«Parece haver uma vontade política de esquecer o 25 de Novembro», disse ao Nascer do SOL uma fonte militar que preferiu o anonimato. Nem o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, ou qualquer representante seu, nem o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, almirante Silva Ribeiro, nem o próprio chefe do Estado-Maior do Exército, Nunes da Fonseca, estiveram presentes numa das poucas comemorações oficiais da data, no Regimento de Comandos da Amadora. Quem não faltou foi o ex-Presidente Ramalho Eanes – que é o principal símbolo do contragolpe que pôs termo ao Verão Quente de 1975 e à tentativa da tomada do poder em Portugal por forças totalitárias –, o qual aguentou a pé firme durante toda a cerimónia, apesar da chuvada que caiu.
A parada militar da Amadora acabou por ser uma cerimónia ‘pífia’, com umas curtas três dezenas de soldados. «Há pouco mais de 200 homens nos Comandos, e 180 estão na República Centro Africana. Estamos reduzidos a isto…», diz outro elemento das Forças Armadas, que lamenta o estado de degradação a que estas chegaram. E adianta: «E não foram os militares que tiveram qualquer responsabilidade nisso nem na degradação que se tem observado da nossa democracia».
Para lá de se tratar de uma data polémica, fontes contactadas pelo Nascer do SOL sublinham a existência de um conflito surdo entre o partido do poder e a própria instituição militar, que vem de longe e de que Mário Soares também foi protagonista. Recorde-se, a propósito, a extinção do Conselho da Revolução na revisão constitucional de 1982, cozinhada entre Soares e Francisco Pinto Balsemão.
«Esse momento é apresentado como um pontapé dado pelos políticos nos militares» – sublinham as nossas fontes –, «como se os políticos tivessem o poder todo e os militares não servissem para nada». Ora, «quem o diz esquece-se que no 2.º Pacto MFA-partidos, assinado em Fevereiro de 1976, já estava prevista a extinção daquele órgão. Os militares já o tinham assumido».
Note-se também que o 25 de Novembro é, desde 1991, o Dia Internacional de Luta Contra a Violência à Mulher, ocupando boa parte do espaço mediático.
Apatia partidária A nível político, as celebrações do 25 de Novembro também se mostraram relativamente pouco efusivas. A Iniciativa Liberal liderou as hostes, celebrando, pela segunda vez, a data, batizando o evento como a Festa da Liberdade. No Porto, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, a edição deste ano foi «especialmente dedicada à juventude», aproveitando o espaço para debater problemas como o desemprego jovem.
«O 25 de Abril derrubou uma ditadura, o 25 de Novembro impediu que fosse imposta sobre os portugueses outra ditadura. São duas datas que todos devemos celebrar, afirmando a Democracia e a Liberdade», referia o partido liberal, antes do evento, numa nota citada pela agência Lusa.
Já o CDS aproveitou a ocasião para defender que a Assembleia da República deveria decretar esta data como feriado nacional e defendeu a criação de uma comissão para as comemorações do 50.º aniversário do 25 de Novembro, presidida por Ramalho Eanes.