O PSD de risca ao meio…

Quer vença Rio ou  Rangel, será improvável que tudo fique na mesma e que o vencedor consiga  arrumar a casa até ao Congresso, a tempo de se apresentar, de ‘alma lavada’, nas legislativas.

Em vésperas das diretas no PSD, medem-se forças, fazem-se apostas nas ‘guerras da sucessão’, e, quer vença Rui Rio ou Paulo Rangel, será improvável que tudo fique na mesma e que o vencedor consiga  arrumar a casa até ao congresso, a tempo de se apresentar, de ‘alma lavada’, nas legislativas em finais de janeiro. 

Só duvidará quem tiver memória curta. A história do partido é rica em disputas internas e.  sem recuar mais, basta lembrar a época em que Rio não escondia «algum desalento» com a governação de  Pedro Passos Coelho, mimando-o com farpas constantes, antes ainda deste aquecer a cadeira em S. Bento. 

Ou seja: já nessa altura, em vez de lamentar o país falido, herdado de Sócrates, Rio atirava-se sem ‘punhos de renda’ contra Passos Coelho, apesar deste estar recém-empossado como primeiro-ministro, num Governo sujeito às exigências da troika, nos termos do acordo assinado pelo seu antecessor, em desespero de causa. 

Ontem como hoje, Rio alterna uma posição de ‘virgem ofendida’ com um estilo truculento, procurando convencer o “povo laranja” de que não há alternativa à sua liderança.

Recorde-se, entretanto, que, por essa altura, também Manuela Ferreira Leite e, até, Marques Mendes se distanciaram e fizeram coro nos reparos, zurzindo no Executivo com um tal vigor que não escapou a Jerónimo de Sousa. Irónico, o líder comunista encontraria uma explicação ‘freudiana’ para esses comportamentos, levando-os à conta de alertas «mais para ajudar do que para desajudar». Viu-se. 

Rio enfrenta agora Rangel, com argumentos muito próximos daqueles que lhe serviram para destratar Luís Montenegro, embora mais ácido na desvalorização do adversário. 

Taxativo, Rio não hesitou em afirmar que Paulo Rangel «não está preparado para ser primeiro-ministro. Não pode ser ministro quem não quer e também quem quer muito».

Lançado o anátema – sem se perceber, contudo, quais são as suas melhores credenciais –, Rio tirou outra carta da manga, ao recusar qualquer campanha interna para as diretas, alegando que o seu ‘foco’, enquanto presidente do PSD, era «preparar o partido para as eleições nacionais e não para a disputa interna». E com isto desprezou o debate, importante para a família social democrata, num momento de viragem com eleições à porta. 

Uma forma hábil de fugir ao frente-a-frente com Rangel, prometendo uma «concentração total e absoluta» contra o PS e António Costa, algo que nunca fez desde que, por alcunha, lidera a oposição.

A estratégia de Rio consistiu sempre, mal eleito, numa aproximação a Costa, com quem, de resto, alimentou uma pública convergência, quando ambos presidiam às duas principais autarquias do país. Ao contrário do que poderia supor-se, Rio há muito que serve de ‘muleta’ ao PS. 

O mesmo Rio que se queixou da oposição interna no PSD, nunca poupou Passos Coelho, enquanto obsequiou Costa com não poucas ‘pérolas’. 

A ‘cereja em cima do bolo’ foi quando propôs que acabassem os debates parlamentares quinzenais do primeiro-ministro, perante a estupefação geral. A bancada socialista rejubilou com a benesse ‘oferecida de bandeja’… e aceitou-a de mão ambas. E o ‘bloco central’ renasceu para aprovar a bizarra proposta de Rio. 

Quem diria que, escassos meses volvidos, Rio daria razão a Costa quando este o acusou, numa entrevista ao Público, de que «não tem pensamento nenhum – ou se o tem esconde-o – sobre qualquer matéria de fundo da sociedade portuguesa». Um enxovalho. 

Apesar da humilhação, Rio ficou-se ‘nas encolhas’, refugiado a norte, silencioso em matérias de fundo, à espera que o Governo caísse de podre.

Quis o destino que o ‘chumbo’ do Orçamento de Estado e a dissolução do Parlamento coincidissem com o reboliço na PSD, devido a um ‘estorvo’ chamado Paulo Rangel, que se atravessou no caminho do líder, conseguindo virar a seu favor o Conselho Nacional do partido. Uma derrota indigesta.  

A partir daí, Rio entrou em ‘roda livre’ e, num desvario, até defendeu o voto dos militantes com quotas em atraso, ‘mandando às malvas’ os princípios. 

É a mesma ligeireza que exibe, ao negociar as listas de deputados, antes mesmo de saber se será reeleito. 
Perante a miragem de substituir o Governo – ou de partilhá-lo numa coligação –, percebe-se a ansiedade de Rio. Se perder as diretas, as cenas seguintes não serão meigas. Rangel que se cuide….

Nota em rodapé: João Gomes Cravinho e Eduardo Cabrita arriscam-se a ficar na história pelas piores razões, dada a forma desastrosa como geriram duas pastas sensíveis, que mexem com a segurança interna e as Forças Armadas.

Qualquer deles deveria ter-se demitido ou ser demitido em nome da dignidade das instituições. Mas continuaram, impassíveis. Sem nunca assumirem culpas nem responsabilidades. Um mistério. Em democracia não vale tudo. Mas as vezes parece…