Quando tudo apontava para um final do ano mais ou menos normal – tendo em conta tudo o que se tem vivido até aqui – o número de casos de covid-19 começou a subir e a nova variante Ómicron fez soar alarmes. O Governo tomou medidas e, para evitar grandes aglomerados de pessoas, muitos municípios de norte a sul do país cancelaram os seus festejos.
Ao Nascer do SOL, Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) começa por lembrar que «o mês de dezembro não é exatamente um mês muito forte para a hotelaria». E diz que é, «um balão de oxigénio para atravessar o inverno». Ainda assim, tinha «boas perspetivas para os dois períodos: Natal e Passagem de ano». Com base no que é transmitido pelos associados, refere que «as reservas são sobretudo do mercado interno e do espanhol, mas entretanto com as novas restrições a procura tem vindo a diminuir».
Assim, as perspetivas «são de que, apesar de tudo, o Natal e a Passagem de ano sejam melhores do que no mesmo período de 2020».
Questionada se, face à evolução da pandemia tem sentido alguns cancelamentos, a responsável não tem dúvidas: «Sim, o aumento de casos e as medidas de contenção vieram trazer alguns cancelamentos, sobretudo nos jantares e almoços de Natal, quer de famílias quer de empresas. Com isso a procura diminuiu o que fez com que exista uma quebra nas reservas para os dois períodos».
E se o Governo chegar a avançar com novas restrições – apesar de Cristina Siza Vieira acreditar que não –, «estaremos perante uma situação muito complicada para a hotelaria nacional».
E acrescenta que há situações que são particularmente preocupantes como é o caso de no norte e no Algarve, onde as Autoridades de Saúde Regionais Locais estão a desaconselhar a realização de eventos que promovam a aglomeração de pessoas. «Este anúncio feito esta semana já começou a trazer cancelamentos à hotelaria. Quer no Algarve, maior região turística nacional onde os cancelamentos, a continuarem, trarão grandes prejuízos à economia da região e ao país, quer no norte», finaliza.
Lisboa: impacto negativo
Vítor Costa, diretor geral da Associação Turismo de Lisboa (ATL) e presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa não tem dúvidas que «há um abrandamento da recuperação que se tem vindo a sentir desde meados do verão, incluindo cancelamentos de reservas nos setores do alojamento e da restauração, devido à última vaga da pandemia», diz ao Nascer do SOL. Assumindo que esta não é uma consequência exclusiva das medidas impostas pelo nosso Governo, Vítor Costa diz que «resulta também do clima geral nos mercados emissores europeus e das diversas restrições adotadas pelos respetivos governos».
Vários municípios cancelaram os festejos de Ano Novo e o responsável assume que estas cancelamentos «têm, naturalmente, um impacto negativo ao nível da atração turística». E acrescenta: «As vicissitudes da situação epidemiológica geraram, por sua vez, uma maior ponderação por parte dos municípios quanto às iniciativas inicialmente propostas para esta altura. Em alguns casos tratam-se de medidas reativas, também fruto da pressão pública que vivemos».
Questionado sobre como está a taxa de ocupação na região para a altura da última noite do ano, Vítor Costa diz que «estamos num processo de recuperação que se viu agora abrandar por ocasião da mais recente vaga pandémica, que influenciou os mercados nacionais e internacionais». Assim assim, há a esperança que 2021 tenha «um melhor desempenho face ao período homologo, estando certos de que este permanece longe do desejável».
Algarve: ‘Temos hotéis que esperam casa cheia’
No Algarve, a garantia está dada: «Temos todas as condições para receber as festividades e os encontros das pessoas, mas em segurança até porque temos protocolos sanitários bastante apertados». Quem o diz é João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve. Por isso, não só para o Ano Novo as perspetivas são boas, como também o são para o Natal. «Atualmente o que está a acontecer é uma grande procura para o Natal e Passagem de Ano», diz ao Nascer do SOL, acrescentando que, se na Passagem de Ano esta procura é habitual, no Natal «ela resulta de uma tendência crescente dos últimos anos em que muitas pessoas optam por vir em família passar a consoada fora das suas casas».
Feitas as contas, o Algarve tem já «alguns hotéis que esperam casa cheia», lembrando, no entanto, que neste período, a região não tem toda a oferta disponível. E «face a um ano com 2019, o que me contam é que estamos com níveis próximos do que seria um ano normal para a passagem de ano». Mas há mais: a semana sem aulas e de teletrabalho obrigatório decretada pelo Governo depois das festividades leva a que muitos portugueses prolonguem a sua estadia por terras algarvias. Principalmente portugueses, uma vez que, «o mercado nacional tem sido claramente o grande motor do desempenho do Algarve», lembrando ser natural que este ano não se conte tanto com o mercado externo.
No Algarve todos os municípios cancelaram os festejos de fim de ano mas o responsável garante: «Há pontualmente alguns cancelamentos como também há novas reservas. Não há aqui um fenómeno de dimensão expressiva de cancelamentos resultado do cancelamento das festividades».
Alentejo: Taxas de ocupação muito boas até agora
No Alentejo, as restrições e o cancelamento de vários festejos não afastaram pessoas. «Está cheio», garante ao nosso jornal Vítor Silva, presidente do Turismo do Alentejo e Ribatejo, que também viu vários municípios a cancelarem as festividades, ainda assim, garante que região continua a ser procurada. «As unidades hoteleiras e o turismo rural têm taxas de ocupação muito boas até agora». E «é só quase portugueses», diz, mas «nesta altura do ano é normal».
As boas perspetivas estendem-se também ao Natal «porque há muitas unidades hoteleiras que abrem para o Natal porque, às vezes, há famílias numerosas que vêm passar a consoada numa unidade hoteleira e turismo rural».
Turismo rural que, aliás, principalmente na zona do litoral, está cheio. «Neste momento para a passagem do ano é quase impossível encontrar algum sítio vazio. As unidades maiores têm mais disponibilidade. As mais pequenas é quase impossível. Principalmente aquelas que servem o jantar ou onde é possível cozinhar», diz o responsável.
Se vai ser melhor que no ano passado, Vítor Silva não sabe dizer até porque esta altura, há um ano, «também foi muito boa».
Centro: Destinos com taxas de ocupação assinaláveis
Questionado sobre se as medidas de restrição vão afetar esta época festiva, Pedro Machado, presidente do Turismo Centro de Portugal não tem dúvidas: «Certamente que sim, como não poderia deixar de ser». No entanto, diz que não são apenas as medidas de restrição: «São os receios das pessoas face à nova variante da pandemia que estão a fazer aumentar os cancelamentos».
E, com os cancelamentos das festas por parte de vários municípios da região, a situação piorou. «Uma coisa está intimamente ligada à outra. Os cancelamentos de festas públicas está na origem de cancelamentos de reservas», confessa Pedro Machado. No entanto, nem tudo são más notícias. Apesar disso acredita que «é possível que este período registe números mais positivos do que os do ano passado».
Sobre zonas e nacionalidades, Pedro Machado diz que só uma análise mais aprofundada o poderá dizer mas «há destinos na região centro que se destacam pela positiva nas taxas de ocupação». Falamos da sub-região Beiras e Serra da Estrela que «apresentam taxas de ocupação assinaláveis, com a indicação de que muitas unidades estão com a lotação esgotada, ou muito perto disso, para a passagem de ano».
Já nas nacionalidades, o destaque vai para os portugueses mas também para os espanhóis.
Porto e Norte: Incerteza na procura turística
Para Luís Pedro Martins, presidente do Turismo Porto e Norte, com os dados que existem neste momento, é possível «acreditar que os índices de atividade turística no Natal e na Passagem de Ano deste ano sejam superiores aos dados de 2020».
No entanto, as restrições e a evolução da pandemia podem ser um problema. «Caso não tivesse surgido esta nova variante, o desempenho do destino Porto e norte esperava-se francamente positivo», diz o responsável ao Nascer do SOL.
O responsável garante que, de acordo com o feedback que vai tendo da hotelaria da região «tem verificado uma oscilação no comportamento das reservas de alojamento, isto é, há cancelamentos, mas ao mesmo tempo são feitas mais reservas».