Horas após a primeira ronda de negociações diretas entre os talibãs e Washington desde que as forças americanas saíram do país, os Estados Unidos aceitaram voltara a enviar ajuda humanitária para o país, declarou um dos porta-vozes do grupo extremista islâmico, Suhail Shaheen, à Associated Press, na segunda-feira. Ao mesmo tempo, Washington fez questão de salientar que isso não significa reconhecer o novo Governo talibã na arena internacional. Sendo que, nesse mesmo dia, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, veio a público denunciar os abusos de direitos humanos dos talibãs.
“Estou particularmente alarmado com o facto de as promessas feitas pelos talibãs em relação às mulheres e às jovens afegãs não estarem a ser respeitadas”, lamentou Guterres, em conferência de imprensa. O secretário-geral da ONU apelou ao grupo extremista, pedindo-lhes para “cumprirem as suas obrigações ao abrigo dos direitos humanos internacionais e do direito humanitário”. Mas não deixou de reforçar o perigo de deixar os afegãos isolados, sem apoio, a pretexto de pressionar os talibãs.
“Exorto o mundo a agir e a injetar liquidez na economia afegã para evitar o seu colapso”, declarou Guterres, na véspera de uma cimeira extraordinária do G20, com o propósito de debater uma estratégia quanto à situação no Afeganistão.
“Este é um ponto de viragem. Se não agirmos e ajudarmos os afegãos a resistir a esta tempestade, e se não o fizermos em breve, não só eles, mas o mundo inteiro irá pagar um preço muito alto”, salientou.
Fome e terror Para Washington, que viu o Estado afegão que moldou e preparou ao longo de 20 anos, gastando uns 2,3 biliões de dólares, cair em poucos meses nas mãos dos talibãs, engolir o orgulho e voltar a enviar alguma ajuda humanitária certamente não terá sido fácil.
Nâo será por acaso que o comunicado dos Estados Unidos explicava que as recentes negociações em Doha tinham sido sobre o fornecimento de “ajuda humanitária robusta”, frisando que seria entregue “diretamente ao povo afegão”.
Outro ponto de interesse para os EUA foram os receios de que o Afeganistão se torne de novo numa placa giratória do terrorismo internacional – claro que ninguém esquece que foi a partir daí que a Al Qaeda de Osama Bin Laden preparou o 11 de setembro. Agora, a grande preocupação é mesmo o Estado Islâmico – Província de Khorasan (EI-K), que levou a cabo um atentado no meio do caos da fuga do aeroporto internacional Hamid Karzai, em agosto, matando pelo menos 170 civis afegãos e 13 soldados americanos.
Contudo, o novo Governo afegão – inimigos mortais do EI-K, cuja liderança é composta sobretudo por dissidentes dos talibãs – terá recusado qualquer participação americana na caça a este grupo jiadista, avançou a NPR.