António Mendonça. “Os economistas têm de dar uma resposta aos desafios do país”
O candidato defende que a Ordem ou encontra uma forma de se relacionar e de se ampliar no seio dos economistas ou então é melhor ‘fechar as portas’.
“A Ordem existe para ser uma expressão organizada de uma classe profissional que hoje em dia é muito diversificada – temos dos macro economistas, aos economistas de empresa, aos especialistas em questões financeiras, etc. – e a Ordem tem de saber lidar com essa diversidade”. É esta uma das prioridades que o candidato António Mendonça considera importante para os próximos anos.
Mas para isso, no entender do responsável, é preciso que a instituição cresça não só em número de membros – conta atualmente com cerca de 10 mil – mas também em importância, nomeadamente no que diz respeito em dar conselhos em como a economia portuguesa poderá ser alavancada. “O país tem tido dificuldades em assegurar uma trajetória sustentável de crescimento. Queremos mobilizar os economistas nas suas diferentes referências e nas suas diferentes formações e fazê-los convergir não apenas para a análise, para o diagnóstico que, em muitos casos já está mais do que feito, mas encontrar as melhores soluções para dar resposta a esses problemas”, disse numa entrevista ao Nascer do SOL.
Ao mesmo tempo, o candidato defende que é necessário ter coerência estratégica e atuar em conformidade. “É inadmissível que venham os governos e ponham sistematicamente em causa aquilo que os governos anteriores programaram, como também é inadmissível que dentro do próprio partido que tem responsabilidades governamentais quando muda o ministro também mudam as opções e as orientações”. E, nessa matéria, não hesita: “Os economistas têm aqui um papel importante a vários níveis: quer no exercício efetivo das suas diferentes responsabilidades, mas também têm um papel muito importante, no sentido de acompanhar aquilo que são os planos do Governo, da própria zona Euro, no sentido de ter uma palavra a dizer sobre o que está a ser feito, se são projetos com impacto positivo e de monitorizar o desenvolvimento desses projetos. A Ordem e os economistas têm um papel insubstituível nesta matéria”.
Abrir portas O ex-ministro lamenta a ausência da Ordem dos Economistas durante a pandemia e defende uma representação ao mais alto nível. “Vamos reivindicar a participação institucional nos órgãos que acompanham esse plano, à semelhança do que já acontece, em que a Ordem participa, direta ou indiretamente, em outros organismos a nível consultivo”, acrescentando que deve ter uma representação ao mais alto nível, em termos das estruturas que vão acompanhar o desenvolvimento e a aplicação do PRR. “Vigilância no sentido positivo para dar contributo e adicionar elementos que possam ser positivos para o país”, disse na mesma entrevista.
Caso contrário, António Mendonça garante que não faz sentido manter a estrutura em funcionamento. “Uma coisa é falar com o Governo tendo 10 mil sócios, outra coisa é falar com o Governo tendo 20 mil. E quem diz Governo diz outras instituições. Há opções, admito que se possa querer que a Ordem seja um clube e, portanto ser uma organização que aqui e acolá possa dar uma opinião. Mas acho que uma Ordem profissional que agrupa uma classe profissional tão importante como os economistas tem obrigação e tem o dever perante os economistas e sobretudo perante o país ser algo mais: interveniente, influente e ativa.”, salientou.
O candidato promete dar maior importância à parte profissional, apostando na criação de oportunidades de emprego através de plataformas diversificadas para que, sobretudo, os mais jovens, possam aceder a ofertas de emprego. Acena ainda com a mobilização dos colégios de especialidade e investir numa plataforma internacional.
“Se houver mais dinamismo económico também os economistas beneficiam disso, na medida que têm mais oportunidades de trabalho e de aplicar as suas competências. Sou do tempo em que os economistas eram uma espécie de aves raras e hoje em dia há uma panóplia imensa de economistas. Todos os anos há duas ou mais de dezenas de milhares de licenciados por ano. Há aqui um potencial imenso e atração para o Ordem que está a ser desperdiçado”, salientou ao Nascer do SOL.
Pedro Reis. “A ordem tem de estar na rota das decisões e ajudar o país”
O candidato acredita que para introduzir dinâmica, atração e rejuvenescer a Ordem é “absolutamente determinante trazer jovens”.
Quer pôr a Ordem dos Economistas na rota das decisões e ajudar o país na definição de um crescimento económico que dê frutos, ao contrário do que tem acontecido nos últimos anos. Pedro Reis garante que é preciso respostas em relação ao que tem sido feito até agora: “A sociedade, a economia e as empresas têm o direito de exigir de saber porque é que estamos a seguir determinado caminho, para onde estão a ir os nossos impostos, qual o impacto real das decisões que estão a ser tomadas”, disse o candidato à Ordem dos Economistas, numa entrevista ao Nascer do SOL.
Em relação ao facto de avançar para a corrida, remete para uma decisão semelhante à de quando aceitou a liderança da AICEP: “Entendi que o país estava numa situação absolutamente crítica, difícil e, com o meu percurso de empresas, do setor privado, podia ajudar a causa pública”.
E vai mais longe: “Num momento decisivo da economia portuguesa e até do país é fundamental uma instituição como a Ordem – que tem um espaço próprio, independência e responsabilidade – seja capaz de se renovar, reafirmar e repensar. Curiosamente, isso está alinhado com o que se passa no país, até no mundo e na economia. A Ordem não pode passar ao lado deste processo”.
E apesar de reconhecer que a Ordem tem desempenhado o seu papel dentro de um certo estilo, de uma certa agenda e de um certo programa, acredita que é possível mudar a estratégia. “É possível ajustar um novo ciclo a um novo estilo, principalmente num momento decisivo em que temos que repensar o nosso modelo económico, em que há desafios transformacionais para a economia portuguesa e europeia e em que há um pacote de fundos a aplicar. E das duas uma: ou é um pretexto para mudar o paradigma ou é uma oportunidade perdida. Custar-me-ia que a Ordem não tivesse um papel importante na dinamização da discussão pública, na elevação do debate e na profundidade da reflexão. A primeira razão que me fez avançar com a candidatura é servir – através da Ordem – o país. Hoje em dia, cada vez mais, respira-se robustez, precisa-se da saúde e da vitalidade das instituições”, disse na mesma entrevista.
Rejuvenescer a instituição Para Pedro Reis não há dúvidas: é preciso introduzir dinâmica, atração para rejuvenescer a Ordem e, no seu entender, isso é determinante trazer jovens. “Quem estiver sintonizado com as novas gerações está a ler bem a agenda fundamental. Um dos grandes desafios que tenho é conseguir, ao longo do mandato, se for eleito, trazer para a Ordem mais gente nova, muito válida, belíssimos economistas e gestores que têm carreiras e percursos muito diversificados, que estão cá nas suas carreiras académicas, na sua vida profissional, que estão no estrangeiro, estrangeiros que estão a exercer a sua atividade em Portugal e que podem ser membros. Toda essa gente representa ativos fundamentais se quisermos relançar e dinamizar a Ordem”, referiu.
E, para o ex-presidente do AICEP, a Ordem pode ter um papel preponderante e de valor acrescentado para os decisores ou para os para os cidadãos, mas para isso, defende que para esclarecer é preciso digerir. “A Ordem, com a sua capacidade interna de conhecimento – imagine o que é o valor acrescentado e acumulado de 10 mil economistas e gestores, e estou convencido que podemos trazer mais umas centenas ao longo do mandato – pode ajudar na interpretação, na descodificação da informação dos dados, das tendências e dos acontecimentos. Por outro lado, também pode, de certa maneira, ao trabalhar essa informação, encontrar padrões, tentar descortinar tendências e ajudar a marcar a agenda”, afirmou ao Nascer do SOL.
E não hesita em relação ao peso dos economistas para ajudar a aumentar a economia nacional. “Um trabalho que a Ordem pode fazer – não sozinha, mas fazendo parte desse movimento – é de abrir, de arejar o discurso e retirar as discussões da demagogia, da ideologia, da infantilização, colocando a discussão onde deve estar que é com argumentos racionais. Um aspeto que é paradigmático é oferecermos para a discussão pública argumentos e uma análise de custo-benefício das políticas públicas”, acrescentou.