O general Abdel Fattah al-Burhan, que liderou o golpe de Estado que abalou o Sudão, pretende apresentar um novo chefe de Executivo já para a próxima semana, preferindo um tecnocrata. E estará a pressionar o primeiro-ministro derrubado no golpe, Abdalla Hamdok, que tem sido mantido em prisão domiciliária, a aceitar liderar um novo Governo. Com a condição de que os ministros sejam escolhidos pelos militares, claro, avançou a Bloomberg. Entretanto, centenas de milhares de sudaneses não desistem de sair à rua, exigindo que o poder esteja nas mãos dos civis, mesmo enfrentando fogo real dos militares, espancamentos e tortura.
«Tenho medo que este país se incendeie», desafou uma manifestante de 70 anos à Reuters. «Temos medo que estes pessoas matem os nossos filhos. Já houve morte suficiente».
De facto, é exatamente isso que os militares estão a fazer, acusam os críticos. Pelo meio, dezenas de políticos, ativistas e jornalistas foram raptados pelos militares, particularmente pelas temidas Forças de Suporte Rápidas (RSF, na sigla inglesa), uma força paramilitar que, no pico do genocídio do Darfur, em 2003, era mais conhecida como Janjaweed – estas milícias árabes, entretanto absorvidas pelo Estado, são acusadas de serem responsáveis pelo grosso do genocídio contra a minoria cristã ou animista, e que se pensa ter custado até meio milhão de vidas.
Os militares parecem tão confiantes do seu poder que se deram ao luxo de raptar o jornalista Faiz el-Sailik logo após ser entrevistado nos escritórios da Al Jazeera, contou a sua mulher, Mawa Kamel, ao Guardian. «Não consegui falar com ele mas creio que foi levado para uma das prisões das RSF», explicou Kamel. «Estou tão preocupada, ele sofre de asma e outros problemas respiratórios. Não teve tempo de levar os medicamentos com ele».
Não há grande esperança para uma transição democrática num futuro próximo, por mais promessas que Burhan faça. É que, após a queda do ditador Omar al-Bashir, o país foi galvanizado pela escala das manifestações, mas os partidos civis acabaram por aceder a dividir o poder com os militares, que, não satisfeitos com isso, agora tomaram o poder total.