Começam amanhã as candidaturas ao acesso ao ensino superior. Mas, ao contrário do que aconteceu em 2020, as médias dos exames nacionais este ano são mais baixas, o que “dificulta o acesso e cria alguma situação de injustiça em relação ao ano passado”. A garantia foi dada ao i pela presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup), Mariana Gaio Alves.
A explicação é simples: no ano passado por força da pandemia foram alteradas as regras de realização dos exames finais do secundário – em que os alunos respondiam a muitas perguntas e, em alguns casos, escolhiam as respostas mais corretas – um processo que não foi seguido este ano.
A presidente do sindicato afasta a ideia de ter existido “algum facilitismo” em relação a 2020, mas por as médias terem sido mais altas agora cria um “cenário de incerteza sobre o acesso ao ensino superior”. Uma tarefa que poderá ser ainda mais difícil se concorrem alunos que não entraram no ano passado e que vão voltar a concorrer este ano. “No caso de um aluno que não tenha entrado no ano passado e que se candidate este ano tem uma vantagem acrescida, porque as médias foram mais elevadas, o que também fez subir bastante as médias em alguns cursos e vão concorrer com alunos que fizeram este ano exames mais difíceis e tiveram notas mais baixas”, diz ao i.
Face a este cenário, muitos professores do ensino secundário estão a pedir um aumento das vagas no superior. Um pedido já afastado pelo Ministério de Manuel Heitor, apesar de garantir que “não deixarão de se tomadas as decisões apropriadas” caso as circunstâncias o exijam, mas que é aplaudido por Mariana Gaio Alves. “Acho que é muito importante aumentar o número de vagas no ensino superior. Seja por esta razão concreta dos exames deste ano, seja porque, temos uma procura relativamente diminuta face àquilo que deveria ser”, lembrando que “temos muito menos diplomados do que aquilo que é habitual nos países da União Europeia”.
No entanto, lembra que esse aumento de vagas deve ser acompanhado pelo aumento de apoios financeiros com vista a reduzir o abandono escolar, assim como criar condições no interior das instituições. “É preciso criar condições de qualidade das instalações, qualidade dos equipamentos tecnológicos, qualidade das condições de trabalho dos docentes, tudo isso é importante para que possamos, da melhor forma possível, acolher um número cada vez maior de alunos e continuar a garantir aquilo que tem sido a qualidade das aprendizagens no ensino superior”, refere ao i.
Alterar condições de acesso? A presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior admite que, uma das soluções, poderia passar por mudar as condições de acesso ao ensino superior, apesar de reconhecer que temos “assistido a algumas ligeiríssimas alterações” admitindo que “o ensino secundário tem estado a mudar muito e os exames também estão a ser equacionados como forma de avaliação final do secundário”. E como tal defende que “seria muito importante repensar esta questão de acesso ensino ao superior”.
E a explicação é simples: “Basta um dia os alunos estarem mal dispostos ou estarem muito nervosos ou a prova não ser o que eles esperam para o resultado ser diferente e até prejudicial e a nota final pode não traduzir o que eles sabem”.
Ainda ontem saiu uma portaria a estabelecer as condições de acesso ao ensino superior, mas Mariana Gaio Alves admite que a grande preocupação é dar “resposta a situações, por exemplo, de alunos que vêm de sistemas educativos onde não existiram exames, alunos de filhos de emigrantes ou de outros países que querem concorrer ao ensino superior português e que não fizeram exames”. No entanto, reconhece que vem introduzir “alguma desigualdade relativamente aos estudantes que em Portugal fizeram esses exames”, acrescentando que a ideia passa por ter “alguma oferta em termos de vagas para esses estudantes”.
Expectativa em relação ao próximo OE A presidente do SNESup garante que em relação ao próximo Orçamento do Estado espera que haja uma mudança de política face aos anos anteriores e que tem sido caracterizado por uma diminuição do financiamento estatal e do financiamento do orçamento público para o ensino superior. “Espero que exista um sinal forte que é preciso investir financeiramente nas instituições de ensino superior para darmos respostas aos jovens e adultos que frequentam o ensino superior”, dando como exemplo, as dificuldades que têm sido reportadas pelos estudantes. “É extremamente difícil chegar a um apoio para frequentar o ensino superior, uma bolsa ou um apoio social, e muitas vezes, os processos são tão morosos para saber se têm esse apoio que já passaram meses desde o início do ano letivo e ou as famílias têm capacidade para durante esses meses estar a suportar esses custos sem saber se esse apoio social vem ou não, ou então não é possível”, refere ao i.
Outra solução poderia passar por uma maior aposta nos politécnicos que, no seu entender, “do ponto de vista da sociedade apresentam uma imagem menos valorizada do que as universidades”. Mas deixa um alerta: A questão do ensino superior, sejam eles universidades, sejam eles politécnicos, que estão no interior exige politicas concertadas para apoiar a ida dos estudantes para esses centros. Muitas vezes, são instituições que estão em regiões onde não há jovens em número suficiente para preencher as vagas dessas instituições e seria vantajoso termos algumas medidas de apoio que permitissem ocupar essas vagas com jovens de outras regiões, mais uma vez, voltamos aos apoios sociais, às bolsas de apoio ao alojamento, aos transportes, etc., tudo isto tem muita importância para facilitar que um estudante de um grande centro e do litoral se possa deslocar para noutras regiões do país, porque isso exige custos acrescidos, os economistas falam de custos diretos e indiretos e de facto os custos indiretos de frequentar o ensino superior são muito elevados”.