O plano de resposta do Serviço Nacional de Saúde para o próximo outono-inverno está a ser ultimado pelos serviços do Ministério da Saúde com três cenários como pano de fundo e medidas como redirecionamento de casos não urgentes das urgências para os centros de saúde e alargamento de horários para assegurar a resposta a doentes não-covid.
Segundo as linhas orientadoras apresentadas esta segunda-feira aos representantes das ordens profissionais, a que o i teve acesso, todos os cenários traçados pelos peritos da Direção Geral da Saúde e do Instituto Ricardo Jorge apontam para meses de pressão no sistema de saúde em que será mantida a vigilância epidemiológica, quer da covid-19 quer da gripe sazonal, a realização de inquéritos epidemiológicos aos infetados e a separação de circuitos para atender queixas respiratórias como nos últimos meses, mantendo-se o SNS24 como primeiro contacto em caso de sintomas.
Num primeiro cenário, em que se mantém a atual transmissibilidade da covid-19 sem novas variantes e sem alterações na efetividade das vacinas, o referencial aponta para uma situação de pressão moderada sobre o sistema de saúde e mortalidade por covid-19 moderada.
O impacto não é quantificado, mas seria uma situação menos gravosa do que a do inverno passado, em que a atividade não urgente teve de ser suspensa para responder ao aumento de doentes críticos com covid-19. Num segundo cenário, em que não apareçam novas variantes mais transmissíveis mas se verifique uma redução lenta da efetividade das vacinas, os serviços devem preparar-se para uma pressão elevada e mortalidade moderada a elevada.
No pior cenário, que poderá verificar-se caso surja uma nova variante e/ou uma redução rápida da efetividade das vacinas, a pressão sobre o sistema voltará a ser elevada e pode condicionar um excesso de mortalidade por todas as causas, uma alteração do atual curso da pandemia que os peritos advertem que pode ocorrer “de forma rápida”.
Embora nos grupos etários com mais de 50 anos mais de 90% da população apresente a vacinação completa, nos grupos etários até aos 24 anos as proporções de vacinação completa ainda são moderadas, o que pode promover a transmissão do vírus no regresso às aulas, alertam ainda os peritos. Ontem ao final do dia a Direção Geral da Saúde divulgou as orientações para o regresso às aulas (ver ao lado).
Apesar de a maioria dos pessoal docente já estar vacinado e de 75% dos adolescentes dos 12 aos 17 anos terem já a primeira dose, o parecer da autoridade de saúde foi no sentido de ser montada uma operação de testagem a nível nacional para abranger todo o pessoal docente e não docente e alunos do 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário, que deverá arrancar já na próxima semana. As máscaras continuam a ser obrigatórias a partir do 2º ciclo e as “bolhas” são para manter.
Vacina contra a gripe em mais locais Já fechado mas a aguardar a publicação de uma norma está o reforço da vacinação contra a covid-19 com uma dose adicional de pessoas imunossuprimidas, não estando para já previsto o seu alargamento.
Por outro lado, a vacinação contra a gripe sazonal será reforçada, priorizando os grupos de risco em duas fases. Uma das medidas em estudo é o alargamento dos locais de vacinação se necessário, como aconteceu na vacinação contra a covid-19. As vacinas da gripe serão também administradas gratuitamente aos grupos de risco nas farmácias.
Outra das vertentes incluídas no documento passa pela resposta aos doentes não covid, estando previsto o alargamento de disponibilidade de horários para atividade assistencial programada. Está também previsto o redirecionamento de casos menos urgentes das urgências para os cuidados primários, como tem acontecido nos últimos invernos.
O referencial só deverá ficar fechado nas próximas semanas, com contributos – das ordens da Saúde, a Ordem dos Médicos não esteve presente na reunião de segunda-feira.
Ao i, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, adiantou que os enfermeiros vão entregar um conjunto de propostas à tutela na próxima semana e considera que, além do que um documento orientador, é necessário garantir a “operacionalização”.
“É necessário um reforço dos enfermeiros, não só nos hospitais e cuidados de saúde primários mas nos cuidados continuados e ERPIs (Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas). A vacinação pode levar a um apaziguamento de consciências face ao que aconteceu no último inverno, mas com um enfermeiro para dezenas de idosos não é possível haver qualquer controlo de infeção num lar”, alerta.