O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou, esta terça-feira, que “o mundo nunca esteve tão ameaçado” e sublinhou que “em vez do caminho da solidariedade, estamos num caminho sem fim para a destruição”.
No debate geral das Nações Unidas, que teve início esta terça-feira em Nova Iorque, e conta com a presença de mais de 100 chefes de Estado e de Governo e representação diplomática de todos os 193 Estados-membros da ONU, António Guterres enumerou seis ameaças que o mundo enfrenta: assalto à paz, alterações climáticas, fosso entre ricos e pobres, desigualdade de género, divisão tecnológica ou digital e divisão geracional.
“Estou aqui para alarmar: O mundo tem de acordar. Estamos à beira de um abismo – e a andar na direção errada. O nosso mundo nunca esteve tão ameaçado. Ou tão dividido. Enfrentamos a maior cascata de crises da nossa vida”, afirmou.
Na ótica de Guterres, a maioria dos problemas advém da pandemia de covid-19, responsável por “criar e exagerar as desigualdades sociais e económicas em todo o mundo”. Mas há ainda outra “doença contagiosa”: a desconfiança, como as teorias da conspiração, a desconfiança da população nos seus governos e falta de cooperação entre países.
“Mais de 5,7 mil milhões de vacinas contra a covid-19 já foram administradas globalmente, mas apenas 2% delas em África, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Talvez seja uma imagem que conte a história dos nossos tempos. A imagem que vimos em algumas partes do mundo… de vacinas covid-19 no lixo. Sem validade e sem uso”, frisou, classificando como uma "obscenidade" e grande "falha ética" global o facto de as vacinas não estarem a ser distribuídas de forma uniforme no mundo, devido à "tragédia de falta de vontade política e egoísmo".
“Um excedente em alguns países. Prateleiras vazias noutros. A maioria do mundo mais rico está vacinada. Mais de 90% dos africanos ainda estão à espera da primeira dose. Esta é uma acusação moral ao estado do nosso mundo. É uma obscenidade”, afirmou.
O antigo primeiro-ministro português considerou ainda que “em vez do caminho da solidariedade, estamos num caminho sem fim para a destruição”.