Os militares do Sudão realizaram um golpe de Estado, esta segunda-feira, e prenderam vários líderes políticos, incluindo o primeiro-ministro, Abdullah Hamdok, na sua casa, enquanto o pressionam para fazer uma declaração “a apoiar o golpe [de Estado]”, informou o Ministério da Informação sudanês.
“As forças militares conjuntas, que mantêm o primeiro-ministro sudanês Abdullah Hamdok dentro da sua casa, estão a pressioná-lo a fazer uma declaração de apoio ao golpe”, disse o Ministério numa curta publicação na rede social Facebook.
Estas detenções acontecem depois de semanas de tensão entre as autoridades de transição civil e militar e dois dias depois de uma fação sudanesa, que pedia uma transferência de poder para o Governo civil, ter advertido para a preparação de um golpe de Estado numa conferência de imprensa que uma multidão de pessoas não identificadas procurou impedir.
O golpe militar está a ser altamente condenado pela comunidade internacional, com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, a condenar o “golpe militar em curso” no Sudão e a apelar à libertação “imediata” do primeiro-ministro.
“É preciso garantir o total respeito pela carta constitucional para que a transição política, duramente conquistada, seja protegida”, afirmou António Guterres através da rede social Twitter.
O Sudão, que, desde agosto de 2019, tem sido governado por uma administração civil-militar encarregada de supervisionar a transição para um regime totalmente civil, está a viver uma transição precária marcada por divisões políticas e lutas pelo poder desde a expulsão do Presidente Omar al-Bashir, em abril de 2019.
Desde a semana passada que as ruas do Sudão foram tomadas por dezenas de milhares de manifestantes que apoiam a transferência total do poder para os civis, em oposição ao Governo dos militares. Após a detenção dos políticos, as manifestações regressaram às ruas, tendo sido respondida com o corte total da internet no Sudão.
Analistas afirmam que estas manifestações mostram um forte apoio a uma democracia liderada por civis, mas os protestos de rua podem ter pouco impacto nas fações que pressionam para um regresso ao domínio militar.