Se até há bem pouco tempo andava tudo num rodopio com a preocupação de as prateleiras poderem estar vazias nesta época natalícia, com a possibilidade de deixar o sapatinho dos meninos bem comportados sem recompensa pelas boas ações praticadas durante o último ano, o cenário continuou a piorar com as notícias que davam conta dos aumentos sucessivos dos preços dos alimentos, com destaque para o bacalhau, um dos pratos obrigatórios e preferidos à mesa na consoada dos portugueses.
Mas se a pandemia deu um novo sentido ao lema ‘o melhor presente é estar presente’, também ajudou a relativizar outros problemas, por isso nem o preço do peixinho de eleição iria conseguir tornar-se tão facilmente o desmancha-prazeres dos dias 24 e 25 de dezembro.
Seguimos então motivados, apesar das contrariedades que teimam em passar à frente dos nossos olhos, semana após semana. Mas convenhamos: nem assim equacionámos algum dia colocar mais um Natal em causa. Ou que a chegada da quinta vaga da pandemia, que tem vindo a ganhar cada vez mais força nos últimos dias, fosse capaz de travar as festividades da última semana do ano.
Sobretudo depois do comportamento exemplar dos portugueses na adesão à vacina, que bem sabemos que não é 100% eficaz, mas pelo menos capaz de voltar a garantir algumas liberdades. E conseguiu. Voltámos a jantares de grupos sem precisar de marcar com antecedência duas mesas separadas por metro e meio, a dançar na pista de dança e até a sair de casa sem o sentimento urgente e frustrante de ter de voltar novamente quando esquecida a máscara.
Só imaginar o regresso a algum tipo de confinamento, mesmo que parcial, é suficiente para deitar as mãos à cabeça. Mas vamos acreditar que ainda é tempo de evitar cenários piores.
Afinal, uma posta de bacalhau dá sempre para mais um (como prova a roupa velha do dia a seguir) e o sapatinho também já está habituado a ficar à porta.