O poema épico “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, vai ter agora uma edição ilustrada por 10 mulheres, com “atualização do texto” para a linguagem contemporânea, lançada no âmbito da terceira edição da Bienal de Ilustração de Guimarães (BIG).
Na conferência de imprensa decorrida na passada segunda-feira, 11 de outubro, o diretor artístico da bienal, Tiago Manuel, realçou que o projeto visa ir além da “igualdade” prevista “na lei e na Constituição” e da “retórica que lhe está associada”, tendo ainda a “força simbólica” de ser o primeiro trabalho de ilustração de uma “obra canónica” da literatura mundial a ser integralmente elaborado por mulheres.
“Posso dizer com orgulho que Portugal, um país de que gosto e no qual trabalho, é o primeiro a fazer um trabalho ilustrado inteiramente concertado por mulheres, para uma obra que não só faz parte do cânone português, como mundial. Na ilustração, Portugal é dos países com mais representação. Temos artistas a trabalhar para o mundo inteiro”, disse o ilustrador, na sessão de apresentação da obra, decorrida no Palácio Vila Flor, em Guimarães.
Lançada pela editora Kalandraka, vocacionada para a publicação de obras ilustradas, a primeira edição da versão ilustrada de “Os Lusíadas” vai ter 1.200 exemplares, com 600 disponíveis no mercado livreiro, a um preço unitário de 35 euros.
Com lançamento previsto para 21 de outubro, a edição conta com ilustrações das artistas Carolina Celas, Joana Rego, Joana Estrela, Madalena Matoso, Amanda Baeza, Inês Machado, Mariana Rio, Catarina Gomes, Marta Madureira e Marta Monteiro e um ‘design’ elaborado por Joana Pires.
Esse elenco, que foi escolhido pelo júri dos vários prémios da BIG a partir de uma lista mais vasta de ilustradoras, dão uma “visão muito diferente” da epopeia face àquela que seria dada pelos homens. Além das ilustrações, esta edição apresenta ainda um texto adaptado à contemporaneidade, “graças ao trabalho da professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, conhecedora da obra camoniana, Rita Marnoto”: “Uma obra destas implica cuidados e subtilezas. A pessoa mais indicada para adaptar o texto era a professora Rita Marnoto, com uma obra extensíssima em Camões”, explicou Tiago Manuel.
Por sua vez, a responsável Margarida Noronha disse sentir um “orgulho imenso” por ter no catálogo da editora uma obra com uma “modernidade gráfica” que pode “levar o poema épico de Luís Vaz de Camões a públicos-alvo diferentes dos habituais”.
“A Universidade do Minho também quer ser uma instituição que intervém no desenvolvimento cultural, social e económico. (…) A partir da própria reitoria da universidade, já temos editado obras fundamentais da literatura portuguesa, como 'Os Lusíadas', por comemoração dos 30 anos da Universidade do Minho [em 2003]”, recordou.
Rui Vieira de Castro vincou ainda que a adaptação do texto de Camões para o “português corrente” visa “permitir um acesso mais generalizado a uma obra que nem sempre os jovens e a população em geral alcançam”.
Já Adelina Paula Pinto, vereadora com o pelouro da Cultura na Câmara Municipal de Guimarães, entidade que vai distribuir 200 exemplares pelas escolas do concelho, realçou que o trabalho das 10 ilustradoras convoca os leitores a “reinterpretarem” o trabalho de Camões e a “olharem o mundo com novas janelas”.
Em curso desde 11 de setembro, a terceira edição da BIG estende-se até 31 de dezembro, tendo já atribuído o Prémio Carreira, no valor de 10 mil euros, a Cristina Reis, cenógrafa do Teatro da Cornucópia por quatro décadas, e o Grande Prémio BIG, de cinco mil, ao artista Sebastião Peixoto.