A primeira pergunta que se impõe é: como é que um benfiquista tão atento ao clube agenda a entrevista para a hora do jogo [Benfica-Spartak Moscovo, jogo da 2.ª mão da 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões]? [Vira o ecrã do computador para mostrar o jogo a dar na televisão] Está explicado [risos]? Hoje estive a trabalhar e ou teríamos de adiar ou tinha que ser a esta hora. Como dou sempre prioridade ao trabalho… Gosto muito do Benfica, mas gosto mais de trabalhar e esta entrevista faz todo o sentido. Mas se houver algum golo eu faço sinal [risos].
Falando um bocadinho mais a sério, mas aproveitando a onda do futebol, como foi o processo de ‘transferência’ para a SIC? Foi complicado ou foi uma decisão fácil?
Não foi uma transferência. No fundo eu e a minha equipa decidimos que precisávamos de dar outro rumo à minha carreira. Por vários motivos, e por respeito à TVI, nunca ‘jogámos’ nos bastidores. A nossa primeira decisão foi no sentido de desvincular-me da TVI – porque sentíamos que aquilo não era o que desejaríamos para nós para já, para os projetos que estavam propostos, e só posteriormente perceber como é que o mercado reagia. Inevitavelmente, depois, acabei por ter este convite da SIC que foi não mais do que uma conversa em que se tentou perceber de que forma é que eu poderia crescer. Aqui pesou muito também o facto de a SIC ter uma plataforma que produz séries, filmes e estar muito ativa no streaming. Nós, enquanto atores, precisamos muito dessa oferta. Na TVI, por enquanto, não existe tanto essa oferta de séries e filmes, por isso a ligação que tenho neste momento com a SIC é o melhor dos dois mundos. Tenho um compromisso como base da SIC e depois tenho também oportunidade de poder fazer séries ou filmes – aqui ou lá fora -, com o devido apoio por parte do Daniel [Oliveira] e da SIC.
Mas, tendo em conta a rivalidade entre as duas estações – e a sempre presente guerra de audiências –, pode comparar-se a tua mudança a às saídas dos jogadores do Benfica para o Sporting ou vice-versa? Foi mais difícil decidires sair da TVI ou fazer a preparação para três capas da Men’s Health? És aliás o único com essa marca…
E da GQ também fiz três [risos]. A decisão não foi difícil, antes de mais pela administração, com quem mantenho contacto, e essas pessoas estiveram sempre a par das minhas intenções e do que desejaria de facto para mim. Há aqui uma diferença entre o que é a direção e o que é a administração. A administração gere a empresa e a direção gere a grelha. Eu tenho a consciência de que não apanhei ninguém de surpresa porque em privado e a quem de direito consegui expor sempre o que sentia. Isso é o que me faz ter a consciência tranquila e a leveza que tenho hoje. Eu era incapaz de desrespeitar a TVI ou quem lá trabalha fazendo um golpe na vanguarda, mudar de direção e apanhar toda a gente de surpresa, nunca o faria. Por isso é que saí da TVI no dia 30 de junho ou 1 de julho e só hoje [10 de agosto] é que estamos aqui a falar da minha ida para a SIC. A decisão foi sempre normal. Não digo que não houve tentativas para que eu ficasse porque acho que também por parte da TVI existe alguma pena de que eu tenha saído – e eu também a tenho -, mas olhámos para os projetos que estavam em cima da mesa e as propostas de trabalho que iria ter num futuro próximo e, na verdade, eu não gravava desde a [novela] Prisioneira, que foi há dois anos. Fiz entretanto uma série [Pecado], que também não estreou e a proposta que eu teria era também de novela – e ainda teria de esperar uns meses. Com 32 anos o que eu mais quero é trabalhar e diversificar, não podia nem quereria ficar tanto tempo sem estar no ativo. Por esse motivo, esta decisão de sair foi natural. A decisão de entrar na SIC se calhar custou-me mais do que sair da TVI porque, aí sim, pensei que estaria a ir para um ‘rival’, mas sem nenhum tipo de peso na consciência tendo em conta que mesmo depois de ter saído da TVI, e ainda hoje, continua a haver contacto e respeito entre mim e as pessoas que me merecem esse respeito no grupo Media Capital.
Sempre mostraste que és muito ligado à família e que o teu núcleo familiar é muito importante na tua vida. Os teus mais próximos tiveram algum peso nesta decisão ou tomaste-a sozinho?
Partilhei com os meus pais sempre que poderia tomar alguma decisão. O momento de decidir foi mais discutido, obviamente aqui em casa também. Ouvi muito a opinião da Kelly [Bailey] porque é a pessoa que melhor me conhece e que mais convive comigo, e é uma opinião que me interessa muito porque tem uma cabeça muito parecida com a minha. Mas também partilhei com a Vanessa Veloso, minha agente, e com o [João] Belo, meu publicist, nós fazemos uma equipa já há muitos anos. É uma decisão que é deles também, assim como as suas consequências. Decidi com o meu núcleo, João, Vanessa, Francisco, que também trabalha na [agência] Naughty Boys, e a Kelly. Os meus pais foram sabendo, claro que antes de anunciar fosse o que fosse, mas hoje em dia tento ao máximo isentar os meus pais de uma carga de decisões porque eu já sei muito bem aquilo que quero. Vivo comigo, trabalho comigo, eu é que sei como é o meu dia a dia [risos]. Os meus pais também sabem pôr as coisas no lugar e no fundo o que eles querem é só que eu esteja bem, por isso, dizem-me sempre: ‘Se estás bem vai para onde tu quiseres. Se queres mudar de área muda, se quiseres ficar fica, mas sê feliz’.
Nestes últimos 12 anos em que estiveste na TVI fizeste uma média de um projeto por ano, quase exclusivamente novelas. A saída também se prendeu com o objetivo de dar o salto deste estatuto de ‘galã das novelas’, que provavelmente nunca irias deixar de ter?
Exato, é um dos motivos. A oferta da TVI é mais limitada às novelas, tendo em conta que nunca enveredei para a parte de entretenimento por opção do canal – podia ter surgido e acabou por não acontecer. Assim sendo, como ator, só tinha novelas ou ir ao programa cozinhar ou ser entrevistado. Nesta fase da minha vida eu preciso de mais. Dentro da TVI até poderia ter a liberdade de fazer coisas para a RTP ou para fora, que sei que teria sempre o apoio deles, mas se o meu contrato era com a TVI eu também teria de ter ali ofertas que me completassem. As novelas, para nós atores, são coisas que gostamos de fazer, estamos muito tempo uns com os outros e criamos laços para a vida mas, no final de contas, também queremos entrar nesta parte do streaming, das séries mais curtas, dos filmes, porque dá para trabalharmos com mais tempo e também é importante para nós trabalharmos com outras pessoas, conhecermos novos realizadores, novos diretores de fotografia, trabalharmos com outros atores. É importante essa mudança e já há alguns anos que sentia que precisava de um refresh, e foi o que fiz.
Sentes que o desejo de entrar na área do entretenimento se esfumou com a nova direção da TVI? Se essa oportunidade te fosse dada terias pensado duas vezes?
Provavelmente não. A parte do entretenimento, para uma pessoa que quer ser ator, pode ser passível de se concretizar se houver algum formato específico com o qual nos identificamos. Mas a minha prioridade será sempre como ator. Sinto que em relação a mim, mesmo nas notícias, dá-se demasiado ênfase à parte do entretenimento quando eu nunca procurei isso. O máximo que terei dito é que poderia aceitar ou experimentar, mas nunca disse que o meu objetivo seria, por exemplo, ser apresentador. Para isso já teria abraçado outros projetos que me propuseram. A minha questão é mais haver outras hipóteses, para além das novelas e, aí sim, um projeto de entretenimento que me cative, porque não? Não era um objetivo fazer parte da grelha e ir apresentar um programa. Na SIC tenho uma oferta mais alargada, porque falamos de novelas, das séries na Opto, eventualmente telefilmes, coisas que sei que vão acontecer e que estão na calha. A SP Televisão também já produziu uma série para a Netflix – FBI – e é toda uma rede que me cativou mais. A parte da direção também influenciou. Não que tenha alguma coisa contra a direção da TVI, de todo, mas as opções hoje em dia são opções com as quais deixei de me identificar tanto, o próprio ADN… Mas digo isto sem criticar, de forma nenhuma. Nestas coisas temos de ter a cabeça fria, não ter tanta ligação emocional quando o que nós queremos é ter uma carreira sólida e desafiante para crescer e sentirmo-nos sempre motivados. Existe um bocadinho essa rivalidade, eu chamo-lhe clubismo. Na TVI e na SIC não deveria existir esse clubismo, quando estamos a ver televisão ou pomos no canal 4 ou no 3. Acho que devíamos ver aquilo de que gostamos. Se nos apetece ver um produto de Reality Show vemos, uma novela vemos, se nos apetecer ver a novela do canal ao lado, que está melhor, devíamos ver. Não nos deveríamos apegar tanto à questão dos clubismos porque isto são empresas que fazem televisão, são as duas válidas, têm as duas o seu mérito. Nós, enquanto espetadores, não devíamos ter tanta ligação emocional com o canal quando o canal só quer entreter-nos. Esse é o meu ponto de vista. Existe muito clubismo dentro da televisão e isso não faz sentido. As audiências para nós espetadores não nos interessam para nada. Acho que estamos a viver mais as audiências, com as quais só as empresas é que se devem preocupar e deixamo-nos influenciar por aquilo que ouvimos. A mudança que eu fiz causa-me impressão, mas não é porque gosto mais de ver este canal ou aquele, é porque estive 12 anos a trabalhar ali, conheço pessoas que trabalham ali, conheço as paredes e o caminho para lá, tudo… A ligação emocional que tenho não deve ser a mesma que as pessoas têm. Reparei que quase toda a gente me felicitou porque têm olhos na cara e percebem a minha opção, mas prefiro que as pessoas valorizem mais os produtos em que nos inserimos do que propriamente assistirem por estarmos no canal A ou B. Eu hoje vejo a novela deste canal e amanhã posso ver a novela do outro canal se gostar mais, ou pelo menos devia ser assim.
Ainda antes de seres anunciado como o novo reforço da SIC, falou-se muito numa eventual aposta numa carreira internacional. Foste, aliás, este ano, um dos nomes selecionados para o programa Passaporte, uma iniciativa da Academia Portuguesa de Cinema que visa a internacionalização de atores portugueses. Chegaste a fazer o primeiro casting? E qual é o objetivo? Temos os casos recentes de Nuno Lopes e Albano Jerónimo, por exemplo…
Fiz, fiz. O objetivo mantém-se e por isso disse que agora tenho o melhor dos dois mundos. Quando saio da TVI saio com incerteza de futuro. O Passaporte aconteceu e até foi antes do fim do meu contrato, mas não é mais do que uma forma de conhecermos diretores de casting que têm a oportunidade de ver o nosso trabalho – a partir daí pode ou não surgir uma oportunidade de futuro, mas não pode ser nunca uma coisa em que eu me baseie para seguir um caminho porque nunca se tem a certeza. Mas o Passaporte é para a vida, ou seja, eu posso ser convidado para qualquer coisa daqui a cinco ou dez anos ou posso nunca ser convidado. E eu não posso ficar esse tempo à espera. Nesse sentido, ter feito o Passaporte foi uma conquista que me marcou porque vou ter a oportunidade de fazer esses meetings todos os anos, mas acima de tudo nós não podemos desprezar aquilo que fizemos até hoje e, no meu caso, foi muito centrado na televisão. Ter esta ligação com a SIC permite-me ter essa liberdade para me poder internacionalizar. Neste campo, se eu pudesse escolher entre a SIC e a TVI tenho que falar muito mais da maior oferta que a SIC pode ter neste momento – não nego que a direção da TVI também não me cativou de alguma forma. E volto a reforçar, não a administração mas a direção. Seja como for, isso não me traz mágoa nenhuma, as opções que são tomadas são as que têm de ser tomadas e respeito as pessoas que estão nos seus cargos. Nunca me desviei do meu caminho para criticar uma opção de um diretor nem nunca o farei, muito menos em praça pública falarei mal de alguém que trabalhou comigo ou mesmo que não tenha trabalhado. O que tinha a dizer internamente disse e isso deixa-me de consciência tranquila. Fiz o meu caminho e achei que era altura de sair.
Disseste por estes dias que sentiste que devias ‘libertar-te’ para ‘perceber a tua cabeça e valor’. Pode dizer-se que estiveste sempre um bocadinho em modo piloto automático ao longo de mais de uma década e agora sentes que faltou esse reconhecimento? Ainda há pouco tempo compraste ações da TVI, que entretanto vendeste. Foi quando percebeste que poderias assumir uma mudança relativamente à perspetiva de futuro ou continuação na TVI?
Quando fui convidado para ser acionista foi há mais de um ano. Primeiro, era um negócio atrativo – e continua a ser –, tanto que as pessoas que compraram acho que fizeram um bom negócio. Depois, eu tinha acabado de renovar contrato e era uma forma também de me comprometer a longo prazo com um grupo para o qual trabalhava há tanto tempo. Quando senti que poderia não ser aquele o meu caminho, o de ficar na TVI, senti que se tivesse ações estaria exposto ao que não posso controlar, como as guerras mediáticas de audiências, em que nunca me quis envolver. Nem nunca procurei ter poder dentro deste meio, quero ser só um ator. Quero continuar a ser visto só como ator e não como alguém que tem um cargo de poder e que alguém se possa sentir intimidado com isso, o que limita as relações. Acima de tudo senti que, na eventualidade de querer sair, teria ali um problema para resolver e que deveria libertar-me dessas ações – por motivos que se calhar agora não interessam – e deixar nas minhas mãos continuar ou não – que não estava decidido. Essa decisão foi tomada mais tarde. Tive um feeling de que não deveria assumir um compromisso dessa forma. Foi uma coisa natural e que não inviabilizava que pudesse renovar contrato com a TVI. Simplesmente as coisas continuaram a ir numa direção que depois achei que de facto…
Não fazia sentido?
Sim.
A SIC já anunciou que o primeiro projeto que irás integrar é a série O Clube, que pode ser visualizada na plataforma de streaming Opto. O que te seduz mais nesta diferença entre série e novela?
Antes de tudo, seduz-me o facto de serem temas mais fortes. Uma novela, à partida, tem um enredo já standarizado. Sabemos que existe o bom e o mau, um casal em que depois existe uma terceira pessoa, geralmente a irmã… Não tem mal, mas é universal: ou é cantor, ou pintor, ou advogado, depois há sempre alguma dificuldade na relação e existe toda uma história à volta disso que tem de aguentar uma novela por 200, 300, no meu caso até já foi de 500 episódios! Não digo que me tenha cansado porque acho que posso voltar a fazer novelas, mas só fazer isso já me desmotivava. Já não entrava numa novela com o espírito de começar um projeto do zero. Entrava e parecia que já levava alguma continuidade dos últimos projetos que fazia, até porque identificava muitas semelhanças nas histórias, muitas vezes os elencos também eram parecidos e as equipas também eram as mesmas; o que está tudo bem, é só um facto. Os projetos eram muito morosos, muito longos. Aqui são séries onde, à partida, há sempre um tema forte a explorar e que podemos aprofundar mais. As séries são mais curtas, gravamos quatro meses no máximo, o que também permite uma certa intemporalidade. Uma série que estreie e que resulte pode ter, passado um ano, uma nova temporada. Se eu agora ligar a Opto ou a Netflix posso ver o que foi feito até hoje, as coisas tornam-se mais intemporais e isso interessa-me. A novela vai ter sempre 200 episódios no mínimo. A série pode resultar ou não, mas sabemos que, se resultar, pode levar-nos a outros voos.
E são públicos completamente diferentes, à partida…
Sim. São públicos diferentes conforme o tema. A novela sabemos que é um público mais generalista, a série procura por vezes atingir nichos e outras vezes público em geral. Depende de vários fatores. Estamos a falar de empresas que têm de ser rentáveis e obviamente que há muitos fatores que influenciam a escolha dos argumentos. Por exemplo, esta que eu estou a fazer, O Clube, é uma série mais forte que, para mim, vai ser um desafio. Sei que, por um lado, pode não ter tanto público porque não vai passar em canal aberto, mas, por outro, pode ser mais intemporal e as imagens acabam por ser mais cuidadas porque temos mais tempo, outras câmaras, gravamos menos minutos por dia, o próprio ambiente é diferente… As séries ganham uma importância cada vez maior e sempre que fazemos produtos que nos diversificam é um gatilho que se lança. Fiz duas séries para a RTP [Até que a Vida Nos Separe e A Rainha e a Bastarda] que, a bem ou a mal, cativaram esta minha vontade de fazer séries. Tanto numa como noutra, acabei a série sem vontade de acabar. Normalmente quando acabamos uma novela que já vai muito longa, e isto não é dizer mal, já estamos todos a querer acabar. Nas séries estamos sempre com bom espírito e com vontade de que aquilo corra bem e que venha outra temporada, a não ser que a personagem morra [risos]. Este ano, por também não estar a fazer nada para a TVI, tive a oportunidade de entrar em duas produções que me satisfizeram muito e, agora, com O Clube acho que vai acontecer o mesmo.
Muitos atores falam sobre o receio que têm de ficar com a ‘imagem cansada’. Estás há 12 anos sempre a aparecer – enquanto protagonista e nos elencos principais. Há ainda uma série na TVI por estrear, como já falaste, Pecado, em que também participas – que será lançada em setembro, segundo se fala – além da Até que a Vida Nos Separe, vais estar também em A Rainha e a Bastarda – na RTP – que irá estrear no próximo ano e agora n’ O Clube, na Opto. Basicamente é estar a ‘jogar’ nos ‘três grandes’…
É um prazer! É sinal de que trabalhei, não me faz confusão nenhuma. Para mim, a série Pecado já podia estar estreada, eu não trabalho na direção, mas a verdade é que já foi gravada há um ano, portanto não percebo por que razão ficou tanto tempo em carteira. Foi uma série que concorreu e teve o apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) – e são raras as séries que o conseguem. A partir do momento em que está montado, acho que merecia ter estreado o mais cedo possível. Soube que esta série [Pecado] foi montada há alguns meses, então por que razão já não está no ar?!
É frustrante? É, muito. Nós não trabalhamos para aparecer na televisão, o nosso trabalho está feito a partir do momento em que acabamos de gravar, mas temos sempre o objetivo de visionar aquilo que foi feito. Ninguém gosta de fazer um produto que fica dentro de uma gaveta. Eu não gosto. Não gosto de ter feito um projeto que ainda nem sequer se tem a certeza de quando irá estrear. Acho que se fosse um grande desejo já o teriam estreado. Há uma novela que está na TVI que começou a gravar um mês antes de passar no ar. A nossa série já foi gravada há muito tempo. De qualquer forma, eu fico de consciência tranquila, porque era o que eu estava a dizer: o meu trabalho na série ficou feito assim que terminei as gravações. A partir daí os canais é que têm de decidir quando os estreiam.
Passaste os teus 20’s na TVI. Nesta fase de despedida, fizeste uma espécie de viagem ao passado, desde o Rui dos Morangos com Açúcar até aos papéis mais recentes?
Ou não gostas muito de (re)ver? Não, não gosto. Não gosto muito de reviver o passado porque é mesmo isso, passado. Respeito o passado e às vezes para assinalar datas, por exemplo, os dez anos de carreira, aí sim, vemos um bocadinho coisas do passado, mas eu vivo do momento e falo sempre do presente e do futuro.
Ainda no outro dia passava na TVI Ficção a novela Remédio Santo, onde interpretavas o personagem Miguel, que era surdo. Foi o teu segundo trabalho na TVI, logo depois dos Morangos Com Açúcar. Foi um dos projetos mais desafiantes?
O Miguel… Esse personagem foi muito, muito, muito desafiante e adorei. Mas é passado. A nossa reputação enquanto atores é muito curta. As pessoas têm memória curta para o bem e para o mal. Andamos sempre no último trabalho que fizemos, eu pelo menos sou assim. Geralmente as pessoas abordam-me sempre pelo último trabalho a não ser que o anterior tenha sido muito marcante. Por isso mesmo, o último trabalho que fiz na TVI foi a Prisioneira e influenciou um bocadinho o facto de não ter feito nada a seguir que me desse um alento. Já nessa altura sentia que precisava de um desafio. Mas há um projeto que gosto muito de rever, o Belmonte. É o projeto que, se passar, acho que paro para ver.
O que também é caso raro, normalmente os atores que saíram da ‘geração Morangos’ dizem que ainda hoje são abordados na rua por causa desses tempos…
Sim, é verdade. O que eu sinto é que o público que me via nos Morangos cresceu comigo. Mesmo a própria Kelly – e continuaram a acompanhar os trabalhos que fui fazendo e isso é muito engraçado. Não ficam no passado. Foi marcante e eu adorei fazer os Morangos com Açúcar, mas, da mesma forma que a minha vida, seguiu fico contente que também tenham seguido e continuado a acompanhar.
Mas se por acaso apanhas imagens tuas de trabalhos passados ficas a ver para avaliares a tua evolução, por exemplo? Ou mudas logo de canal?
Depende. Se for A Herdeira ou Belmonte paro para ver. Trazem-me muitas recordações boas.
E a Única Mulher, que até foi nomeada para um Emmy?
Sim, sim. Já vi muitas vezes, até para gozar com a Kellyzinha, que era tão nova e minha irmã [risos]. Mas foi um projeto tão longo, tão longo, foram 545 episódios… É muito, muito. Vejo, mas o projeto que me traz mesmo mais saudades é Belmonte. Ganhei ali um grupo de amigos que ficou para sempre e é especial. Qualquer um dos ‘irmãos’ do Belmonte que se cruza tem uma relação muito especial, quase incondicional, e traz memórias muito boas.
Fora da televisão, és também um empreendedor. Tens um restaurante [Villa Sabóia, no Estoril]. Como foi sobreviver durante este último ano e meio, uma vez que a restauração foi um dos setores mais afetados pela pandemia?
Fogo! Foi muito difícil para todos. Eu não fui exceção, como é óbvio. Foi uma crise mundial e obrigarem-nos a fechar os restaurantes, obviamente com justa causa, mata qualquer plano económico. Não foi fácil para nós, mas conseguimo-nos reinventar e aguentar bem. Aproveitei para fazer obras e uma série de coisas. Conseguimos, graças a Deus, prosperar e temos o restaurante a funcionar muito bem. Não deixa de ser difícil porque o turismo em Portugal baixou muito e fomos muito afetados também pelo bloqueio de Inglaterra, que nos tirou da lista verde mais do que uma vez. Vivo muito também desses clientes porque o meu restaurante está muito bem cotado nas aplicações de reservas de restaurantes e acaba por ser muito procurado. Se as coisas continuarem a correr bem, já estenderam os horários, grande parte da população já está vacinada… Acredito que, continuando assim, depois da tempestade vem a bonança.
Quando decidiste ter o restaurante foi mais pelo lado empreendedor ou pela paixão que também tens pela cozinha?
Várias coisas. Estudei gestão no ISEG e sempre disse que só me sentiria completo se conseguisse conjugar a minha carreira de ator com aquilo para o qual estudei, ser gestor. O facto de gostar muito de cozinha trouxe-me sempre o desejo de abrir um restaurante. Quando abri o restaurante, há cinco anos, tinha um sócio comigo. Hoje sou só eu, mas sempre olhei para aquilo como uma forma de poder criar algo e de ter uma ocupação extra quando não estou, por exemplo, a trabalhar. Eu sei que nesta área as coisas são sempre muito efémeras, hoje estamos a trabalhar e amanhã não estamos. Sempre tive muita sorte porque sempre tive muito trabalho e continuo a ter porque sempre procurei.
A propósito desta última edição da Men’s Health, referiste que por vezes já estiveste com o corpo na máxima forma e mentalmente não tão forte – e outras vezes ao contrário. Nesta nova fase da tua vida, em que acabas de completar 32 anos, achas que estás mais perto de atingir o ponto de equilíbrio?
Sem dúvida. Aí junto também a questão da maturidade e o facto de saber o que quero para mim. À medida que o tempo vai passando vamos definindo cada vez mais o que nos vai passando pela cabeça, o que queremos e quais são os próximos passos a dar. O facto de ter vivido também algumas coisas deu-me essa estrutura que me permite não me ficar tanto na parte estética do meu corpo, mas sim ter um equilíbrio entre aquilo que acho que me faz sentir bem e o que sei que também é importante para a minha carreira: que é cuidar de mim e da minha imagem. Consigo equilibrar muito melhor sem ser prisioneiro do meu corpo ou da minha cabeça. Antigamente precisava de estar sempre em regime. Ainda ontem [9 de agosto] fiz anos – comi tudo, bebi, e não tenho essa preocupação.
Seja em datas de aniversário ou no Ano Novo, normalmente temos tendência a fazer balanços ou traçar objetivos. Consegues definir três metas para um futuro próximo?
A nível profissional será sempre que esta nova etapa seja aquilo que estava à espera. Neste caso, gostava de poder corresponder às expectativas e vice-versa. A nível pessoal gostava de cimentar a minha relação com a minha querida Kelly, seja de que forma for, e depois tenho sempre um desejo familiar, que está sempre comigo, que é saúde para a minha família. Gostava de ter a garantia de que a minha família vai ter saúde no futuro.
Casar está nos planos? Para fugir um bocadinho à pergunta sobre filhos…
Para já não. Não é importante nem imprescindível, nem para mim nem para a Kelly. Temos as nossas prioridades e para já não faz parte dos nossos planos. Temos dois bons exemplos, tanto dos meus pais como dos pais da Kelly, que são dois casais que mantêm relações há muitos anos. No meu caso, os meus pais casaram muito cedo, fazem agora 39 anos de casados e são novos. Os pais da Kelly casaram há seis ou sete anos e estão juntos há tanto tempo como os meus pais. São duas linguagens diferentes, mas com o mesmo fim e nós, por termos estes dois exemplos diferentes mas felizes, não temos a pressão de termos de casar para sermos felizes. Se calhar para nós mais facilmente pode ser uma prioridade ter um filho do que casar.
Já percebi que és um consumidor de séries. Podes deixar três sugestões que recomendas?
Há uma série que recomendo sempre e que é intemporal, o Breaking Bad. É a minha série preferida. Estou sempre a insistir com a Kelly para ver [risos], é obrigatória. Vimos também uma série há pouco tempo e da qual gostei muito, a Ratched, que não ficou muito conhecida, mas, para quem gosta de boa direção de fotografia, está brutal. E a próxima é O Clube, 3.ª temporada [risos].