A liga nacional de futebol americano dos Estados Unidos (NFL, na sigla em inglês) vai acabar com a regra que distingue atletas negros de outras raças na altura da realização de testes cognitivos para detetar demência. Os jogadores de futebol americano, nos Estados Unidos, que alegam ter desenvolvido demência devido a lesões associadas à modalidade, têm de passar por uma ronda de testes cognitivos, exigidos pela NFL, para poder aceder ao apoio financeiro da mesma, que ronda, em média, os 500 mil dólares (cerca de 429 mil euros) por atleta.
Acontece que, conforme foi revelado, a NFL utilizava um “ajuste racial” na altura de fazer os testes cognitivos de despiste de demência, através de uma fórmula que assumia que os jogadores negros tinham, à partida, um nível mais baixo de funções cognitivas, relativamente aos seus companheiros de outros grupos demográficos. Assim, tornava-se mais difícil comprovar que os mesmos tinham efetivamente sofrido danos neurológicos à custa das lesões sofridas durante os jogos. A regra terá deixado, acusam os críticos, centenas de atletas negros com demência privados dos referidos apoios e indemnizações, já que, com o tal “ajuste racial”, eram obrigados a demonstrar um maior nível de declínio cognitivo do que, comparativamente, os colegas de profissão brancos, de forma a ver as suas candidaturas aprovadas.
De 2.000 candidaturas registadas para receber estes apoios, apenas 30% tiveram sucesso, e Kevin Henry e Najeh Davenport, que viram as suas candidaturas negadas, não pareceram gostar dos métodos utilizados, alegando que tornavam mais difícil para os atletas negros ter acesso a estes apoios, acabando por avançar com um processo cível. Uma ação, no entanto, que seria rejeitada por um juiz norte-americano, que preferiu sugerir à NFL que negociasse um acordo, agora alcançado.
A NFL, citou a BBC, “confiou em testes cognitivos e metodologias de pontuação amplamente aceites e estabelecidos há muito tempo”, mas o órgão máximo do futebol americano nos Estados Unidos acabou por admitir a descontinuação da prática, em junho deste ano.
Depois de meses de negociações, a liga, a equipa legal conjunta dos atletas reformados e os advogados de Kevin Henry e Najeh Davenport chegaram a acordo, prevendo o fim desta diferenciação. Assim, abre-se a porta a perto de 1.435 jogadores, muitos deles negros, que passam a ter a hipótese de ver os seus testes reavaliados, ou de refazer os mesmos, conforme o The New York Times avançou. Agora resta saber se os tribunais aceitarão o acordo entre a NFL e as equipas legais dos atletas. “Esperamos ansiosamente pela aprovação dos tribunais do acordo, que dará um processo de avaliação neutro, assegurando justiça e precisão nos diagnósticos relativos aos processos de indemnização”, revelou Brad Karp, advogado da NFL.
O documento que propôs o fim desta medida contém 46 páginas, e, principalmente, garante que “nenhuma norma de raça ou estimativas demográficas de raça – seja ela negra ou branca – será usada no programa de indemnizações daqui para frente”. Recorde-se que, segundo o próprio meio de comunicação britânico avançou, a vasta maioria dos jogadores da NFL (mais de 60% dos reformados que ainda estão vivos, e 70% dos jogadores no ativo) são negros.
821 milhões para demência O fundo da NFL para apoio a jogadores com demência desembolsou, até agora, pelo menos, 821 milhões de dólares (cerca de 705 milhões de euros) em apoios, distribuídos por vários tipos de lesões cerebrais, que incluem demência precoce e avançada, doença de Parkinson e doença de Lou Gehrig (também conhecida como ALS).