“Tem-se assistido nos últimos anos a uma grande preocupação política em aumentar o salário mínimo nacional, descurando a atualização dos salários dos trabalhadores mais qualificados, o que está a provocar fortes distorções salariais no país e a transformar Portugal num país em que cada vez mais trabalhadores recebem apenas o salário mínimo ou uma remuneração muito próxima”. A garantia é dada pelo economista Eugénio Rosa.
Uma questão que ganha maiores contornos quando está previsto que o salário mínimo nacional (SMN) aumente para os 705 euros já em 2022. Uma subida que continua a ser possível, uma vez que a decisão depende apenas do Executivo, que está ainda com plenos poderes.
Para explicar este cenário de que o país se está a transformar num país de salários mínimos dá, como exemplo, 156 ofertas de emprego disponíveis no IEFP para engenheiros civis, eletrotécnicos, mecânicos, agrónomos, etc., cujos salários oferecidos, de acordo com o economista, na sua esmagadora maioria variam entre 760 e mil euros. “Isto são remunerações brutas, antes de descontar para o IRS e para a Segurança Social. Como é que o país assim pode reter quadros qualificados?”, questiona.
E acrescenta: “Não são apenas estas ofertas de empregos com salários muto baixos, divulgados no site de uma entidade pública, que mostra o profundo erro desta política de remunerações, com consequências dramáticas para inovação e modernização do país e para o crescimento económico e desenvolvimento de Portugal”, referindo que “sem trabalhadores altamente qualificados essa modernização e inovação, esse crescimento económico e desenvolvimento será impossível. Além disso, o país despende uma parte importante dos seus recursos em formar nas universidades jovens altamente qualificados que depois o abandonam e vão contribuir para o desenvolvimento de outros países, porque não encontram no seu país remunerações e condições de trabalho dignas”.
Para Eugénio Rosa, uma subida muito elevada do salário mínimo nacional, sem que aumentem os outros salários, agrava ainda mais as distorções salariais. “A remuneração dos trabalhadores mais qualificados é um grave problema nacional que não tem merecido a devida atenção. A situação na administração pública com remunerações praticamente congeladas desde 2009 é dramática, sendo quase impossível a contratação de trabalhadores altamente qualificados e com as competências que necessita”, refere.