Hong Kong. Ativistas que participaram em vigília condenados a prisão

Decisão é um novo golpe no movimento pró-democracia em Hong Kong, que contesta a Lei da Segurança Nacional imposta por Pequim.

Oito ativistas pró-democracia, entre os quais se inclui o empresário e fundador do jornal Apple Daily, Jimmy Lai, foram condenados, esta segunda-feira, em Hong-Kong, com penas que podem chegar até aos 14 meses de prisão, por participarem ou terem feito parte da organização de uma vigília não autorizada, em 2020, em memória do massacre de Tiananmen, de 1989.

Esta sentença é o mais recente ataque à democracia da ex-colónia britânica onde, devido à Lei de Segurança Nacional, imposta pela China no ano passado, dezenas de ativistas já foram detidos e condenados ou viram-se obrigados a fugir da sua terra natal.

As forças policiais justificaram as detenções argumentado que a vigília não podia ser realizada devido às medidas aplicadas para travar a propagação da pandemia de covid-19. No entanto, os críticos desta lei dizem que isso não passa de um pretexto para impedir as homenagens.

A juíza Amanda Woodcock afirmou que não considerou a postura política dos acusados, mas sim o facto de estes terem “ignorado e desconsiderado uma crise de saúde pública genuína” e “a crença errada e arrogante” que se devia comemorar esta data em vez de proteger a saúde da comunidade, pode ler-se no Guardian.

Entre os condenados, que se declararam não-culpados, estão figuras como a advogada Chow Hang Tung, de 36 anos, a ex-jornalista Gwyneth Ho, de 31 anos, e Lai, de 74 anos, e que já estava em prisão preventiva há um ano.

O magnata da imprensa afirmou que está orgulhoso e disposto a “sofrer o castigo”. “Se recordar aqueles que morreram por justiça é um crime, então culpem-me por este crime e deixem-me sofrer a punição, para que eu possa compartilhar o fardo e a glória daqueles jovens que derramaram sangue em 4 de junho”, escreveu Lai numa carta que foi lida pelo seu advogado, cita a AFP.

Apesar de se ter limitado a comparecer à manifestação em Victoria Park, onde se encontravam milhares de pessoas, e acender uma vela, a juíza afirmou que o comportamento de Lai, devido à sua notoriedade, foi uma “incitação” para participar nesta reunião ilegal.

Woodcock argumentou que aqueles que compareceram na vigília estavam a realizar “um ato de desafio e de protesto contra a polícia”.

Além destes oito, já tinham sido condenados 16 políticos e ativistas, como Joshua Wong, um dos rostos mais conhecidos do movimento pró-democracia de Hong Kong, com penas entre os seis e os dez meses de prisão pela participação na vigília do ano passado.

As vigílias anuais assinalam o massacre de Tiananmen, recordando o dia 4 de junho de 1989, quando o regime da República Popular da China fez avançar o exército para dispersar os milhares de manifestantes concentrados naquela praça que pediam uma abertura política e medidas contra a corrupção.

A ação, organizada pela Aliança de Hong Kong para o Apoio aos Movimentos Patrióticos Democráticos na China, repete-se todos os anos desde 1990, com frases a favor da democracia na China, e acabou por transformar-se num símbolo das liberdades políticas no território semiautónomo.

Pela primeira vez em três décadas, este ano, não se realizaram as comemorações na Praça de Tiananmen evocativas de 4 de junho de 1989, inclusive nos territórios que sempre se rebelaram contra Pequim.