Foi descoberta uma nova variante da covid-19 na África do Sul e no Botsuana, com "elevado número de mutações", anunciou a diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS) para África, Matshidiso Moeti.
"Fomos alertados ontem (quarta-feira) para a ocorrência de uma nova variante de covid-19, que a OMS classifica como variante em monitorização, a B11.529, acerca da qual precisamos de obter mais informação", disse a responsável na conferência de imprensa online semanal da organização.
Segundo Moeti, "é importante saber até que ponto esta variante se encontra em circulação na África do Sul e no Botsuana", estando a OMS muito atenta ao tentar saber mais sobre as "caraterísticas deste vírus", que neste momento está no centro das preocupações dos laboratórios de análise e investigação daqueles países.
"Há uma preocupação de que apresenta um elevado número de mutações na proteína 'spike' (usada pelo coronavírus para entrar nas células), que poderá ter implicação no seu grau de infecciosidade", explicou Moeti, acrescentando que as medidas de prevenção contra a covid-19 "no terreno têm de ser reforçadas, incluindo a aceleração da vacinação, em particular das populações mais vulneráveis", vincou.
Ainda que o número de novos casos de infeção se tenha mantido relativamente estável nas últimas duas semanas, a diretora da OMS indicou que a "África tem que manter o nível de alerta, à medida que vemos o aumento dos casos na Europa", uma vez que vamos "entrar num período de maior deslocação da população com as festas do Natal e fim do ano, que originou um aumento de casos de infeção em dezembro último".
No entanto, Matshidiso Moeti chamou a atenção: "estamos já a assistir a um aumento de novos casos na África Austral (África do Sul, Angola, Botswana, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícia, Moçambique, Namíbia, Essuatíni, Zâmbia e Zimbabwe), com um aumento de 48% de novos casos de infeção na última semana, em comparação com a semana anterior". Este crescimento destaca-se depois um período de 18 semanas de declínio de novos casos, com uma ligeira curva que ascende apenas na África do Sul.
"Sabemos que a vacina é a nossa melhor proteção, mas enquanto muitos países desenvolvidos apresentam taxas de vacinação na ordem dos 60%, apenas pouco mais de 7% da população africana se encontra com a vacinação completa, apesar do aumento recente da receção de vacinas pelo continente", sustentou a diretora, numa conferência de imprensa, onde foi discutida a baixa taxa de vacinações entre os profissionais de saúde no continente, estando, por conseguinte, exposta à infeção severa de covid-19. "Isto coloca em causa não apenas a saúde destes funcionários como dos pacientes ao seu cuidado", sublinhou Moeti.
De acordo com os dados da OMS, recolhidos em 25 países africanos, apenas pouco mais de 1 em 4 funcionários de saúde (27%) estão totalmente protegidos, contra uma taxa de proteção acima dos 80% em funcionários de saúde nos países mais desenvolvidos, apontou a diretora regional da OMS.
A baixa taxa de vacinação neste grupo específico deve-se parcialmente ao mau funcionamento dos sistemas, em especial nas áreas rurais, mas também às inseguranças e os efeitos secundários das vacinas.
"A desconfiança em relação às vacinas é também um desafio a ultrapassar. Estudos recentes concluíram que apenas 40% dos funcionários de saúde tinham a intenção de ser vacinados no Gana, e menos de 50% na Etiópia", exemplificou Matshidiso Moeti.