Um dia depois de o diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal, Nuno Fachada, ter apresentado a sua demissão, o PSD pediu uma audição urgente do médico, do Sindicato Independente dos Médicos, da Ordem dos Médicos e do conselho diretivo da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.
O grupo parlamentar dos sociais-democratas entregou, esta sexta-feira, na Assembleia da República o pedido devido à demissão do cargo por Nuno Fachada, que justificou a decisão com a falta de condições do hospital.
No requerimento, o PSD indica que "há muito que o Centro Hospitalar de Setúbal se defronta com graves problemas decorrentes de uma crescente escassez de profissionais de saúde e, bem assim, da desadequação das atuais instalações do Hospital de São Bernardo", dizendo que o Governo se tem revelado "incapaz de dar resposta efetiva aos referidos problemas".
Por tais condições, os deputados sociais-democratas afirmam que não estão surpreendidos com a demissão de Fachada.
Num comunicado enviado aos colegas, citado pela agência Lusa, Nuno Fachada elencou um conjunto de problemas que estão a dificultar o trabalho no hospital de Setúbal para justificar a saída.
Algumas das condições débeis que o diretor demissionário apontou foram a "situação de rotura e agravamento nas urgências médicas, obstétrica, EEMI [Equipa de Emergência Médica Intra-Hospitalar]", assim como "dificuldades noutras escalas como a pediátrica, cirúrgica, via verde AVC, urgências internas, etc".
Estes problemas trouxeram consequências para a equipa médica da unidade hospitalar que também, segundo Nuno Fachada, tem “falta de condições de atratividade dos médicos", "insuficiência ou não abertura de vagas sinalizadas", já fez "dezenas de cortes mensais de salas operatórias" e "rotura em vários serviços por êxodo" de profissionais de várias especialidades.
Nuno Fachada também apontou a "não resposta sobre a requalificação e financiamento do CHS [Centro Hospitalar de Setúbal] para grupo D", "afastamento e colapso dos cuidados primários de saúde, agravando as dificuldades dos doentes" e "incertezas quando ao ecletismo, adaptação e capacidade das obras das urgências" como fatores decisivos para a sua demissão.
"Assim, só restaria a solução de romper com a situação vigente. Romper com a aceitação de continuarmos a ver o estertor do SNS [Serviço Nacional de Saúde], capturado por uma estrutura burocrática pesadíssima e crescente, que asfixia e parasita aquilo que melhor foi feito nas últimas quatro décadas e que tornou Portugal num país avançado, longe das altas taxas de mortalidade infantil e da baixa esperança média de vida", realçou o então diretor no email enviado aos colegas.
O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, já reagiu à saída de Fachada e pediu hoje ao Governo que encare a demissão como "um grito de alerta" e resolva os problemas da unidade.