Quem, por curiosidade ou desfastio, andar durante um sábado ou um domingo a carregar nos botões do comando da televisão, saltando de canal para canal apanhando jogos de futebol em direto, só se fixa nos do campeonato nacional se andarem por ali jogadores a correrem com camisolas do seu clube vestidas tal é, francamente, a diferença de qualidade, de intensidade, de ritmo e de espetacularidade em relação aos dos países que nos são mais próximos. Quem vê com frequência os jogos da Budesliga ou da Premier League, por exemplo, percebe de imediato porque é que os nossos ditos Grandes fazem figuras grotescas e são brutalmente espancados pelos melhores dessas respetivas provas. O fosso é assustador e cava-se de ano para ano. Se a época passada foi miserável em termos de jogo praticado (com o Sporting a fazer um esforço para fugir à banalidade e oferecendo, ainda assim, os jogos menos emolientes), esta anda a fazer com que o futebolzinho nacional bata no fundo.
Depois de ter sido inevitavelmente atropelado em Munique, num jogo que não chegou sequer a ser discutido, tal a inferioridade do Benfica, Jorge Jesus levantou o argumento da intensidade para explicar a goleada sofrida que podia ter sido bem mais ampla. Um argumento significativo mas que nos leva a perguntar porque estamos tão atrasados nesse parâmetro do jogo. Afinal, se estivéssemos apenas a falar da qualidade dos jogadores, é inevitável que os mais ricos tenham os melhores. Mas se estamos a falar na faceta do apuramento físico, a realidade é bem diversa e há que concluir que o futebol das nossas equipas não tem intensidade porque os nossos treinadores não sabem ou não querem pôr intensidade em campo. Por isso estamos sujeitos a um ramerrão maçador de hora e meia, a um nunca mais acabar de faltas de meia-tijela apitadas por árbitros interessados em ter as partidas interrompidas o mais tempo possível para proteção da sua incompetência, e a jogadores que precisam de tocar a bola duas ou três vezes antes de a colocar no companheiro mais indicado que, por sua vez, também demora o seu tempo a procurar o melhor lugar para se desmarcar, quando isso acontece.
A paragem Fecham-se agora as gelosias da liga para que a seleção nacional cumpra os dois jogos que lhe faltam no apuramento para a fase final do Mundial do próximo ano, que tem lugar no Qatar, na Dublin e em Lisboa, contra Irlanda e Sérvia. Poucos são os que lhe sentirão a falta. Mas, ainda assim, e porque a retoma do campeonato está agendada para o fim de semana de 27/28 de Novembro, são vinte dias de paragem da prova!!! Que diacho! E isto para recomeçarmos com uma eliminatória da Taça de Portugal de jogos tão bocejantes como um Sporting-Varzim ou um FC Porto-Feirense.
Se o campeonato já tem pouco interesse, mergulhado na tal mediocridade que só atura quem não tem, de facto, outra alternativa, como é possível dar-lhe desta forma machadadas brutas na sua integridade ao deixá-lo de molho mais de duas semanas? E como é que se levam a sério os treinadores que se desculpam com o cansaço dos seus jogadores se eles por cá jogam em “slow motion” e ainda têm, como complemento, estes fins de semana de Taça nos quais geralmente os titulares são poupados por quase todas as equipas, principalmente pelas de topo, que têm plantéis mais largos?
Logo após o regresso do futebol de clubes em Portugal segue-se nova ronda Europeia. Com todos os jogadores internacionais parados – ou melhor, reduzidos à banalidade dos treinos –, voltar diretamente para uma eliminatória da Taça de Portugal dá ideia que se pretende que os clubes que andam nas competições europeias possam embrulhar uns poucos deles em algodão em rama. Ficam com apenas a jornada de 3/4 de Dezembro para acelerarem a tal intensidade que já sabemos o campeonato não conseguir oferecer, mas ainda assim…
Venha então aí a seleção que sofre do mesmo problema, mesmo que beneficiando do ritmo de jogadores que fazem parte do grande futebol. E sofre do mesmo problema não porque não tenha elementos com essa tal cultura de intensidade da qual, hoje em dia, o Bayern de Munique é o melhor exemplo, mas porque encara os adversários com um jogo mole e repetitivo, uma espécie de doença que corrói a alma portuguesa atirando-a para a melancolia e distanciando-a da garra e da explosão sem as quais ninguém hoje vence qualquer coisa que seja…