Cabul. Quem são os autores do atentado?

Duas bombas na zona do aeroporto de Cabul fizeram mais de 90 mortos. Americanos temiam ataques do ISIS-K, que já assumiu os atentados.

Aconteceu aquilo que muitos temiam. Um atentado no aeroporto de Cabul no Afeganistão, duas bombas, detonadas em ataques suicidas, que provocaram várias vítimas mortais, mais de 90 civis afegãos, onde estão incluídas duas crianças, treze soldados americanos e mais de uma centena de feridos.

O ataque já foi reivindicado, ontem à noite, mas oficiais dos Estados Unidos, citados pelo El Mundo, já tinham apontado os afiliados do Estado Islâmico, ISIS-K, como os prováveis responsável por esta ofensiva.

“As relações entre os talibãs e o Estado Islâmico não são cordiais, antes pelo contrário”, explica ao i Bruno Reis, subdiretor do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL) e especialista em Segurança. “Este género de ataques mostra que não se pode confiar nos talibãs para controlar estes grupos terroristas”

Na manhã de quinta-feira, já tinha sido feita uma ameaça de atentado durante o processo de remoção de cidadãos na área circundante do aeroporto. “Podemos confirmar que a explosão que aconteceu no portão Abbey foi resultado de um ataque complexo e que provocou um número de mortes entre cidadãos americanos”, informou o secretário John Kirby, através de um post no Twitter, acrescentado que também houve uma explosão junto ao Hotel Baron, que se situa a uma distância curta do local do primeiro ataque.

Segundo um porta-voz talibã, o ataque fez ainda vários feridos na força que agora ocupa o poder.

Quem são os autores do atentado? O ataque do ISIS-K vem complicar o processo de retirada dos cidadãos do Afeganistão e torna mais complexa a questão em torno do Afeganistão.

Esta ofensiva não é uma questão de “porquê”, é mais uma questão de “quando”. Este grupo, que nasceu depois da morte de Osama bin Laden, quando Biden ainda era vice-Presidente de Barack Obama, e não é o mesmo que ganhou fama com ações em outras nações no Oriente Médio,

Este grupo é constituído por ex-membros do Tehreek-e-Taliban Pakistan (Talibã do Paquistão) e por afegãos desiludidos com os talibãs que desertaram e que declararam lealdade a Abu Bakr al-Baghdadi, o ex-líder do grupo, morto em outubro de 2019 durante uma operação dos Estados Unidos na Síria,

O ISIS-K considera-se inimigo dos talibãs, uma vez que acredita que estes abandonaram a fé islâmica pela sua abertura em negociar com os Estados Unidos, pelo seu aparente pragmatismo e o falhanço em aplicar a lei islâmica com “rigor suficiente”, escreve o Guardian.

“Há sinais claro de que uma parte dos dirigentes talibãs pretendem ter uma posição mais moderada, para manter a ajuda internacional a fluir”, ressalva Bruno Cardoso Reis. “Mas há facções dos talibãs, como a rede Haqqani, que têm relações estreitas com a Al Qaeda. É muito difícil acreditar que o Afeganistão não se tornará um refúgio para este grupo”, acrescentou

Será que vai haver uma retaliação? Este ataque era previsível e já tinha sido citado como uma das maiores preocupações do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que justificou a ameaça do ISIS-K como uma das razões para o país estar a “apressar” o processo de retirada de pessoas do Afeganistão, uma vez que podem colocar esta missão em risco.

“Estamos em risco grave e crescente de um ataque por um grupo terrorista conhecido como ISIS-K. Cada dia que passa e que estamos em solo afegão é outro dia em que sabemos que o ISIS-K está a tentar atingir o aeroporto e atacar tanto as forças dos Estados Unidos quanto as aliadas e civis inocentes”, disse Biden, citado pela CNN.

Enquanto o mundo ainda está a recuperar destes mortais ataques, há quem se comece a questionar: Qual será a retaliação?

O especialista em segurança afirma que este ataque “ poderá levar a novas intervenções militares americanas, por via aérea, como se tem visto noutros países”.

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E as pessoas que ainda estão por resgatar? Apesar de já terem sido resgatadas mais de 70 mil pessoas do Afeganistão, até quarta-feira, segundo dados do New York Times, existe um número indeterminado de pessoas que faltam resgatar e que as autoridades dos Estados Unidos se recusam a especificar.

Diversos países, face a estes novos ataques e ameaças, já informaram que vão abortar as missões de resgate no país.

O primeiro-ministro holandês admitiu que iria deixar “um grande número” de holandeses e afegãos para trás, não determinando exatamente de quantas pessoas se trata.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, já tinha afirmado na quarta-feira que “não era claro quantas pessoas iriam permanecer no Afeganistão depois das tropas britânicas abandonarem este país na data estabelecida”, uma questão que também já tinha sido abordado pela ministra da Defesa espanhola, Margarita Robles, que citou a impossibilidade de resgatar diversos cidadãos que se encontram a “dias de distância” de Cabul.

Enquanto pensamos nas vítimas e nas pessoas que faltam resgatar de Cabul, o Ministério da Defesa garantiu que os quatro militares portugueses que chegaram na quarta-feira ao Afeganistão “estão bem”, disse à TVI24.