Ativista portuguesa lança campanha de apoio às mulheres afegãs

A campanha, intitulada “Por cada afegã, um sonho roubado”, tem como objetivo que cada pessoa retrate algo que “as mulheres afegãs estão proibidas de fazer”. Recorde todas as regras e restrições aplicadas a todas as mulheres afegãs durante o último governo talibã. 

A ativista Francisca de Magalhães Barros lançou, esta quarta-feira, uma campanha de apoio às mulheres afegãs. Em causa estão as restrições e atentados aos direitos das mulheres impostas no último governo talibã – entre 1996 e 2001 – e que agora, com a reconquista do Afeganistão pelo grupo extremista e com a instauração do Emirado Islâmico, se teme que se repitam.

A campanha, intitulada “Por cada afegã, um sonho roubado”, tem como objetivo que cada pessoa retrate algo que “as mulheres afegãs estão proibidas de fazer”.

“O objectivo é que cada um de vocês tire uma fotografia ou vídeo, e faça aquilo que as mulheres afegãs estão proibidas de fazer criando assim um largo movimento! De todas as regras impostas pelos talibãs sendo as unhas pintadas uma delas, comecei eu com o mote e espero que me sigam tanto homens como mulheres!”, exemplifica a ativista.

Na legenda da publicação é pedido que se coloque o seguinte texto: “As mulheres afegãs estão hoje presas a um regime que lhes foi imposto com regras que violam todos os direitos humanos universais, sendo essas regras mais que humilhantes e em forma de protesto cada mulher e homem vai manifestar-se contra elas! #porcadaafegãumsonhoroubado”.

 

Segundo a Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão (RAWA na sigla em inglês), as mulheres sob o regime talibã entre 1996 e 2001 estavam proibidas de trabalhar, sair de casa sem um familiar do sexo masculino, estudar ou receber tratamento de um médico homem. O uso da burca tornou-se obrigatório e podiam ser chicoteadas, espancadas e vítimas de abuso verbal as mulheres que não se vestissem de acordo com as regras dos talibãs. Se não escondessem os tornozelos, eram chicoteadas em praça pública. Não podiam usar calças largas, mesmo por baixo da burca, e as peças de roupa de cores vivas eram consideradas “cores sexualmente atraentes” para os talibãs, sendo assim também proibidas.

Deixaram de poder usar produtos cosméticos e há casos de mulheres que tiveram os dedos amputados por pintarem as unhas. As mulheres deixaram de poder falar em voz alta ou apertar a mão a homens que não fossem seus familiares. Não podiam rir em voz alta, nem calçar sapatos altos que produzissem som ao caminhar. As mulheres acusadas de ter relações sexuais fora do casamento eram condenadas ao apedrejamento público até à morte.

Não podiam apanhar um táxi sozinhas, viajar no mesmo autocarro que os homens, fazer desporto, andar de bicicleta ou motas sem um familiar do sexo masculino, ir a festividades, lavar roupa em rios ou praças públicas ou utilizar casas de banho públicas.

A presença feminina na rádio, televisão ou reuniões públicas tornou-se proibida e todos os nomes e praças que incluíam a palavra “mulher” foram modificados.

Em casa, não podiam espreitar das varandas ou janelas e todos os vidros tinham de ser opacos para que não fosse possível ver o exterior para o interior.

Os alfaiates masculinos não podiam medir, nem costurar roupas femininas. Passou a ser proibido fotografar ou filmar mulheres, bem como a impressão de imagens de mulheres em revistas, livros, ou penduradas em casas ou lojas.