No início da década de 1960, os jornalistas espanhóis chamavam aos jogadores do Real Madrid ‘Los Vikingos’. O apodo pode ser estranho, mas era representativo da forma como o Real dominava por completo o futebol europeu, sobretudo com a conquista de cinco Taças dos Campeões Europeus consecutivas. Se bem que, à época, o confronto que mais vezes fora disputado entre dois conjuntos do país fosse, ainda, o Real Madrid-Athletic Bilbao, a rivalidade estrepitosa estabelecera-se entre os brancos da capital e os azuis-grenás da Catalunha, ganhando foros de autêntica guerra pela disputa de di Stéfano que, vindo dos Millionários de Bogotá, assinara contrato com os dois clubes. Dominada por capachos do caudillo Francisco Franco, a Real Federação Espanhola, ordenou que o argentino jogasse um ano no Barça, seguido por três no Real, algo impossível de aceitar Frances Miró-Sans, o presidente catalão, que libertou Di Stéfano do seu encargo e o entregou de mão beijada ao Real, desequilibrou por completo a correlação de forças no futebol em Espanha. De tal forma que, entre 1953-54 e 1963-64 (Alfredo Stéfano Di Stéfano Laulhé chegou a Madrid em 1953 e saiu em 1964), os merengues somaram nove títulos de campeões espanhóis, deixando apenas dois para o Barcelona e um para o Athletic Bilbao.
Em Barcelona, a inveja grassava. Não era apenas a superioridade interna dos homens da capital. Eram também aquelas cinco taças europeias que provocar borborigmos no estômago dos dirigentes, jogadores e adeptos culés.
Tendo conseguido romper a teia de vitórias na Liga Espanhola em 1958-59 e 1959-60, o sonho da Taça dos Campeões encrustou-se na cabeça dos catalães como uma lapa das rochas do Calhau da dita, na ilha da Madeira. Como campeões de Espanha, asseguraram lugar na prova. Mas, como campeões da Europa, os madrilenos estavam lá para defender o seu título. Quis o destino que depois de irem ultrapassando com uma perna às costas os adversários que lhes surgiam pela frente – Barça: CNDA Sófia, 2-2 e 6-2; Milan, 2-0 e 5-1); Wolverhampton (4-0 e 5-2); Real: (isento na primeira eliminatória; Jeunesse Ech (7-0 e 5-2); Nice (2-3 e 4-0) – o sorteio os colocasse frente a frente nas meias-finais.
No dia 21 de abril de 1960, o Real Madrid recebeu o Barcelona em Chamartín, perante 120 mil pessoas, e venceu por 3-1 com dois golos de Di Stéfano e um de Puskás contra um de Martinez. O resultado era complicado mas ultrapassável. Pelo menos foi com essa convicção que os jogadores do Barça entraram em Camp Nou no dia 27 de abril com mais de 80 mil espetadores a apoiá-los. Aos 25m, Puskás fez o 0-1. A segunda parte foi terrível. A linha avançada do Real afinou a pontaria: 0-2 por Gento, aos 68m, e 0-3 por Puskás, aos 75. Kocsis só conseguiu reduzir aos 89 e os madrilenos conquistaram a sua quinta Copa da Europa vencendo na final o Eintracht Frankfurt por 7-3. O Barcelona podia reclamar para si o feito de ter sido a melhor equipa de Espanha.Mas não era, decididamente, a melhor do continente.
Clássicos em série
Essa época foi a época dos clássicos. A juntar ao primeiro confronto entre ambos para uma competição internacional, bateram-se duramente num campeonato que o Barcelona conquistou com apenas dois golos de diferença no desempate entre ambos que chegaram aos fim da prova com os mesmo 46 pontos.
Se na primeira volta, em Nou Camp, os barcelonistas tinham batido o Real por 3-1 (com golos de Kocsis, Martinez y Villaverde para os da casa e de Di Stéfano para os forasteiros) – e aí começaram a sonhar verdadeiramente com a possibilidade de baterem o inimigo no mês seguinte na Taça dos Campeões –, o Real guardara a grande vingança para os tais jogos seguintes, os dois que já vimos, referentes às meias-finais europeias. Havia, como seria de esperar, um forte sentimento de revanche pelo desastre na Taça dos Campeões. Por isso, os catalães esfregaram as mãos de contentes quando, na época de 1960-61, o sorteio mandou que voltassem a defrontar o Real na Taça dos Campeões, desta vez logo na ronda inicial. A história mudou. Na primeira mão, em Madrid, empate a dois, com golos de Suárez (27 e 88m) para os catalães e Mateos (1m) e Gento(33m) para os da casa. EmNou Camp, no dia 23 de novembro, Vergés (33m) e Evaristo (81), ultrapassaram o golo tardio de Canário (87m). O caminho estava aberto para o título europeu se não fosse a derrota contra o Benfica na final (2-3).
No dia 4 de dezembro, o ano de todos os Clássicos acabou com a vitória para o campeonato do Real Madrid em Camp Nou por 5-3. Arrasados pela derrota de Berna, os catalães tiveram uma época terrível e terminaram em quarto, assistindo a festa do título do rival. Teriam de sofrer uma longa, longa espera, para ganharem finalmente a tão ambicionada Taça dos Campeões (1992). Amanhã, pelas 15h15, em Nou Camp, a luta continua.