Os cinco maiores bancos a atuar no mercado nacional – Caixa Geral de Depósitos, BPI, Santander Totta, novobanco e BCP – lucram mais de mil milhões de euros nos primeiros nove meses do ano. Mesmo com a crise pandémica, a aplicação de moratórias e a constituição de provisões permitiram, ainda assim, as instituições financeiras lucrarem quase quatro milhões por dia. E, tal como tem vindo a ser habitual, os resultados continuam assentes na redução dos custos de estrutura – com equipas cada vez mais reduzidas e menos balcões – e no aumento das comissões.
A liderar novamente o pódio está a Caixa Geral de Depósitos ao aumentar os lucros em 9,4% para 429 milhões de euros até setembro. A instituição liderada por Paulo Macedo revelou que «a atividade económica em Portugal manteve o processo de recuperação iniciado no segundo semestre de 2020, apesar do impacto mais prolongado em determinados setores e empresas» e que «as perspetivas de um impacto da situação pandémica na economia foi de menor dimensão face ao passado». Um comportamento que vai permitir a instituição financeira a entregar, ainda em 2021, um dividendo extraordinário de 300 milhões de euros.
Mas apesar do resultado, o banco público está reticente em relação às condições de negócio futuras da CGD que, no entender do banqueiro, são «difíceis». E explica: «As condições de exploração estão muito difíceis, a parte ‘core’ [principal] está muito complicada. Estamos satisfeitos com o resultado do banco mas estamos muito conscientes. Os custos com os impostos e com os fundos de resolução voltaram a aumentar», afirmou Paulo Macedo, na apresentação dos resultados.
Segundo a CGD, com o fim das moratórias, foram aplicadas medidas de reestruturação a 3.000 famílias, com um valor total de créditos de 330 milhões de euros, e a 600 empresas, com um total de créditos de 150 milhões de euros. No banco terminaram moratórias em créditos no valor total de 6.206 milhões de euros (3.135 milhões de euros de famílias e 3.071 milhões de euros de empresas). Em 03 de novembro mantinham-se 149 milhões de euros em créditos com moratórias ativas. Ainda assim, garante que mais de 90% dos créditos que tiveram esta medida estão a ser pagos regularmente pelos clientes.
A margem financeira (que resulta da diferença entre os juros recebidos e os juros pagos) caiu 6,5% para 724 milhões de euros, enquanto as comissões líquidas subiram 11,8% para 412 milhões.
BPI triplica
O lucro do BPI disparou 180% para 242 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano – altura em que apresentou um resultado líquido de 86 milhões de euros, revelou a instituição financeira liderada por João Pedro Oliveira e Costa. «Os resultados dos primeiros nove meses evidenciam que o BPI mantém a trajetória de crescimento da atividade comercial e das quotas de mercado, alicerçada numa forte subida nos recursos, no crédito à habitação e na venda de produtos de poupança e investimento. Paralelamente, o banco apresenta uma elevada qualidade dos ativos e uma capitalização confortável», referiu o CEO do banco.
Um dos fatores a impulsionar os resultados deste período foi a receita com comissões, que subiu 15,7%, «impulsionadas pelo dinamismo comercial nos fundos de investimento e seguros de capitalização e pelo aumento da intermediação de seguros, e das comissões bancárias associadas a crédito e a contas, que compensaram a descida nas comissões de meios de pagamento», disse o banco.
A carteira total de crédito a clientes (bruto) aumentou para 27 137 milhões, o que corresponde a um incremento de 1895 milhões. A 30 de setembro, 97,5% das moratórias de crédito estavam em situação regular. No final de setembro terminaram moratórias correspondentes a 3,6 mil milhões de créditos (dos quais, 1,4 mil milhões de crédito à habitação).
Santander Totta em queda
O Santander Totta viu cair o seu resultado em 32,3%, para 172,2 milhões de euros, nos primeiros nove meses do ano. «Embora se registe uma recuperação de comissões -–originadas pelo aumento da transacionalidade dos nossos clientes – assim como uma descida dos custos, a margem financeira manteve a trajetória de queda verificada nos últimos trimestres, condicionada pelo atual nível das taxas de juro de mercado», explicou a instituição financeira liderada por Pedro Castro de Almeida.
O produto bancário ascendeu a 1.025,7 milhões de euros, subindo 6,4% e os custos operacionais diminuíram 1,8%, totalizando 422 milhões de euros, pelo que o resultado de exploração subiu 13% e o rácio de eficiência diminuiu 3,4% para 41,1%. As comissões líquidas totalizaram 315,7 milhões de euros, um crescimento de 15% face ao mesmo período de 2020, «o que reflete o aumento dos níveis de transacionalidade dos clientes, num contexto de reanimação económica, e a estratégia de diversificação dos recursos com maior foco em fundos e seguros financeiros, bem como na distribuição de seguros autónomos de risco», acrescenta o banco.
Nova vida
Ao contrário do que acontecia em anos anteriores, o novobanco apresentou lucros de 154,1 milhões de euros até ao terceiro trimestre do ano, o que representa uma melhoria face aos prejuízos de 853,1 milhões registados no mesmo período do ano passado. «É o terceiro trimestre consecutivo de resultados positivos. Estamos na rota da rentabilidade, de crescimento e preparados para apoiar as empresas e a economia portuguesa. É um virar de página agora também assente numa nova imagem de marca. Os resultados positivos demonstram o crescimento do negócio sustentável com o produto bancário comercial a crescer 6,8%, ao mesmo tempo que os custos operativos caem 3,9%», diz o banco liderado por António Ramalho.
O resultado operacional core (produto bancário comercial – custos operativos) aumentou para 332,3 milhões, «resultado da melhoria do produto bancário comercial e da redução dos custos operativos». A margem financeira e as comissões cresceram 7,3% e 5,8% para 430 milhões de euros e 207,9 milhões de euros até setembro, respetivamente.
As imparidades para crédito totalizaram 115 milhões de euros, que incluem 40,2 milhões de imparidade para riscos relacionados com a covid-19, apresentando uma redução de -70% (-268,3 milhões) face ao período homólogo.
Maior quebra
O lucro do BCP caiu 59,3% para 59,5 milhões até setembro. Em igual período do ano passado, a instituição financeira tinha apresentado um resultado líquido de 146,3 milhões. De acordo com o banco, este valor agora registado inclui «provisões de 313,5 milhões para riscos legais associados a créditos em francos suíços concedidos na Polónia e itens específicos de 87,6 milhões em Portugal, respeitantes essencialmente a custos de ajustamento do quadro de pessoal».Os depósitos aumentaram 8,5% para 68,3 mil milhões e o crédito a clientes cresceu 4,8% para 56,4 mil milhões. Por seu lado, os custos operacionais cresceram 4,8%, mas o banco diz que, excluindo itens específicos, esta rubrica teria registado uma descida de 1,7% para 764 milhões.
Já as comissões líquidas situaram-se 7,2% acima dos 498,2 milhões apurados nos primeiros nove meses do ano passado, ascendendo a 534,2 milhões no mesmo período do ano corrente.
Apesar do fim do regime das moratórias no final de setembro, o banco liderado por Miguel Maya ainda tem 730 milhões de euros de crédito suspenso pela medida. Ainda assim, estes números representam uma pequena parte das moratórias que o BCP chegou a ter. Em setembro, com a descontinuação do regime, expiraram 6,2 mil milhões de euros em moratórias, divididas em igual parte entre empresas e famílias.