? E é graças a isso que hoje os russos têm um magnífico programa nuclear – e não sou de modo algum adepto de Putin, que considero uma figura perturbadora. Nos Estados Unidos também tivemos o desastre de Three Mile Island em 1979. Teve uma coisa fantástica: os engenheiros podem ser muito arrogantes e isso acordou-os. O mesmo com Chernobyl e Fukushima. Os japoneses diziam: ‘Chernobyl jamais poderia acontecer aqui’. Foi mau para a indústria nuclear a curto prazo? Claro que foi. Mas em 2100 olharemos para trás e vamos dizer: ‘Graças a Deus por Fukushima’. Mudou o comportamento das pessoas. Também tivemos muitos acidentes aéreos. Hoje, um avião desaparece na Malásia e está nas notícia de todo o mundo durante anos. Tivemos dois aviões que foram contra o World Trade Center, desencadearam uma guerra de 20 anos. Os aviões a jato são máquinas perigosas e no entanto adoramo-los. O mesmo para o nuclear.

Por falar nisso. O Michael parece viajar com grande frequência. Os aviões não são uma das grandes fontes de poluição?

Sim, essa é a forma correta de colocar a questão se estivermos a falar de emissões de carbono. A aviação seria o último passo no processo de redução das emissões porque é muito difícil obter a densidade energética necessária a partir de outro combustível. Quase de certeza que no futuro vai haver aviões movidos a hidrogénio líquido que nos levam de São Francisco à Austrália numa hora. Já estão a pensar nisso para os chefes de Estado. Mas vai demorar ainda uns cem anos. Por enquanto, acho que viajar de avião é maravilhoso e que até devíamos viajar mais. Seria errado privarmo-nos disso por causa das emissões de carbono.

Joe Biden pretende investir milhares de milhões de dólares num novo Green Deal. Será realmente para combater as alterações climáticas ou apenas um negócio verde, uma nova forma de indústria que vai enriquecer algumas pessoas? Quando nos dizem para trocarmos o nosso automóvel por um elétrico não estaremos a poluir?

É um pesadelo. A produção de materiais é tremenda. Quanto a Biden, trata-se de puro patrocínio político. Se os democratas distribuírem um trilião de dólares por diferentes indústrias, esses grupos de interesse vão por sua vez dar dinheiro aos políticos. Confrontei John Kerry, o enviado presidencial para o clima, com os grupos de interesse e ele reconheceu. Disse que quando os políticos precisam os grupos de interesse estão lá para os ajudar, o que foi de uma honestidade pouco habitual.

Gostava que me esclarecesse um aspeto pessoal. Quando deixou de ser vegetariano e porquê?

Por motivos irracionais. Um dia cheguei a casa e a minha mulher, que estava grávida, estava a cozinhar um bife. Cheirava maravilhosamente. E eu simplesmente perguntei-lhe se podia comer um bocadinho. Benjamin Franklin também era vegetariano. Conta-se que um dia ia num barco de Boston para a Europa, estavam a cozinhar peixe e cheirou-lhe bem. Quando abriram o peixe, saíram outros peixinhos lá de dentro. E ele diz: ‘O peixe comeu os peixinhos’. Foi aí que descobri que o vegetarianismo é um sistema de crenças. É uma religião irmã do ambientalismo. Podes ser a pessoa mais rica do mundo, ter um jato privado e andar o ano todo de um lado para o outro, como o príncipe Harry ou o Leonardo di Caprio, e dizeres que defendes o ambiente. Não creio que sejam pessoas intrinsecamente más, simplesmente quanto mais hipócritas são, mais acreditam e mais apocalípticas são.

Deixou de ser vegetariano porque deixou de ser idealista e se tornou pragmático?

É uma pergunta interessante. Persisti no radicalismo durante muito tempo. Não era apenas ambientalista, trabalhei para a esquerda radical – para os sandinistas na Nicarágua, para Lula no Brasil. Em 2004 estive na Venezuela a apoiar Hugo Chávez. Ao ver todas aquelas pessoas a abanarem bandeiras com a foice e o martelo pensei: ‘Esquece’. Também por essa altura dei-me conta de que o discurso das alterações climáticas era deprimente. Por um lado, a mudança foi gradual. Por outro, teve um momento importante quando percebi que a energia nuclear é mãe do progresso. Quando se muda de opinião sobre o nuclear, muda muita coisa.

Elizabeth Kolbert prevê que em 2050 haverá grandes desastres naturais, grandes convulsões no planeta, muito sofrimento. O que acha disso?

Acho que as pessoas no Congo de hoje vivem em grande sofrimento e enfrentam desastres climáticos devido a não terem desenvolvido infraestruturas. Não têm sistemas de controlo de cheias. Não têm uma rede elétrica. Não têm estradas, agricultura moderna, cidades funcionais, governos funcionais. A ideia de que Elizabeth Kolbert consegue prever o apocalipse em 2050 é a prova de que está tomada por uma crença religiosa. Não há nada nos relatórios do painel intergovernamental sobre alterações climáticas que leve a essas previsões, nada. Na verdade, a ciência diz que em 2050 haverá menos pessoas a morrer em consequência de catástrofes naturais e que teremos muito, muito mais comida do que conseguimos produzir hoje.

Então não precisamos de preocupar-nos com os nossos filhos?

Devemos preocupar-nos, mas sobretudo por passarem demasiado tempo agarrados ao Instagram. Vemos que os níveis de depressão e ansiedade entre os jovens nos países desenvolvidos estão a subir. Não podemos afirmá-lo perentoriamente, mas parece haver uma relação entre essa subida e as redes sociais. As redes sociais causam adição, assim como uma grande ansiedade social. As crianças sentem que não são populares, que não têm amigos. Por outro lado, protegemo-las demasiado. Nós, humanos, precisamos de ser desafiados, precisamos da adversidade. As piores pessoas são as que nunca sofreram, as melhores são as que sofreram e superaram isso. Esse, a meu ver, é o principal desafio que as crianças enfrentam. Claro que há o perigo de perdermos algumas regiões tropicais e devíamos fazer mais para o evitar. Para mim, o maior problema ambiental é a expansão de agricultura de baixa eficiência para florestas tropicais em África, na Ásia e na América Latina. Mas isso seria resolvido pela urbanização e industrialização. Devíamos transferir fábricas da China para países pobres de modo a afastar as pessoas das florestas para as cidades. Mas os problemas dos nossos filhos são principalmente espirituais e psicológicos, não ambientais ou económicos.

Apresentou o Congo e a América como exemplos de caos. Não viu belas paisagens naturais?

Sem dúvida. Os trópicos são fabulosos. A Amazónia, em particular, é uma verdadeira joia que temos de proteger. Parte do problema é que a Greenpeace pôs no mesmo saco a floresta tropical e a zona de savana que fica abaixo, o que levou a uma fragmentação dos habitats que é terrível para muitas espécies. Tem de se fazer corredores. Os grandes felinos, por exemplo, não atravessam essas quintas.

E vida selvagem, teve oportunidade de ver nas suas viagens?

Em dezembro de 2014 fui com a minha mulher ver os gorilas no Congo. Alguma vez viste? Certifica-te de que vais ver os gorilas da montanha pelo menos uma vez na vida antes de morreres. Os elefantes, as girafas, as hienas e leões são incríveis, mas os gorilas são uma coisa do outro mundo. É uma experiência espiritual. É como se percebêssemos que fazemos todos parte de uma grande família.

A capa da edição portuguesa de Apocalipse Nunca mostra dois ursos polares. Acha que estes animais ainda vão existir em 2100?

Claro! Possivelmente até haverá mais do que hoje.