O impacto do novo coronavírus na saúde tem sido objeto de análise e reflexão. Sequelas como inflamação do miocárdio, fibrose pulmonar, insuficiência renal aguda ou perda do apetite têm surgido nas listas divulgadas pelos órgãos de informação e revistas científicas. No entanto, parece que os efeitos secundários provocam também problemas de memória.
Um estudo divulgado na passada sexta-feira no JAMA Network Open – revista médica mensal de acesso livre publicado pela American Medical Association – sugere que algumas pessoas diagnosticadas com covid-19 estão a ter dificuldades ao nível neurológico, especialmente de memória. Esta conclusão foi alcançada através da examinação de 740 doentes do Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, nos EUA.
Os autores entenderam que estas pessoas, frequentemente, desenvolvem sintomas como dificuldades de concentração e confusão mental, esquecendo-se também de determinadas ocorrências. Avaliados entre abril e maio deste ano, e não tendo um histórico prévio de demência, os doentes – todos com idade igual ou superior a 18 anos – demonstraram sinais de comprometimento cognitivo sete a oito meses depois de terem sofrido da patologia.
“Neste estudo, encontramos uma frequência relativamente alta de comprometimento cognitivo vários meses depois de ter sido contraída a covid-19. Prejuízos no funcionamento executivo, velocidade de processamento, fluência e codificação de memória foram predominantes entre os pacientes hospitalizados”, escreveram, acrescentando que levar a cabo ações como o planeamento de tarefas ou armazenar novas memórias também não constituem tarefas fáceis.
Contudo, os investigadores dizem é ainda necessário identificar os fatores e mecanismos de risco subjacentes à disfunção cognitiva, bem como as opções de reabilitação.
Um quarto dos doentes com névoa mental Descrito como névoa cerebral ou névoa mental, o comprometimento cognitivo pode persistir por meses doentes com covid-19, mesmo naqueles que não necessitaram de ser hospitalizados.
Um quarto dos doentes do Sistema de Saúde do Monte Sinai, rede de saúde da cidade de Nova Iorque, que tiveram o novo coronavírus experienciaram alguns problemas de memória – e embora os doentes hospitalizados tenham maior probabilidade de ter essa denominada névoa cerebral, também há casos entre pessoas que precisaram apenas de atendimento em ambulatório.
Sabe-se que entre as pessoas estudadas, 16% apresentavam défices num conjunto de habilidades mentais denominado funcionamento executivo; 18% na velocidade de processamento cognitivo; 20%, na capacidade de processar categorias ou listas; 23%, na recuperação da memória e 24%, na codificação da memória, entre outros.
No entanto, quando se tratava da recuperação da memória, os autores descobriram que 39% dos pacientes hospitalizados tinham deficiência nessa área, em comparação com 12% dos pacientes que não precisaram de internamento. Quando se trata de codificação de memória, as percentagens são de 37% e 16%, respetivamente.
Porém, no mesmo artigo, os autores admitem a possibilidade de haver um viés na amostra tendo em conta que os doentes estudados foram aqueles que procuraram ajuda médica por terem apresentado sintomas da doença.