A duas semanas do fim das aulas do primeiro período, o Ministério da Educação continua sem divulgar quantas crianças estão infetadas com covid-19 e em isolamento profilático sem aulas presenciais, mas os dados da Direção Geral da Saúde, analisados pelo i, mostram que este ano o primeiro trimestre de aulas deverá acabar com mais jovens em isolamento do que em 2020.
Só na última semana foram diagnosticados 5700 novos casos de covid-19 em crianças e jovens até aos 19 anos, quando na primeira semana de dezembro do ano passado, tinham sido diagnosticados 4184 casos. A diferença mais notória é nas crianças mais pequenas, que não estão ainda vacinadas e que são o único grupo etário em que a incidência de novos casos de covid-19 supera a que se verificava no ano passado, na altura com tendência decrescente. Na última semana foram diagnosticados mais de 3075 novos casos em crianças até aos nove anos, praticamente o dobro da primeira semana de dezembro de 2020 (1594).
Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, sindicato que apresentou na última semana um requerimento ao Ministério da Educação para acesso à lista de escolas e jardins de infância com casos e o número de turmas em isolamento na última quinzena de novembro, bem como o número global de docentes e trabalhadores infetados ou em isolamento profilático, disse ontem ao i que até ao momento não houve resposta.
Lembrando que o requerimento foi feito ao abrigo do Código de Procedimento Administrativo, que dá às entidades responsáveis 10 dias para responder, o dirigente sindical diz que será “lamentável” se tiver de voltar a ser o Tribunal Administrativo a mandar o Ministério divulgar informação.
Mário Nogueira diz no entanto que o relato que tem chegado das escolas é de uma perturbação idêntica à do ano passado, com os infetados a regressar mais cedo à escola – na maioria casos ligeiros, com alta ao fim de 10 dias, enquanto os contactos colocados em isolamento profilático ficam em isolamento 14 dias. O i também já solicitou nas últimas semanas dados à DGS, que remeteu para o Ministério da Educação, que não forneceu resposta.
Reforço da vacina para professores A Fenprof questiona além disso que medidas foram tomadas para reforço da segurança nas escolas, o que está previsto e foi feito em matéria de testagem regular e se sendo recomendado o teletrabalho, se houve orientações para que reuniões de avaliações de alunos e outras tenham lugar à distância.
Por outro lado, a Fenprof questiona se há planos para que os professores possam ser considerados prioritários para o reforço da vacinação. “No ano passado, também o defendemos mas praticamente até à véspera do anúncio não houve resposta do ministério”, diz Mário Nogueira, lembrando que os docentes, tendo sido prioritários na vacinação no ano passado, já têm na grande maioria a vacinação completa há mais de seis meses.
Diagnósticos continuam a aumentar mas a um ritmo mais lento Na última semana houve um abrandamento no aumento de diagnósticos de covid-19 no país. Os novos casos aumentaram cerca de 20%, quando na semana anterior o crescimento de infeções tinha sido de 34% e nas anteriores de mais de 40%.
Os casos aumentaram em todos os grupos etários (mais nos jovens e adultos dos 40 aos 49) à exceção dos maiores de 80 anos, que começou mais cedo o reforço da vacinação e que é aquele em que se tem registado uma maior diferença na incidência de covid-19 em relação ao ano passado por esta mesma altura, o que se tem traduzido numa menor mortalidade comparando com as mais de 70 mortes diárias registadas no final de novembro de 2020.
Recorrendo aos dados disponibilizados na altura pela DGS é possível concluir que em novembro de 2020 foram reportados no país 150 mil novos casos de covid-19, dos quais 10 mil em pessoas com mais de 80 anos. Já neste último mês de novembro foram detetados a nível nacional 60 mil novos casos de covid-19, quase metade de há um ano, mas no grupo de maiores de 80 anos foram 2075, cinco vezes menos. Em novembro de 2020 morreram em Portugal 2033 pessoas com covid-19, a maioria com mais de 80 anos, e em novembro registaram-se 296 mortes.
Em mais nenhum grupo etário existe uma quebra tão abrupta nos diagnósticos: no caso das pessoas entre os 70 e 79 anos, novembro terminou com cerca de metade dos casos reportados em novembro de 2020 e nos mais jovens diagnosticaram-se agora cerca de 40% dos novos casos de há um ano.
Nas crianças mais novas dos 0 aos 9, novembro terminou com 85% dos novos casos detetados em 2020 mas entretanto, como a tendência de aumento de infeções se mantém, neste grupo etário a incidência supera a do início de dezembro do ano passado.
A grande incógnita é o efeito da circulação da nova variante Omicron, que tudo aponta ser mais transmissível e cujos sintomas têm sido apontados como mais ligeiros na África do Sul, com população mais jovem que a europeia mas também menor cobertura vacinal. Lá os internamentos aumentaram, mais até nas crianças.
Por outro lado, na África do Sul a testagem é menor do que a que tem sido realizada na maioria dos países europeus, o que pode dificultar a contenção de casos: para se ter uma ideia, na sexta-feira foram feitos 68 mil testes no país, com uma positividade de 23,8%, quando em Portugal – que não é dos países que mais testa e tem cinco vezes menos habitantes – têm sido mais de 100 mil nos últimos dias.
No Reino Unido, com 270 casos confirmados por sequenciação genética, foi ontem confirmado que já existe circulação comunitária. Ontem não havia estimativas da prevalência da nova variante em Portugal. As projeções europeias admitem que pode tornar-se dominante, no cenário mais curto, ao longo deste mês, o que coincidirá com o período de festas.