O deputado de esquerda Gabriel Boric, de 35 anos, apoiado pela Frente Ampla e pelo Partido Comunista, venceu a segunda volta das eleições presidenciais no Chile ao obter mais de 55,18% dos votos, com 68,7% das mesas escrutinadas, tornando-se assim o novo Presidente do país da América do Sul.
O seu opositor, o advogado de extrema-direita José Antonio Kast, com 44,92% dos votos, que teve laços com a ditadura de Pinochet, reconheceu a vitória do ex-líder estudantil.
Boric, de 35 anos e líder da Frente Ampla, representa parte da sociedade chilena que quer «mudanças profundas» e participou nos massivos protestos pela igualdade de 2019: quer melhores pensões, educação, saúde e põe muita ênfase no ambientalismo e no feminismo. «Somos unidade. Somos esperança. Somos mais quando estamos juntos. Seguimos!», escreveu na sua conta pessoal de Instagram.
Esta vitória não está a ter apenas repercussão no Chile, com a a esquerda latino-americana, que juntou o Chile ao grupo de países da região que se deslocaram para esta tendência política, a celebrar a vitória de Boric.
O presidente do Peru, Pedro Castillo, que assumiu a presidência daquele país em julho passado, representando o partido marxista Peru Libre, escreveu que este é um triunfo partilhado pelos «povos latino-americanos» que querem «viver com liberdade, paz, justiça e dignidade».
Quem também felicitou Boric foi o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, favorito para ganhar as próximas eleições do Brasil. «Felicito o camarada Gabriel Boric pela sua eleição como presidente do Chile», disse Lula, que nas eleições de outubro de 2022 pretende derrotar Jair Bolsonaro.
A vitória de Boric no Chile pode ter impacto nas eleições brasileiras com analistas a considerem que a eleição de Gabriel Boric reforça o domínio da esquerda na América Latina e ajuda na provável candidatura de Lula às presidenciais brasileiras.
«Com o triunfo de Gabriel Boric, estamos diante de um novo domínio da esquerda na América Latina, sobretudo se considerarmos que nas próximas eleições na Colômbia e no Brasil, os favoritos são candidatos de esquerda que se veem ainda mais beneficiados pelo resultado eleitoral chileno», disse à RFI o cientista político peruano, Carlos Meléndez, da Universidade Diego Portales do Chile e especialista em análises comparadas entre os países da região.
«O derrotado Kast era um aliado de Bolsonaro. A direita demonstra não ter uma estratégia ganhadora nas eleições e inclinar-se ao extremo não funcionou no caso do Chile. Agora, ao assumir a Presidência, o vitorioso Boric passará 2022 falando a favor de Lula no Brasil», explicou o sociólogo Patricio Navia, analista político da chilena Universidade de Diego Portales e da norte-americana New York University.