Omicron. Infeções explodem em Lisboa e resto do país vai poucos dias atrás

Diagnósticos são mais do dobro de há uma semana em Lisboa e deverão chegar a 5 mil por dia em pouco tempo.

Os efeitos da nova variante Omicron, mais transmissível, já se estão a fazer sentir em força no ritmo de novos contágios na região de Lisboa. A semana arranca com mais do dobro dos diagnósticos diários do que na semana passada nesta região, numa altura em que a Omicron já representa mais de metade dos novos casos que estão a ser diagnosticados em Portugal, com uma prevalência já superior em Lisboa e Vale do Tejo, além de Madeira e Açores, apurou o i. O ponto de situação sobre a nova variante foi feito ontem pelo INSA, que descreveu uma progressão da nova variante sobreponível ao que se passa no Reino Unido e na Dinamarca. Mas a “explosão” de infeções para que alertou no último fim de semana publicamente André Peralta Santos, antigo responsável da Direção Geral da Saúde, começa a ver-se agora nos diagnósticos em Lisboa.

Analisando os dados ontem reportados pela DGS, referentes aos diagnósticos de segunda-feira, pode ver-se que em relação à segunda da semana passada, aumentaram 135% na região de Lisboa e Vale do Tejo, para mais de 2 mil casos diários, enquanto que a subida no centro e Norte está na casa dos 20%, no Alentejo de 40% e no Algarve de 12%, calculou o i. Até ao fim de semana, as projeções apontam que as infeções continuem a disparar e no caso de Lisboa está-se à espera de uma média diária de 5 mil novos casos dentro de sete dias, com as restantes regiões três ou quatro dias de “atraso” na progressão da variante. Quando se fala de média diária, significa que em alguns dias Lisboa poderá ter um número de diagnósticos superior, algo que no final da semana poderá ser menor captado por ser feriado, com menor atividade nos laboratórios e farmácias – um dos problemas para a monitorização da epidemia que se vai colocar esta semana e na próxima. Em termos de incidência, Lisboa descolou-se no entanto do Norte e já superou a barreira dos 700 casos por 100 mil habitantes a 14 dias, mantendo-se a incidência maior no Algarve (975), onde se vive ainda uma situação epidémica dominada pela Delta.

Para já, nos hospitais da grande Lisboa, que serão os primeiros a poder perceber as consequências da explosão de infeções ligadas à Omicron, não há sinais de aumento de internamentos, mas fontes hospitalares ouvidas pelo i antecipam semanas difíceis, quer pela incerteza em torno do impacto da nova variante – segundo afirmou ontem o primeiro-ministro, mais de 83% da população já tem doses de reforço, o que poderá mitigar a doença – quer pelo facto de os hospitais estarem com níveis de ocupação em enfermaria ao nível dos invernos normais, quando no ano passado a atividade não covid foi fortemente penalizada pela necessidade de abrir alas para pôr doentes infetados. Com mais doentes, a folga é menor para deslocar equipas. O aumento exponencial das infeções trará também maior absentismo. Fernando Maltez, diretor de infecciologia do Hospital Curry Cabral, disse ontem ao i não se notar um aumento de internamentos nos últimos dias e, concordando com as novas medidas, considera que podem “pecar por tardias”.

O que esperar Analisando a situação epidemiológica, Óscar Felgueiras, da equipa que apresentou ao Governo propostas de desconfinamento e agora também propostas para conter a transmissão, diz que o aumento de casos que se está a verificar em Lisboa será já resultado do aparecimento da nova variante. “Os dados do INSA mostram que esta variante está a duplicar em pouco mais de dois dias. Enquanto é pouco prevalente, o seu impacto no número de casos não é muito notório. Mas à medida que se torna dominante, algo inevitável devido à sua vantagem de transmissão em relação à variante Delta, o tempo de duplicação de casos vai diminuindo e aproximando-se dos tais dois dias”, explica ao i.

“Aquilo que se espera é que, mantendo este ritmo de crescimento, a variante ao ultrapassar a fasquia de 50% de prevalência numa região causa uma duplicação de casos a cinco dias. No continente, a região de Lisboa poderá ser a primeira onde este efeito é visível mas, em princípio, as outras regiões estarão apenas alguns dias atrás”, sublinha, adiantando que é natural que no Algarve se demore um pouco mais a notar por causa da elevada incidência de infeções que havia já com a variante delta. Mas mesmo aí a Delta está a decrescer e a Omicron acabará por dominar. E pode o aumento de testagem explicar esta subida? Fazem-se mais testes do que há um ano, com menor positividade do que à época, mas esta também tende a aumentar. “Acima de tudo, é algo que contribui para atenuá-la por ajudar à quebra das cadeias de transmissão”, diz ao i o professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, revelou ontem que é nos jovens que parece estar a verificar-se em primeiro lugar a força da Omicron. “Na região de LVT está a começar fortemente nas faixas etárias dos 20-29, 30-39 e 10-19 anos, embora em termos gerais ainda não seja percetível uma transmissão compatível com esta variante”, afirmou. “A boa notícia é a menor prevalência em UCI face à vaga de julho, muito graças ao reforço vacinal. Apesar de um maior nº de casos que se verifica agora (cerca de 4 mil) comparativamente a Julho (cerca de 3 mil), temos menos camas em UCI, onde 90% estão ocupadas pelas faixas de 40-79 anos.”