Centenas de migrantes, escoltados por agentes bielorrussos, foram empurrados contra a fronteira da Polónia, ao longo dos últimos dias, num estado de total desespero, estando entre a espada e parede. Na prática, a Bielorrússia de Alexander Lukashenko, mais conhecido como o último ditador da Europa, está a usar esta massa humana como arma de arremesso, furioso com as sanções da UE e pelo seu apoio à oposição bielorrussa, acusou a Comissão Europeia, condenando a abordagem “desumana e tipo gangster” do regime de Lukashenko.
Para as autoridades europeias e polacas, tratou-se de um “ataque híbrido”, acusaram. E teme-se que possa “haver uma escalada deste tipo de ação na fronteira polaca, num futuro próximo, que poderá ser de natureza armada”, alertou Piotr Muller, o porta-voz do Governo polaco, numa conferência de imprensa.
“A Bielorrússia quer causar um grande incidente, de preferência com disparos de armas e vítimas”, acrescentou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Piotr Wawrzyk.
Outros criticam a dura resposta das autoridades polacas, que lançaram uns 14 mil soldados, polícias e guardas fronteiriços no terreno, criando uma zona militarizada com mais de três quilómetros de profundidade junto à fronteira, protegida por camadas de arame farpado, mantendo um blackout à cobertura jornalística – teme-se isso sirva para ocultar abusos. Em resposta à multidão de migrantes que avançou nos arredores da aldeia de Kuznica, alguns usando pás e tesouras para tentar romper o arame farpado, as autoridades dispararam gás lacrimogéneo sobre as barreiras.
Entretanto, estima-se que cerca de quatro mil outros refugiados – incluindo mulheres e crianças, oriundas sobretudo do Médio Oriente, no rescaldo da Bielorrússia ter acelerado o processo de obter vistos a países como o Iraque – se tenham aglomerado em florestas nos arredores da fronteira bielorrussa com a Polónia, segundo a France Press.
Trata-se de gente que sobrevive em condições deploráveis, em tendas no meio do duro inverno bielorrusso, com temperaturas abaixo dos 0ºC, tendo já morrido várias pessoas ao longo das últimas semanas, avançou a BBC. “Ninguém nos deixa entrar em lado nenhum, nem a Polónia nem a Bielorrússia”, lamentou Shwan, um migrante curdo de 33 anos, em chamada com o canal britânico.
“Não há maneira de escapar”, continuou, “todas as noites há helicópteros a voar. Eles não nos deixam dormir. Temos tanta fome. Não há água ou comida aqui, Há crianças pequenas, velhos, mulheres e famílias”.
Da Polónia à Lituânia Para a União Europeia, a responsabilidade desta crise humanitária é integralmente culpa de Minsk. “Os polacos reagiram corretamente até agora”, assegurou o ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, ao Bild.
“Não podemos criticá-los por defenderem as fronteiras externas da UE com meios admissíveis. Os polacos estão a cumprir um papel muito importante para a Europa inteira”, continuou Seehofer, cujo Ministério se disponibilizou para enviar imediatamente polícias alemães para a Polónia, caso o seu Executivo o pretenda. Uma enorme proximidade, tendo em conta que ainda recentemente a Polónia estava em rota de colisão com Bruxelas, por recusar dar primazia à lei europeia sobre a nacional.
Não que a Polónia seja o único país com uma crise de refugiados na sua fronteira com a Bielorrússia. Apesar de ser o país que enfrentou maiores vagas humanas, a vizinha Lituânia também já declarou estado de emergência na sua fronteira, esta terça-feira, permitindo aos guardas usar “coerção mental” e “violência física proporcional” para expulsar migrantes, avançou a Reuters, um decreto que também permite confiscar-lhes os telemóveis, bem como deter qualquer cidadão que auxilie esta gente desesperada.