Paulo Macedo com ok para novo mandato

Assim que o CEO assumiu a liderança em fevereiro de 2017, o banco público regressou aos lucros. Este ano não foi exceção ao lucrar 429 milhões de euros até setembro.

O Governo já elegeu o novo conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) para o mandato 2021-2024, depois de ter sido concluído o processo de avaliação (fit and proper) por parte do Banco Central Europeu, na sequência da proposta remetida em 29 de julho de 2021 ao Banco de Portugal. Paulo Macedo foi reconduzido no cargo de CEO, já o chairman será António Farinha Morais que irá substituir Rui Vilar, após ter mostrado indisponibilidade em continuar no cargo, ao afirmar que era «altura de virar a página» e de renovar a equipa.

«A nova composição do conselho de administração da CGD assenta numa estratégia de continuidade, com alguns elementos de renovação, nomeadamente o chairman, com vista a salvaguardar a estabilidade da gestão e a prossecução dos bons resultados nos próximos anos. A escolha dos novos administradores ou a sua recondução pautou-se por critérios de competência, elevado sentido de interesse público, independência e valores éticos», disse o ministro das Finanças, em comunicado. 

João Leão chamou ainda a atenção para o facto de o banco público ter regressado nos últimos anos «a níveis de rendibilidade que permitiram iniciar a retribuição aos portugueses do esforço de recapitalização, com o pagamento, já este ano, de um dividendo extraordinário de 300 milhões de euros», ao mesmo tempo que, aumentou os seus rácios de capital, «tendo hoje rácios superiores à média em Portugal e noutros Estados-Membros da União Europeia, e que lhe permite enfrentar a situação pandémica em melhor posição com pares nacionais e europeus».

O governante recordou ainda que em abril, a administração da Caixa concluiu com sucesso o plano de reestruturação, o que contribui para a estabilidade e confiança do sistema financeiro, para a proteção da poupança dos portugueses e para o financiamento das empresas e das famílias.

E deixou uma palavra em relação ao futuro: «Estou confiante de que o novo conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos assegurará com o maior sucesso a estabilidade financeira da instituição, contribuindo para solidez do nosso sistema financeiro, para a promoção da poupança, para a competitividade da nossa economia, através do financiamento das empresas e das famílias».

Reviravolta nos resultados

É certo que, desde o início, Paulo Macedo tinha mostrado disponibilidade em manter-se no cargo. Para trás ficaram anos e anos de prejuízos, declarações como a do ex-administrador José de Matos (que assumiu a liderança da Caixa em 2011) que chegou a comparar o banco público a um «petroleiro difícil de mover» e a polémica autoria da EY à gestão da CGD entre 2000 e 2015 que obrigaram o banco dirigido por Paulo Macedo a fazer profundas alterações: implementar um novo modelo de análise do risco na concessão de crédito, reforçar a independência do responsável máximo pela gestão de risco e criar um rating para fortalecer o controlo das carteiras de crédito a empresas.

Assim que Paulo Macedo assumiu a liderança em fevereiro de 2017, o banco público regressou aos lucros. Nesse ano, a Caixa registou um resultado positivo de 52 milhões de euros, indo ao encontro da promessa do CEO: o banco público só teria resultados positivos quando toda a reestruturação fosse materializada. Um ano, em que a instituição financeira se comprometeu em avançar com «medidas profundas de redução de custos» e com a reestruturação das operações internacionais. Em causa estava a diminuição de 2218 trabalhadores e o fecho de 181 balcões.

No ano seguinte, os lucros do banco liderado por Paulo Macedo quase multiplicaram por dez ao atingir os 496 milhões de euros. Um aumento que levou Rui Vilar a garantir que tinha regressado à remuneração acionista. Em causa estava a atribuição de dividendos na ordem dos 200 milhões de euros.

O ano de 2019 marca a CGD ao apresentar o melhor resultado de sempre. A instituição financeira lucrou 776 milhões de euros, o que representou um aumento de 56,5% face ao ano anterior, altura em que apresentou 496 milhões de euros.

A instituição financeira justificou parcialmente o bom desempenho com «o resultado extraordinário de 144 milhões de euros» relacionado com a venda de subsidiárias internacionais, nomeadamente o Banco Caixa Geral (em Espanha) e o Mercantile (em África do Sul). Estas vendas permitiram à CGD a «reversão de imparidades» que tinham sido constituídas em 2017.

O mesmo cenário repetiu-se no ano passado ao apresentar lucros de 492 milhões de euros, ainda assim, representa uma queda de 36,5% face ano anterior. O banco público reconheceu que esta queda se deve aos efeitos da pandemia, o que obrigou a instituição liderada por Paulo Macedo a constituir imparidades de 300 milhões de euros. 

«Sem a consideração desse resultado e de custos de reestruturação incorridos com a redução do quadro de pessoal e o encerramento da sucursal de Espanha, o resultado líquido corrente atinge 450 milhões de euros», explicou, na altura.

Para já, 2021 também está a ser positivo para o banco público. Nos primeiros nove meses do ano aumentou os resultados em 9,4% para 429 milhões de euros. 

No final de setembro, a Caixa tinha 6189 empregados, menos 55 do que os 6244 de final de 2020. Já face a setembro de 2020, a redução é de 220 trabalhadores. Em termos de rede comercial, no final de setembro a CGD tinha 543 agências, menos 13 do que no final do ano passado.

Sindicatos na expectativa

Em cima da mesa continuam ainda as negociações à volta da revisão salarial. A CGD propôs um aumento salarial médio de 0,4% para 2022, mas o Mais Sindicato e o Sindicato dos Bancários do Centro rejeitaram a proposta. Agora com a luz verde em relação à nova administração, o Mais Sindicato garante que continua em negociações com o banco público no âmbito do processo de revisão salarial de 2021 e garante «que o diálogo não está esgotado» e, como tal, «tudo fará para que as remunerações dos trabalhadores sejam melhoradas».

Mas deixa uma garantia: «Caso o objetivo não seja atingido, não hesitará em recorrer a todas as outras vias ao seu dispor. Mas este ainda não é o momento», acrescentando, entanto, que não pretende a rutura e tudo fará para que muito em breve os trabalhadores sejam recompensados.