No dia 26 de janeiro de 2020, Kobe Bryant, de 41 anos, estrela maior do firmamento da NBA, 18 vezes all star pelos Los Angeles Lakers, viajava com a sua filha de 13 anos, Gianna, duas outras meninas e vários amigos para um torneio de basquetebol juvenil. Estava uma manhã de muito nevoeiro, e Ara Zobayan, o piloto do helicóptero, disse aos controladores de tráfego aéreo que o aparelho estava a sair de nuvens pesadas. Na verdade, estava a cair — até que embateu numa montanha e se despenhou em Calabasas, Califórnia.
Nove meses depois, a tragédia continua a ser objeto de polémica: Vanessa Bryant, a viúva do basquetebolista, mantém uma acesa batalha judicia. Bryant decidiu processar o condado de Los Angeles após alguns agentes tirarem fotografias do acidente “sem permissão e para uso individual”.
Ao xerife local, a viúva já tinha manifestado “a sua preocupação de que o site do departamento pudesse ser pirateado e as fotografias consequentemente reveladas”. “A Sra. Bryant sente-se incomodada ao pensar em estranhos pasmados com imagens do seu falecido marido e filha e vive com medo de que um dia ela ou seus filhos enfrentem imagens horríveis dos seus entes queridos online”, lia-se no processo, de acordo com a agência The Associated Press. Nessa altura, o xerife tranquilizou-a. Contudo, mais tarde, veio a saber-se que um dos elementos da polícia local tinha efetivamente entre 25 a 100 fotografias do local no seu telemóvel pessoal. Entre elas, haveria imagens de corpos mutilados, que foram partilhadas entre os vários membros do departamento. E, alegadamente, aquilo que a viúva mais temia aconteceu: surgiram relatos de que as fotografias estavam a ser partilhadas online. Depois de ter vencido um outro processo em que exigia que a identidade dos responsáveis fosse revelada, a viúva de Kobe Bryant destacou os nomes dos elementos alegadamente envolvidos.
Ao The Times, Joseph Giacalone, que ensina procedimentos policiais no John Jay College of Criminal Justice, em Nova Iorque, disse que, de uma forma geral, partilhar fotos com qualquer pessoa não autorizada a vê-las “é um pecado capital na aplicação da lei”. Face a isso, as agências de aplicação da lei, especialmente em Los Angeles, têm lutado ao longo dos anos com o uso não autorizado de evidências envolvendo celebridades.
A RESISTÊNCIA À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA Agora, a viúva da antiga lenda da NBA alega “danos emocionais e psicológicos” provocados pelas imagens. Porém, o condado de Los Angeles resiste, exigindo a realização de exames médicos psiquiátricos independentes para apurar “se os distúrbios emocionais foram provocados pelas fotografias ou pelo próprio acidente”. “As lesões emocionais não foram provocadas por qualquer conduta dos acusados, mas sim pelo trágico acidente de helicóptero que resultou na morte dos entes queridos”, disse um dos representantes da defesa do condado de Los Angeles, considerando que os queixosos “não podem sofrer qualquer trauma provocados por fotografias do acidente que nunca viram e que nunca foram partilhadas publicamente”. A defesa do condado argumenta ainda que os queixosos pretendem apenas receber “dezenas de milhões de dólares para compensar as alegadas lesões emocionais”.
Em resposta, os advogados de Vanessa Bryant e dos restantes demandantes recusam realizar os exames, considerando que isso iria apenas acentuar os traumas das vítimas: “A queixa meramente reivindica danos por sofrimento emocional, não coloca a condição mental de uma das partes em controvérsia”.
De acordo com o USA Today, o condado está atualmente em busca de uma ordem judicial para “libertar os registos médicos como parte da sua defesa”. “Os demandantes recusam-se a submeter-se a exames médicos independentes. O condado apresenta esta moção para obrigar os demandantes a fazer esses testes, que são necessários para avaliar a existência, extensão e natureza das alegadas lesões emocionais. Os demandantes não podem alegar que sofrem de depressão, ansiedade e severa angústia emocional e depois recusarem-se a apoiar essas alegações “, explicou o advogado de defesa do condado de Los Angeles em comunicado.
Face à polémica solicitação, os advogados de Vanessa Bryant responderam que o condado “está a obrigar os afetados a um exame para lhes relembrar do que aconteceu”. “Não é necessário um especialista, e certamente não é preciso um exame psiquiátrico involuntário de oito horas, para que um jurado avalie a natureza e o alcance da angústia emocional causada pela má conduta dos acusados”, disseram os advogados da viúva. “Este processo é sobre responsabilidade e sobre como evitar que esse comportamento vergonhoso aconteça com outras famílias que sofreram perdas”, sublinhou o advogado de Bryant, Luis Li.