António Costa, a Comissão Política Nacional e as federações distritais do PSestão a conseguir passar ‘pelos pingos da chuva’ no sempre conturbado processo de elaboração das listas de candidatos a deputados da Assembleia da República.
É que as eleições diretas do PSD – ou a guerra entre Rui Rio e Paulo Rangel – têm concentrado as atenções dos média e as lutas internas sempre inerentes à feitura das listas vão passando despercebidas.
No calendário definido pela direção socialista, as estruturas distritais do partido têm até 10 de dezembro para apresentar à Comissão Política Nacional as suas propostas com a elencagem dos nomes apontados ao plenário. E o tempo vai passando, sem que transpire para o espaço público e mediático qualquer querela.
Pelos estatutos do PS, cabe à Comissão Política Nacional aprovar as listas de candidatos a apresentar no Tribunal Constitucional. Tendo o secretário-geral uma quota nacional que lhe permite indicar um terço dos membros de cada uma das listas propostas pelas federações.
Depois a Comissão Política Nacional pode ainda avocar as listas das federações nos casos em que discorde dos nomes apresentados pelas estruturas locais.
Assim, ntónio Costa começará a fechar as listas oficiais do partido às eleições de 30 de janeiro na semana anterior à realização do Congresso Nacional dos sociais-democratas, marcado para o fim de semana de 17, 18 e 19 de dezembro. Sendo que o último dia para a entrega do processo (listas elaboradas e devidamente validadas) no Tribunal Constitucional será a segunda-feira imediatamente seguinte, ou seja, 20 de dezembro.
Presidentes de Câmara eleitos ficam de fora
Estando já o processo bem adiantado nas estruturas locais (concelhias e federações), a verdade é que não há notícia nem registo de grande agitação nas hostes socialistas.
E mesmo as orientações do líder e da Comissão Política Nacional, foram recebidas sem qualquer resistência digna de registo – como a ordem para renovar a bancada ou a não inclusão de presidentes de câmara nas listas de candidatos (especialmente atendendo ao facto de as eleições autárquicas terem decorrido há apenas dois meses).
Da mesma forma, o primeiro-ministro estará a acautelar um delicado equilíbrio entre aqueles que conta num eventual futuro Governo (ministros ou secretários de Estado) e aqueles que têm mais o perfil de deputados.
Costa quererá fazer valer a regra da separação de perfis, considerando que nem todos os deputados têm perfil de governantes executivos, e vice-versa – até porque ministro ou secretário de Estado exonerado do Governo e que regressa à Assembleia da República, normalmente foge do protagonismo e perde-se nas últimas filas, longe dos holofotes e das matérias cuja tutela teve de ceder.
Trata-se, claro, de uma regra que, tal como todas as outras, terá sempre exceções: veja-se, por exemplo, o desempenho de Constança Urbano de Sousa como deputada, eleita nas legislativas de 2019, depois de ter abandonado o cargo de ministra da Administração Interna arrasada politicamente no rescaldo dos trágicos incêndios de Pedrógão Grande e de outubro de 2017.
Segundo o Nascer do SOL conseguiu apurar, os socialistas não deverão indicar para as listas de candidatos a deputados a esmagadora maioria dos nomes do atual Executivo – tanto de ministros como de secretários de Estado –, confirmando a preferência do líder e da Comissão Política Nacional em separar as águas entre o labor no Executivo e o trabalho parlamentar ou legislativo.
A idade é só um número?
Nas edições anteriores do Nascer do SOL, avançámos que António Costa decidiu aproveitar estas próximas eleições legislativas para trazer «novos aliados» e «novos protagonistas» ao Governo e à Assembleia da República, por forma a partir para as urnas e para a tentativa de conquista da tão desejada maioria absoluta apresentando-se como líder de uma nova equipa – com ‘novas caras’ – e não com os rostos de quem protagonizou e se desgastou nestes últimos seis anos de Governo.
Recorde-se, por exemplo, que o deputado mais novo do hemiciclo é, mesmo, o socialista Miguel Costa Matos, com 27 anos. Mas a média de idades dos membros da bancada socialista é muito mais alta, e, aos poucos, vão caindo os nomes que não serão mais candidatos à Assembleia da República nas próximas eleições. Ontem mesmo, foi a vez de Eduardo Ferro Rodrigues despedir-se com uma declaração de agradecimento à Mesa e à Câmara.
Confirmada, aliás, está também a passagem à reforma de muitos dos deputados já considerados ‘senadores’ do PS, a rondar ou acima dos 70 anos de idade – como Jorge Lacão, Capoulas Santos ou José de Magalhães.
Há quem justifique esta mexida com uma intenção de António Costa de ‘renovar’ a bancada ‘rosa’ e forçar o tal ‘rejuvenescimento’ do partido e dos seus protagonistas.
Ainda assim, conforme o Nascer do SOL apurou junto de fontes socialistas, há, pelo menos, um nome que não parece estar afastado da candidatura ao plenário, apesar da sua idade. Joaquim Barreto, presidente da Federação Distrital de Braga, deverá ser um dos candidatos socialistas à Assembleia da República, contando 71 anos de idade no dia das eleições. Aliás, Barreto é dos presidentes distritais mais velhos do país. E não será o único, já que ao lado, na distrital de Bragança, também Jorge Gomes é um dos nomes apontados à lista de candidatos socialistas, não tendo ainda confirmado nem desmentido a sua recandidatura ao plenário, numa altura em que conta 70 anos de idade.